Hamas rejeitou proposta americana para cessar-fogo em Gaza, diz Israel

Conselho de Segurança da ONU aprovou, na segunda-feira, acordo de cessar-fogo em Gaza proposto pelos EUA. Proposta terá sido rejeitada pelo Hamas.

Foto
Soldados israelitas operam no interior de Gaza REUTERS/Amir Cohen TPX
Ouça este artigo
00:00
05:09

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Hamas rejeitou a proposta de cessar-fogo para Gaza apresentada pelo Presidente norte-americano Joe Biden, afirmou na noite de terça-feira fonte do Governo israelita à Reuters.

"Esta noite, Israel recebeu, através do mediador, a resposta do Hamas. Na resposta, o Hamas rejeitou a proposta para a libertação de reféns que tinha sido apresentada pelo Presidente Biden", afirmou um responsável israelita sob anonimato.

"Eles [Hamas] alteraram todos os principais e mais significativos parâmetros [da proposta]", acrescentou a fonte israelita.

Durante o dia de terça-feira, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestiniana tinham manifestado “disponibilidade para chegar a um acordo positivo” para pôr termo à guerra em Gaza. Na resposta entregue aos mediadores, citada pela Reuters, o Hamas sublinhava que "qualquer acordo deve pôr fim à agressão sionista contra o nosso povo, a retirada das forças israelitas, a reconstrução de Gaza e um acordo sério de troca de prisioneiros”. A Reuters acrescentava que o Hamas terá apresentado um novo calendário para a concretização do cessar-fogo.

Os Estados Unidos também estão a avaliar a resposta formal do grupo palestiniano, disse John Kirby, porta-voz da Casa Branca, numa conferência de imprensa, em que explicou ser útil ter uma resposta do Hamas e que EUA estavam a trabalhar na sua análise. As conversações sobre os planos para Gaza após o fim da guerra entre Israel e o Hamas vão decorrer nos próximos dias, tinha dito o secretário de Estado Antony Blinken em Telavive, durante a manhã, após conversações com dirigentes israelitas. “É imperativo que tenhamos estes planos.”

Blinken encontrou-se com responsáveis israelitas na terça-feira, numa tentativa de pôr fim à guerra que se arrasta há oito meses contra o Hamas, que devastou Gaza, um dia depois de a proposta de tréguas do Presidente Joe Biden ter sido aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU. O responsável norte-americano esteve reunido também com o primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Mustafa.

Pontos de discórdia

Segundo detalha o plano para o cessar-fogo apresentado por Joe Biden no final de Maio, idosos, doentes e mulheres reféns seriam libertados em troca da libertação de prisioneiros palestinianos, numa primeira fase de um cessar-fogo que duraria seis semanas. O cessar-fogo tornar-se-ia permanente na segunda fase, que prevê a libertação de todos os reféns mediante negociação com intervenção dos Estados Unidos, Egipto e Qatar. A terceira fase prevê a reconstrução da Faixa de Gaza.

Antes da viagem de Blinken, Israel e o Hamas reiteraram as posições que tinham minado as anteriores negociações para pôr fim aos combates, enquanto Israel prosseguiu com os ataques no centro e no Sul de Gaza, que culminaram com a libertação de quatro reféns no sábado, numa operação militar que fez mais de 200 mortos entre palestinianos e mais de 600 feridos. Israel afirma que só concordará com pausas temporárias na guerra até que o Hamas seja derrotado, enquanto o Hamas contrapôs que não aceitará um acordo que não garanta o fim da guerra.

No entanto, na terça-feira, Sami Abu Zuhri, um dirigente do Hamas, que está fora de Gaza, tinha já dito que o grupo aceitava a resolução do cessar-fogo e estava pronto para negociar os pormenores. Cabe a Washington garantir que Israel cumpra a resolução, explicou, segundo escreve a agência Reuters. A mesma agência dizia que o Hamas aceitava agora a fórmula que previa a retirada das tropas israelitas de Gaza e a troca de reféns detidos em Gaza por prisioneiros palestinianos detidos em Israel. No entanto, os desenvolvimentos desta noite vêm colocar em causa a possibilidade de avanços.

“A administração dos EUA está a enfrentar um verdadeiro teste para cumprir os seus compromissos de obrigar a ocupação a acabar imediatamente com a guerra, implementando a resolução do Conselho de Segurança da ONU”, disse Abu Zuhri à Reuters.

Por seu lado, fonte do Governo israelita, citada pelo jornal The Guardian, dizia também que a proposta apoiada pela ONU ia ao encontro dos objectivos de guerra. "Israel não terminará a guerra antes de atingir todos os seus objectivos – eliminar as capacidades militares e civis do Hamas, devolver todos os nossos reféns e garantir que Gaza nunca mais represente uma ameaça para Israel. A proposta que foi apresentada permite que Israel cumpra estas condições, e fá-lo-á", disse a mesma fonte.

Blinken tinha respondido à declaração inicial do Hamas, quando o grupo manifestava disponibilidade para um acordo, explicando que se tratava de “um sinal de esperança”, mas que ainda era necessária uma palavra definitiva da liderança do grupo dentro da Faixa de Gaza. “É isso que conta, e é isso que ainda não temos”, dizia então, antes do anúncio de recusa veiculado pelo Governo israelita.

“Congratulo-me com a iniciativa de paz recentemente delineada pelo Presidente Biden e exorto todas as partes a aproveitarem esta oportunidade e a chegarem a um acordo”, afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU, nesta terça-feira.

Apesar da perspectiva positiva, Hassan Barari, especialista em relações internacionais na Universidade do Qatar, em declarações ao canal pan-árabe Al-Jazeera, já pedia cautelas no que tocava à segunda fase do acordo, explicando que podia mesmo representar um problema entre as duas partes. "Com o Hamas a querer seis semanas de cessar-fogo e Israel a querer a libertação dos prisioneiros, a primeira fase é boa para todos”, disse Barari. "Mas o problema da segunda fase do acordo é que Israel não está empenhado num cessar-fogo permanente", disse o especialista.

"Até ao momento, todas as declarações dos israelitas dizem que não estão dispostos a fazer isso. Especialmente com a retirada dos principais ministros do Governo – é um Governo de extrema-direita em Israel, onde os principais ministros falam sobre a continuação da guerra após a primeira fase", acrescentou Barari.