Líder d’Os Republicanos rejeita demitir-se e aprofunda divisões no partido

Direcção do partido conservador votou pela demissão de Éric Ciotti depois de o presidente ter apoiado publicamente um acordo com a extrema-direita.

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Éric Ciotti recorreu em tribunal da decisão da direcção do partido Os Republicanos Stephane Mahe / REUTERS
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As ondas de choque do resultado das eleições europeias em França, ganhas pela União Nacional de extrema-direita, continuam a ser sentidas e deixaram o partido conservador Os Republicanos em clima de crise interna.

A direita francesa vive um período de enorme turbulência e adivinha-se uma guerra civil nas suas fileiras. Na quarta-feira, numa reunião da comissão executiva d’Os Republicanos marcada de urgência, num local fora da sede nacional do partido, foi decidido o afastamento do presidente Éric Ciotti.

No entanto, o líder partidário contestou a decisão e apresentou um recurso judicial junto de um tribunal parisiense, dizendo que a sua demissão “não faz qualquer sentido” e que a reunião da direcção decorreu em “flagrante violação” dos estatutos. Esta quinta-feira, Ciotti foi filmado a entrar na sede d’Os Republicanos. “Sou presidente do partido e vou ao meu escritório”, afirmou em declarações à imprensa.

O partido conservador implodiu depois de Ciotti ter dito publicamente que apoia um entendimento com a extrema-direita para as eleições legislativas convocadas pelo Presidente Emmanuel Macron para 30 de Junho – a antecipação das eleições foi, por sua vez, uma resposta do chefe de Estado à vitória da União Nacional de Marine Le Pen nas eleições europeias de domingo.

A decisão de Ciotti representa uma viragem histórica na política francesa em que houve sempre uma recusa das famílias políticas moderadas em coligar-se ou apoiar a extrema-direita.

O anúncio de Ciotti foi extremamente mal recebido por parte considerável dos líderes partidários, acusando-o de estar a violar os princípios d’Os Republicanos. Uma nova reunião da comissão política do partido foi convocada para sexta-feira para voltar a validar a demissão de Ciotti.

O tribunal parisiense junto do qual o ainda líder conservador apresentou o recurso irá pronunciar-se esta sexta-feira de manhã e uma decisão favorável a Ciotti poderá aprofundar ainda mais as divisões internas no partido.

Descrevendo a crise no partido gaulista como “um espectáculo angustiante”, a senadora d’Os Republicanos, Agnès Évren, disse ao France 24 não saber o que “irá acontecer agora”. “Quando se põem os cargos à frente dos princípios, isso não honra a política”, declarou.

Entretanto, as movimentações nos restantes quadrantes políticos continuam. Depois de ter anunciado a reedição da Frente Popular, a esquerda quer voltar a mostrar a sua força nas ruas.

Para este fim-de-semana foram convocadas manifestações pelos partidos e por cinco confederações sindicais para demonstrar repúdio pela perspectiva de uma maioria de extrema-direita na Assembleia Nacional após as eleições antecipadas. Em Paris, esperam-se entre 50 e cem mil pessoas na manifestação de sábado, segundo a direcção da polícia da capital francesa.

As negociações para a criação de um programa político comum que una toda a esquerda estão em curso, mas podem ter embatido num primeiro obstáculo. Segundo o Libération, há desentendimentos quanto à classificação da natureza do ataque do Hamas em Israel, a 7 de Outubro do ano passado. No passado, o líder da França Insubmissa, Jean Luc Mélenchon, chegou a rejeitar classificar o ataque como um acto terrorista e equiparou o Hamas a Israel.

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