Redes sociais devem ter alertas de perigo para adolescentes, diz cirurgião-geral dos EUA

Vivek Murthy não tem poder para aprovar leis, mas pode influenciar o Congresso a tomar decisões. Até lá, pede aos pais que limitem o tempo que os adolescentes passam nas redes sociais.

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Adolescentes norte-americanos passam em média 4,8 horas por dia nas redes sociais ROBIN WORRALL/UNSPLASH
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O principal responsável pela divulgação de riscos para a saúde pública nos Estados Unidos anunciou, nesta segunda-feira, que pretende propor a introdução de avisos de perigo nas redes sociais, já que estas plataformas podem prejudicar a saúde mental das crianças e adolescentes. Vivek Murthy, que é o cirurgião-geral dos EUA, um cargo comparável ao director-geral de Saúde em Portugal, não tem poder para fazer aprovar a lei, mas poderá influenciar o Congresso a tomar acções.

O anúncio foi feito num artigo de opinião publicado pelo The New York Times, onde explica que o objectivo seria que as aplicações emitissem um alerta aos pais de que “aquela rede social não é comprovadamente segura”. Os avisos seriam como os que existem nas embalagens de tabaco ou de bebidas alcoólicas, exemplifica. Contudo, para já, não foi apresentada qualquer medida no Congresso sobre este tema.

No mesmo artigo, publicado um mês depois de ter escrito um relatório de 25 páginas sobre o tema, o cirurgião-geral alerta para o risco de saúde pública das redes sociais, que compara aos acidentes de viação. “Porque é que não conseguimos responder aos danos das redes sociais quando estes não são menos urgentes ou generalizados do que os causados por carros, aviões ou alimentos inseguros?”, escreve.

Mas não põe a culpa nos pais: “Estes danos não são uma falha da força de vontade e da educação dos pais; são a consequência da libertação de uma tecnologia poderosa sem medidas de segurança, transparência ou responsabilidade adequadas.”

Vivek Murthy evoca os estudos científicos que dão conta que os adolescentes que passam mais de três horas nas redes sociais têm riscos acrescidos de problemas de saúde mental. De acordo com um inquérito da Gallup, citado pelo The New York Times, os adolescentes norte-americanos passam, em média, 4,8 horas por dia em plataformas como o YouTube, o TikTok ou o Instagram.

No relatório publicado no mês passado, o médico pedia às empresas de tecnologia que limitassem o acesso às redes sociais por crianças e adolescentes, recomendando limites mínimos de idade para o uso sem consentimento dos pais, bem como a eliminação dos botões de gosto e apelava a um limite para a visualização de conteúdos, acabando com o scrolling infinito.

Enquanto as medidas não forem tomadas oficialmente, Vivek Murthy aconselha os pais a limitarem o tempo diário de ecrãs nas crianças e adolescentes, bem como a proibirem a utilização de tecnologia durante a hora das refeições. “Uma das lições mais importantes que aprendi na faculdade de medicina foi que, numa emergência, não nos podemos dar ao luxo de esperar por informações perfeitas. Avaliamos os factos disponíveis, usamos o nosso melhor discernimento e agimos rapidamente”, conclui.

Certo é que o tipo de avisos que Murthy propõe já surtiu efeito no passado, sobretudo no que toca ao tabaco. Em 1965, depois de um relatório do cirurgião-geral, o Congresso votou para que todos os maços de cigarros passassem a incluir um aviso de que a utilização do produto “pode ser prejudicial à saúde”. Então, 42% dos americanos fumava diariamente e, em 2021, a mesma percentagem tinha descido para 11,5%.

Vivek Murthy, de 45 anos, é o cirurgião-geral dos EUA desde Março de 2021, depois de ter desempenhado o mesmo cargo entre 2014 e 2017. Em Janeiro, referiu-se à violência armada nos EUA como uma “epidemia”, na sequência de dois tiroteios em massa em Monterey e Half Moon Bay, na Califórnia.

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