Nos checos chuta Schick

O melhor jogador da República Checa ponderou trocar o futebol pela moda, mas preferiu ser Schick do que chique. E vai ser, nesta terça-feira, um problema para os defensores portugueses.

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Patrik Schick, jogador da República Checa MARTIN DIVISEK / EPA
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Muito do que possa fazer a República Checa neste Europeu, em geral, e frente a Portugal, em particular, depende do que sair do pé esquerdo de Patrik Schick. Senhor de muitas consoantes, como boa parte dos seus colegas, sugere um uso abusivo do apelido para efeitos de aliteração futebolística: é que são uma chatice os chutos do checo Schick.

O avançado do Bayer Leverkusen é, a par de Soucek, o jogador mais renomado desta selecção e chega ao Europeu com bons níveis físicos – com ritmo, mas sem desgaste excessivo –, além da motivação de poder aproveitar, a seguir ao Verão, a provável saída de Victor Boniface do Bayer para convencer Xabi Alonso a entregar o ataque a um checo talentoso.

E que fique claro desde já: Schick está longe de ser um protótipo de Poborsky, Nedved ou Rosicky, grandes talentos checos deste século, mas também está bem longe de Jan Koller, figura de ponta-de-lança que poderá vir à cabeça de quem imagina um avançado checo.

Quanto ao “chique” Schick, é simples: chegou a ponderar deixar o futebol por uma carreira de modelo, seguindo as pisadas da irmã. Mas ele preferiu ser Schick do que chique, portanto, voltemos ao futebol.

Virtudes variadas

Os problemas que este jogador pode trazer a Portugal advêm da conjugação de força física com dotes técnicos, combinação que levou Pavel Nedved a comparar Schick a Zlatan Ibrahimovic.

O próprio Schick reconhecerá a audácia da comparação, mas, a nível de características, as parecenças existem. “Tem grande técnica, é grande e é rápido”, justificava Nedved.

Com 190 centímetros de avançado, a República Checa pode utilizar Schick como referência para bolas longas, pelo poder físico do jogador; pode usá-lo em apoios frontais, pela técnica apurada; e pode solicitar-lhe ataque ao espaço, pela velocidade que tem.

Isto equivale a dizer que, para os defensores portugueses, um jogador deste tipo obrigará a valências diversas: António Silva, forte a carregar pelas costas em avançados que jogam em apoio, Pepe, forte a ir controlar o espaço pela velocidade, Rúben Dias, forte nos duelos aéreos, e Gonçalo Inácio, forte a explorar a falta de pressão de um jogador pouco voluntarioso sem bola.

Em suma, todos têm virtudes úteis para lidar com um jogador deste tipo, ainda que certamente não vá haver titularidade para todos eles.

Transferência falhada e flop

Nesta fase da carreira, aos 28 anos, Schick já pode ser considerado um jogador abaixo das suas possibilidades.

As virtudes já elencadas neste texto foram identificadas ainda muito cedo na carreira deste checo, que tarda em alcançar o nível que se esperou – e, possivelmente, já não o fará.

Só uma vez passou os 15 golos numa temporada, mesmo que logo na primeira de Série A, em 2017, pela Sampdoria, os 11 golos já tenham sido suficientes para ter meia Europa de olho.

Acabou em Roma e foi um redondo flop na capital italiana, com cinco golos no campeonato, em duas temporadas. Chegou a dizer que a Roma era uma pressão diferente e a dificuldade em lidar com a pressão não era nova. Em criança, lidava mal com a presença do pai na bancada dos seus jogos.

“Ele vivia demasiado os meus jogos e quando eu fazia asneiras olhava para ele e via-o com as mãos a tapar a cara. Isso deixava-me nervoso. Com 12 anos, joguei um torneio pelo Sparta e a dada altura ouvi o meu pai a gritar-me qualquer coisa. Virei-me para ele e mostrei-lhe o dedo do meio”, contou, citado pelo Guardian.

Baía e Poborsky

No Bayer Leverkusen, até pelas lesões, Schick já teve grandes anos, maus anos e anos assim-assim. O último, no título alemão, foi dos assim-assim.

Foi campeão e ajudou com 13 golos, mesmo não sendo titular, mas acabou por ter um papel secundário na equipa de Xabi Alonso, atrás do nigeriano Victor Boniface.

A talhe de foice, voltando a Portugal, convém lembrar que Schick marcou um golo tremendo no Euro 2020, com um chapéu do meio-campo à Escócia, e também tem um golo incrível pela Sampdoria, replicando um famoso golo do neerlandês Dennis Bergkamp, com um drible de costas, em rotação sobre o adversário.

Estes predicados técnicos sugerem que há, na equipa checa, alguém muito dotado e capaz de golos hercúleos. Convém, portanto, que Diogo Costa se lembre de Vítor Baía e de Karel Poborsky.

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