Marcelo sobre Costa no Conselho Europeu: “Conhece bem a Europa, move-se bem na Europa”

Presidente da República diz que primeiro-ministro “fez bem” em clarificar o apoio do Governo a uma eventual candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu.

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tira uma selfie durante um encontro com a Comunidade Portuguesa no Teatro de Carouge no âmbito das Comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Genebra na Suíça ESTELA SILVA / LUSA
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O Presidente da República considerou que o primeiro-ministro “fez bem” em clarificar o apoio do Governo a uma eventual candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu, argumentando que o resultado das europeias “abre caminho a essa hipótese”.

Em declarações aos jornalistas à margem de um encontro com a comunidade portuguesa em Genebra, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre o anúncio feito por Luís Montenegro na noite eleitoral das europeias de que a AD e o Governo português apoiarão Costa, caso este decida ser candidato.

“Eu acho que fez bem, esperou pelas eleições e depois de haver um resultado eleitoral que abria caminho, ele disse o que era natural, que o Governo apoia um português e aquele português com a experiência que tem para o Conselho Europeu”, salientou.

O chefe de Estado recordou que, por várias vezes, já realçou a experiência europeia do anterior primeiro-ministro e que tal candidatura apenas “dependia da vontade do próprio e do resultado das eleições”.

“O resultado das eleições parece abrir caminho a essa hipótese, depende apenas da vontade de António Costa. Se for assim, é evidente que é uma vantagem: conhece bem a Europa, move-se bem na Europa, dá-se bem com líderes europeus e é uma voz portuguesa. É importante para a Europa e para Portugal”, considerou.

Escusando-se a comentar os resultados nacionais, “como é natural”, Marcelo Rebelo de Sousa fez, contudo, uma leitura dos europeus, considerando que os cidadãos da UE votaram numa “continuidade, com mudanças”, algo que reforça as possibilidades de António Costa vir a ser o eleito para suceder a Charles Michel na presidência do Conselho.

“A nível europeu, os europeus votaram assim: votaram querendo manter como três forças dominantes, ou pelo menos mais importantes, as três forças que já o eram”, designadamente Partido Popular Europeu (PPE), Socialistas Europeus e Liberais, apontou.

“Quer dizer: foi um voto na continuidade, com mudanças, mas essencialmente na continuidade, como quem diz que em período de guerra, em período de crise económica, financeira e social, que mais valia, no essencial, manter a linha política europeia, pedindo naturalmente mudanças, como se viu em vários países”, prosseguiu.

Segundo Marcelo, as “mudanças” reclamadas pelos europeus são “no sentido da recuperação económica, da justiça social, mas não mudanças quanto à posição da Europa no mundo, na Ucrânia, como na relação entre os grandes poderes do mundo”.

Neste contexto de uma "continuidade com algumas mudanças", o Presidente da República opinou que António Costa tem o perfil certo para o Conselho Europeu, pois, além da “experiência na Europa de nove anos”, sempre se deu “muito bem com a Comissão Europeia e muito bem com o Parlamento Europeu”.

“Ora bem, na medida em que o Parlamento Europeu vai continuar na mesma linha, e na medida em que a Comissão Europeia ‘sai’ do Parlamento Europeu e provavelmente tem uma orientação parecida, ele tem a vantagem de já ter uma capacidade de diálogo com quem terá uma influência provavelmente grande a nível europeu”, declarou.

Confrontado com recentes críticas do antigo primeiro-ministro, que o acusou de ter “criatividade constitucional”, Marcelo respondeu que “em Portugal há liberdade de crítica, há liberdade de expressão e, portanto, os comentadores políticos, todos os cidadãos, mas os comentadores em particular, podem concordar ou discordar do Presidente da República”, completando que “isso é que é a democracia”.

Já sobre se essas críticas não afectam o seu apoio para a presidência do Conselho Europeu, respondeu que “não tem nada a ver uma coisa com a outra”.

“Uma coisa é a opinião das pessoas, outra coisa é reconhecer se alguém tem ou não qualidades para exercer uma função de forma boa para a Europa e para Portugal. Eu distingo as duas coisas. Ao longo da vida tenho apoiado muito boa gente que pensa o oposto daquilo que eu penso”, concluiu.

Marcelo Rebelo de Sousa encontra-se entre hoje e quarta-feira na Suíça, acompanhado, pela primeira vez numa deslocação ao estrangeiro, do primeiro-ministro Luís Montenegro, para as celebrações do 10 de Junho junto daquela que é a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses no mundo, depois de França.