“Quando restarem cinco ou dez pessoas em cada grupo, talvez nos deixem recuar.” Soldado russo relata perdas pesadas em Kharkiv
Andreev diz que os soldados russos foram enviados para Vovchansk com pouco equipamento — coletes à prova de bala e espingardas de assalto — e estão a ser “esmagados”.
Um soldado russo relata grandes perdas na zona de Kharkiv (Carcóvia), onde o exército de Moscovo lançou uma nova ofensiva no início de Maio. Dos 100 homens que partiram com Anton Andreev restarão apenas 12. “Durante a primeira noite, metade da companhia foi morta de uma só vez”, afirma o militar num vídeo divulgado pelo Astra, canal independente de notícias russo no Telegram.
Andreev diz que os soldados russos foram enviados para Vovchansk, a poucos quilómetros da fronteira, com pouco equipamento – coletes à prova de bala e espingardas de assalto – e estão a ser “esmagados”. Logo na primeira noite que lá passaram, conta, as tropas russas achavam que tinham tomado conta de uma rua, mas rapidamente sofreram grandes perdas, depois de ataques com armas e drones ucranianos.
“Passamos numa rua, parece estar tudo bem, mas depois somos apanhados num tiroteio – as metralhadoras e especialmente os drones – eliminam tantas tropas. E os comandantes no rádio continuam a gritar: ‘Em frente, em frente!’ Não se pode recuar. Quando restarem cinco ou dez pessoas em cada grupo, talvez nos deixem recuar”, diz.
As forças russas lançaram um ataque terrestre na região de Kharkiv a 10 de Maio e, segundo fontes militares de Kiev, avançaram um quilómetro dentro de território ucraniano. Esse avanço fazia parte das previsões de vários especialistas, dado que é conhecida a intenção de Moscovo criar uma “zona-tampão” de forma a impedir incursões das tropas ucranianas naquela zona.
A capacidade defensiva da Ucrânia ficou posta em causa e o comandante das Forças Armadas ucranianas admitiu que a situação em Kharkiv era “muito difícil”. A 16 de Maio, o Presidente, Volodymyr Zelensky, viajou para a linha da frente de combate, após ter cancelado viagens que tinha ao estrangeiro (incluindo a Portugal e Espanha, que acabou por visitar mais tarde). Na mesma altura, o Ministério da Defesa russo dizia ter controlo sobre nove regiões em Kharkiv.
“A população deve manter a calma... as nossas forças de defesa estão a manter as linhas, a situação está sob controlo”, disse o porta-voz dos grupos operacionais ucranianos na região, acusando Moscovo de criar uma campanha de desinformação para semear o pânico entre os residentes.
No vídeo em que Anton Andreev relata a situação russa na região de Kharkiv, o soldado russo diz: “Não sei se vou sair desta ou não, mas preciso de dizer isto para honrar a memória daqueles que morreram como carne para canhão aqui por causa de certos indivíduos.” Os meios de comunicação estatais e os oficiais russos não corroboram a narrativa de Andreev – continuam a garantir avanços na região e Putin sublinhou que as perdas do lado russo eram muito inferiores às ucranianas.
As famílias dos soldados russos enviados para Kharkiv procuram-nos da forma que podem e, nas redes sociais, já surgiram dezenas de posts. “Não sei do meu irmão desde 12 de Maio, quando foi enviado para Vovchansk”, escreveu uma utilizadorea da rede social russa VK. “Estou preocupada, porque acho que ele só teve uma semana de treino. Isso é legal sequer?”, questiona. E não é a única pessoa a criticar o pouco tempo de preparação das tropas russas.
Para já, Moscovo tem conseguido arregimentar cerca de 30 a 40 mil soldados por mês, segundo estimativa do Ministério da Defesa britânico. Do lado ucraniano há fortes baixas humanas e falta de equipamento, mas há planos e ajudas internacionais a caminho.
Em Kharkiv, a ofensiva parece ter estagnado, mas as tropas russas atingiram pelo menos um dos seus grandes objectivos: deslocar tropas ucranianas para essa zona, deixando a região de Donetsk com mais espaço para avanços de Moscovo.