Portugal preparado para a viagem sem pensar no destino

Portugal inicia hoje o voo no Europeu de futebol, em Leipzig, com a ambição que o talento permite, mas com cautelas no discurso. “O máximo nível só poderá chegar ao fim de três jogos”.

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Pepe e Ronaldo, muito elogiados pelo seleccionador, no relvado da Leipzig Arena MIGUEL A. LOPES / EPA
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Chegou o momento da descolagem. Com os 26 passageiros a bordo, a que se junta um generoso grupo de assistentes de cabina, a selecção portuguesa de futebol inicia esta noite (20h, RTP) o voo no Euro 2024. Para já, a rota aponta apenas a Dortmund, paragem que se segue na fase de grupos. Berlim? Bem, Berlim é todo um outro itinerário, que só começará a ser estudado a partir de dia 26, se o plano de voo inicial for cumprido.

Os dois pilares que perpassam a sala de conferências de imprensa da Leipzig Arena são um obstáculo visual entre os protagonistas e muitos dos jornalistas que acorreram à antevisão do primeiro jogo de Portugal. É sinal de que a procura foi muita e que a “bancada central” foi insuficiente. Será também sinal de que é encarado como um dos favoritos? “Não acho que sejamos”, atira Ruben Dias. “Precisamos de acreditar”, atalha Roberto Martínez.

A informação é preciosa em momentos como este e mantê-la num círculo fechado é uma prioridade para o seleccionador. Como vai jogar Portugal diante da República Checa? “Só precisam de esperar 24 horas. É muito claro o que queremos fazer, mas ainda não falei com os jogadores.” Falou com um, na verdade, como revelaria logo a seguir. “Posso dizer só que o Diogo Costa vai estar na baliza. Os guarda-redes precisam de uma preparação diferente antes dos jogos.”

Balneário único

Falta confirmar a identidade dos restantes 10 titulares, mas enquanto não são divulgados os “onzes” iniciais (algo que acontecerá sensivelmente uma hora antes do pontapé de saída), ficamos a saber que todos os jogadores estão aptos e que a simbiose entre experiência e juventude “é essencial”. “Cristiano e Pepe dão-nos uma experiência que não existe noutro balneário, e depois temos João Neves e Francisco Conceição, que estão a mostrar uma influência importante para nós durante os jogos. Essa mistura é necessária.”

Roberto Martínez já tem o seu quinhão de experiência em fases finais de torneios de selecções, com a Bélgica, e conhece bem o peso da gestão de expectativas. Qualquer adepto que olhe para a composição do Grupo F atribuirá, por decreto, o favoritismo a Portugal e muitos estendê-lo-ão à totalidade da prova, mas o seleccionador rejeita análises apressadas, com alguma habilidade.

“Ainda não temos o máximo nível, o máximo nível só poderá chegar ao fim dos três jogos”, enquadra. “Precisamos de sonhar, de acreditar, mas também temos a responsabilidade de jogar bem. O jogo de amanhã [hoje] é o momento para mostrar trabalho, mas depois dos três primeiros jogos podemos avaliar se podemos ir mais longe ou não.”

No fundo, é o guião que qualquer treinador seguiria se estivesse na pele de Roberto Martínez. Já o guião para o jogo é toda uma outra história. Portugal entrará com uma linha defensiva a três ou a quatro? A segunda hipótese prevaleceu nos últimos jogos oficiais, mas diante da Irlanda, antes da viagem para a Alemanha, foram recuperados os três centrais. E a República Checa, como se organizará? Ivan Hasek, o seleccionador, leva apenas quatro partidas no cargo, todas de preparação, tendo alternado, lá está, entre uma linha de três e uma de quatro. E também ele, como é fácil imaginar, se fechou em copas na antevisão.

Sete camisas

Os checos apuraram-se para todos os Europeus desde o início do século, mas, com excepção do tal jogo do Euro 1996 (1-0, com golo de Poborsky), têm sofrido às mãos da selecção portuguesa. Sem uma geração especialmente talentosa (o médio Tomas Soucek, do West Ham, é a correia que mantém a bicicleta checa em andamento), terão nas bolas paradas ofensivas e nas transições rápidas os principais argumentos. Isto se Portugal, como se espera, dominar o jogo com bola e tomar conta do último terço. Mas Martínez está preparado para um adversário mais corajoso.

“O estilo da República Checa é muito claro. Já joguei contra eles três vezes, a estrutura táctica pode mudar, mas o estilo não. Gostam de pressionar e a formação individual dos jogadores marca o seu estilo como selecção. Jogam para ganhar, gostam de correr riscos e será um jogo fantástico para os adeptos”, antecipa.

Seja como for, Portugal precisará de defender de forma mais competente a profundidade do que mostrou diante da Croácia, mas terá essencialmente de definir melhor os timings e zonas de pressão. Até porque os defesas checos (Holes, Hranac e Krejci, se alinharem em 3x4x1x2) não têm a qualidade dos croatas na saída de bola e, em tese, serão mais permeáveis.

No último embate de preparação, Cristiano Ronaldo foi relevante nessa missão, a partir da direita, em vez de ocupar o centro do ataque, como tem sido norma. Mas se se confirmarem Bernardo Silva e Rafael Leão no “onze”, é pouco provável que o capitão da selecção fuja do habitat natural. Ele que, faça o que fizer, mal o árbitro apite consolidará (mais uma) marca no futebol, ao tornar-se no primeiro jogador a participar em seis edições de um Europeu.

Mesmo repisando a ideia de que é o rendimento e não o estatuto que mantém Cristiano entre as principais escolhas, reforçando que marcou 51 golos nesta temporada (sim, na Arábia Saudita), o seleccionador garante que não dá relevância a números ou superstições. Até porque nasceu numa sexta-feira 13. Mas lá revelou que levou sete camisas na mala para a Alemanha. E não apenas três.

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