“Governo revê-se integralmente nas declarações da ministra da Saúde”

Ministro da Presidência diz que Hospital de Viseu decidiu pelo encerramento (nocturno) do serviço de urgência pediátrica “à revelia do Governo”.

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O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, acompanhado pelo ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre no final do Conselho de Ministros TIAGO PETINGA / LUSA
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“O Governo revê-se integralmente nas declarações da senhora ministra da Saúde”​, assegurou o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, referindo-se ao facto de Ana Paula Martins ter classificado as lideranças hospitalares como “fracas”, durante a audição na Comissão Parlamentar da Saúde, que decorreu no parlamento na quarta-feira, e que acabaram por levar à demissão do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de Viseu Dão-Lafões (decisão que foi conhecida na quinta-feira).

“Sim, o Governo revê-se nas declarações sobre vários aspectos que a ministra tem feito, designadamente na importância de valorizar os profissionais, a gestão e as direcções”, esclareceu o governante em resposta aos jornalistas na conferência de imprensa desta sexta-feira, depois de reunião do Conselho de Ministros, onde foi questionado sobre a demissão em Viseu.

Quanto a este caso, que diz conhecer “particularmente bem” (recorde-se que já por várias vezes Leitão Amado foi eleito pela região), o ministro referiu que a administração decidiu pelo encerramento do serviço de urgência pediátrica “à revelia do Governo”, o que motivou a rápida deslocação da tutela a esta unidade de saúde. Recorde-se que, em Maio, o Hospital de Viseu anunciou que ia fechar a porta do serviço de urgência pediátrica durante o período nocturno durante todo o mês de Junho​, o que motivou uma deslocação de urgência da ministra ao hospital.

“A senhora ministra até esteve quatro horas em reunião, co-desenhando um plano para que, a partir de (deveria ser) amanhã [15 de Junho] a situação se resolvesse. O Governo fez a sua parte”, através da linha SNS 24, notou ainda. E acrescentou: “Aparentemente, o conjunto de pessoas não se sentiu capaz de executar as medidas que eram necessárias para cumprir um compromisso, neste caso, com a população de Viseu. Um hospital que já foi, no passado, uma das grandes referências no interior do país e, portanto, não tomemos uma pequena parte por um todo.”

O conselho de administração demissionário do Hospital de Viseu alegou “quebra de confiança política” por parte da governante, que no parlamento afirmou que “não é aceitável ter em Janeiro hospitais com profissionais já com o valor de horas extras anuais obrigatórias atingido”.

“Temos uma ministra a tentar responsabilizar terceiros”, diz Pedro Nuno Santos

O secretário-geral do Partido Socialista acusou, esta manhã, a ministra da Saúde de tentar “responsabilizar os administradores hospitalares, que fazem o melhor que podem com as condições que têm, com as políticas que são definidas”. “Temos uma ministra a tentar responsabilizar terceiros. Por isso, aquilo que vamos tendo, e o Ministério da Saúde e a ministra da Saúde são um espelho disso, é um Governo que vai justificando a sua governação com combate ao Governo anterior, com a responsabilização das estruturas intermédias do Estado. Agora é mesmo a AD [Aliança Democrática] que está a governar. A senhora ministra não se pode esconder atrás de ninguém, a responsabilidade é sua”, frisou Pedro Nuno Santos aos jornalistas, numa visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém.

O líder do PS disse também que se trata de um “Governo com pouco tempo ainda, mas com algumas trapalhadas”, referindo-se ao número de doentes oncológicos que aguardam cirurgia além do tempo máximo de resposta garantido indicado pelo Governo, que são, na verdade, cerca de 2300 e não mais de 9000. “Enganaram-se no número de doentes oncológicos que estão à espera de uma cirurgia para lá do tempo máximo. Revela algum desconhecimento”, defendeu.

​O Bloco de Esquerda (BE) e o Chega pediram esta sexta-feira a audição no parlamento da administração demissionária da ULS de Viseu Dão-Lafões. Na nota à imprensa, o BE escreve que “a ministra não pode, pura e simplesmente, sacudir a água do capote”. E o Chega entende que o conselho de administração deve ir à comissão da saúde para dar a conhecer “as reais dificuldades” que atravessa.

Também o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, afirmou que o caminho "para fixar profissionais de saúde não é dizer mal deles", criticando as declarações da ministra da Saúde, que considerou fracas as lideranças hospitalares.

Em declarações à agência Lusa à margem de uma visita à exposição NonViolent Resistance na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, Paulo Raimundo pediu "opções de fundo" para os problemas do SNS e afirmou, sobre as críticas de Ana Paula Martins às lideranças dos hospitais, que o caminho não passa por "dizer mal" dos profissionais de saúde.

"Tomamos decisões políticas, financeiras, opções de fundo que criem as condições para fixar mais profissionais no SNS ou nós não vamos conseguir resolver o problema. E não vale a pena pensarmos que os problemas da saúde se resolvem a partir de outro sistema que não seja o SNS, porque isso não vai acontecer. (...) julgo, que um dos caminhos para fixar mais profissionais não é dizer mal deles", frisou o líder do PCP.

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