Blinken: “Algumas propostas do Hamas são viáveis, outras não”
Secretário de Estado dos EUA diz acreditar que é possível um cessar-fogo. Qatar critica Israel e Hamas, que têm de ser “pressionados”. Movimento islamista diz que Blinken “faz parte do problema”.
A resposta do Hamas a uma proposta de cessar-fogo incluía “várias alterações”, algumas das quais são “viáveis”, e outras não, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Doha, Qatar.
O primeiro-ministro do Qatar, também encarregado dos Negócios Estrangeiros, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, congratulou-se com a proposta de cessar-fogo em cima da mesa, aprovada no Conselho de Segurança da ONU, mas acusou quer Israel, quer o Hamas de estarem a ser “contraprodutivos”, dizendo que era preciso pressão sobre ambos.
Fontes do Egipto, que faz parte da equipa de mediadores, com o Qatar, tinham afirmado, horas antes, que o movimento islamista queria garantias escritas dos Estados Unidos para um cessar-fogo permanente e para a retirada das forças israelitas da Faixa de Gaza, segundo a agência Reuters.
Vários responsáveis israelitas têm repetido que a guerra só terminará quando as capacidades do Hamas forem “desmanteladas”, deixando dúvidas em relação ao que Israel aceita (quando foi apresentada por Joe Biden, este disse que se tratava de uma proposta israelita). Blinken afirmou ontem que o Estado hebraico aceitava a proposta.
Israel apresentou, na véspera, a resposta do Hamas como sendo uma recusa do acordo. Blinken, pelo seu lado, falou em alterações, lamentando-as: “Podiam ter dito simplesmente ‘Sim’.” O Hamas reagiu pouco depois, dizendo que Blinken “faz parte do problema, e não da solução”. O porta-voz Osama Hamdan negou, segundo a emissora Al Jazeera, que o movimento tenha feito quaisquer mudanças na proposta.
No entanto, Blinken não vê a situação actual como definitiva. “Nos próximos dias, vamos continuar a fazer um esforço, numa base urgente, para tentar fechar este acordo com os nossos parceiros com o Qatar, com o Egipto”, declarou ainda, citado pela agência Reuters. “Estamos determinados a tentar ultrapassar as diferenças, e acredito que isso é possível.”
Ainda em Doha, o chefe de Governo do Qatar foi questionado sobre se consideraria fechar o gabinete do Hamas em Doha. Al Thani declarou que o gabinete foi criado para estabelecer um canal de comunicação com o grupo, “e, até agora, essa razão é válida”.
O porta-voz da Casa Branca, Jake Sullivan, escolheu dizer que “muitas das mudanças eram menores” e até tinham sido previstas. Outras, no entanto, “são substancialmente diferentes do que foi desenhado na resolução do Conselho de Segurança”.
Um responsável do Hamas disse à agência Reuters que na sua resposta reafirmava a sua posição de que um cessar-fogo tem de levar ao fim permanente das hostilidades na Faixa de Gaza, à retirada das forças israelitas, à reconstrução e à libertação de palestinianos presos por Israel.
No diário israelita Haaretz, o jornalista Jack Khoury diz, citando fontes do movimento islamista, que uma exigência do Hamas foi que Israel se retire de todo o território da Faixa de Gaza logo na primeira semana da concretização do acordo.
O acordo aprovado no Conselho de Segurança da ONU prevê três fases, com a primeira a durar seis semanas, durante as quais começaria o cessar-fogo, seria feita uma troca de reféns israelitas na Faixa de Gaza e de palestinianos em prisões israelitas, seria permitido o regresso de palestinianos às suas casas, incluindo no Norte, e dada ajuda humanitária. As forças israelitas retirar-se-iam das “zonas povoadas” na Faixa de Gaza.
Na segunda fase, firmar-se-ia o fim permanente das hostilidades, a libertação dos reféns restantes e a “retirada total” das forças israelitas de Gaza.
A terceira, com uma duração prevista de anos, implicaria a reconstrução de Gaza e a devolução dos restos mortais de reféns.
O Hamas também teria, ainda segundo o Haaretz, previsto a devolução de corpos de reféns, e não apenas reféns vivos, na primeira fase (três reféns, tanto vivos como mortos, a cada três dias, num total de 33). Haverá mais de 120 reféns em Gaza, e Israel estima que cerca de um quarto terá entretanto morrido.
O Hamas quer garantir, ainda segundo as fontes citadas pelo Haaretz, que Israel “não possa ter hipótese de voltar à guerra logo que todos os reféns sejam libertados”.
Mohamad Elmasry, professor de estudos de media em Doha, declarou à Al Jazeera que “nada mudou”: “O Hamas quer um fim permanente das hostilidades, e Israel quer o direito de continuar a guerra. E até que essa equação mude, não vamos avançar.”