PS supera AD, mas mantém-se o empate técnico. Chega é o que mais cai e esquerda perde para voto útil

Chega e partidos pequenos da esquerda descem nas intenções de voto – CDU, BE e Livre arriscam-se a não eleger. AD não mexe e liberais sobem. No máximo, PS pode repetir os nove deputados de 2019.

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Marta Temido numa acção de campanha em Guimarães Paulo Pimenta
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A três dias de a larga maioria dos eleitores portugueses ir às urnas para escolherem os 21 deputados nacionais no Parlamento Europeu, mantém-se tudo em aberto. O inquérito realizado na primeira semana de campanha mostra que o PS sairia vencedor, com 33% dos votos, mas com a AD – Aliança Democrática (a coligação entre PSD, CDS-PP e PPM) a ficar apenas dois pontos abaixo (31%), o que, na prática, cabe dentro do intervalo para o empate técnico. De acordo com os resultados da sondagem do Cesop – Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, os socialistas poderiam almejar ter entre sete e, no máximo, os mesmos nove lugares de hoje, ao passo que a AD deveria eleger entre seis e oito eurodeputados, um a mais do que a soma de PSD e CDS-PP em 2019.

À esquerda, o panorama é mais cinzento para os partidos pequenos: CDU, Bloco e Livre arriscam-se a não eleger qualquer deputado e o PAN ficaria mesmo fora do Parlamento Europeu. À direita, verifica-se uma queda de três pontos do Chega e uma subida de dois pontos da IL, que consegue margem para poder eleger um a dois deputados.

A sondagem, em que o Cesop perguntou aos inquiridos em que partido votariam se as eleições fossem nessa altura ou em que partido tinham votado (se o fizeram antecipadamente no dia 2), foi realizada na primeira semana de campanha, entre os dias 27 de Maio e 3 de Junho. Portanto, ainda antes da votação final em comissão da descida do IRS no Parlamento. Pelos resultados, apenas os socialistas e os liberais sobem a votação – o PS de 30 para 33% e a IL de 6 para 8% – quando comparados com os valores do estudo anterior, feito entre 13 e 18 de Maio, numa altura em que os partidos já participavam nos debates televisivos. Nesta estimativa, a AD mantém os mesmos 31% de há três semanas – a par do PAN, com 1%, são as únicas forças políticas que não sofrem qualquer alteração.

O cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, ficaria assim acima do objectivo de 29% que traçou para a sua candidatura (que, na prática, resultaria em mais um ponto do que a soma que PSD e CDS obtiveram, em separado, em 2019). E a socialista Marta Temido, que já admitiu que o PS teve em 2019 um “resultadão” (33,38% e nove eurodeputados) que não é fácil igualar, acaba por conseguir chegar a esse patamar quase em cima das eleições.

O Chega, que tem tido André Ventura como figura de proa da campanha apesar de o cabeça de lista ser o diplomata António Tânger Corrêa, é o que mais cai: recua de 15 para 12% e poderá eleger entre dois e quatro eurodeputados, abaixo da previsão do candidato (cinco lugares) e muito abaixo do reclamado pelo presidente do partido nos discursos, que já pede nove.

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O aumento das intenções de voto na IL, de 6 para 8%, e a sua aproximação aos números do Chega abrem a possibilidade de eleger, além de João Cotrim Figueiredo, também a número dois, a vice-presidente do partido Ana Martins. Ao mesmo tempo, a queda de um ponto da CDU, do Livre e do Bloco, todos agora com 4%, mostra que os avisos que estes candidatos têm feito contra o voto útil nos partidos maiores não está a ter impacto no eleitorado. Normalmente a linha de água para eleger é precisamente a dos 4%.

Estes três partidos arriscam-se mesmo a ficar fora do Parlamento Europeu e, na melhor das hipóteses, podem eleger apenas os cabeças de lista. Se para o Livre isso seria uma vitória, para a CDU e o Bloco, que actualmente têm dois eurodeputados cada um, seria uma derrota – sem se saber, no entanto, se poderá ser mesmo desastrosa caso fiquem fora do Parlamento Europeu. O PAN, cuja lista é liderada por Pedro Fidalgo Marques, não tem conseguido sair da linha do 1%, o que o deixa sem hipótese de reeleger.

Sem fazer a distribuição dos indecisos (20% dos inquiridos disseram não saber ainda em quem vão votar, 6% dizem que não votariam e 5% recusaram responder), a intenção directa de voto mostra, em comparação com a anterior sondagem, uma subida de dois pontos do PS para 22%, uma descida de um ponto da AD (21%). O Chega cai dois pontos (9%), a IL um (5%), ao passo que CDU, Livre e Bloco se mantêm nos 3% e o PAN permanece com 1%.

Dos 1552 inquéritos validados, 69% responderam que de certeza que vão votar (ou já o tinham feito), 18% disseram que "em princípio" vão votar e 7% ainda não sabiam. Os restantes 6% não tencionam ou de certeza que não o farão.

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Dificuldade para segurar eleitorado

Os líderes dos partidos e os respectivos candidatos têm recusado que estas europeias sejam uma segunda volta das legislativas de Março que deram a vitória por escassa margem à AD, ou uma preparação para futuras legislativas antecipadas no caso de o Governo cair se, por exemplo, não conseguir aprovar orçamentos. Uma análise das intenções de voto tendo em conta a forma como os inquiridos votaram nas legislativas mostra que há uma elevada mobilidade, com diversos partidos a revelarem dificuldades para segurar o seu eleitorado de Março que garante votar nestas europeias.

Comparando com a sondagem anterior, o maior aumento de indecisos é entre os eleitores do Chega, o que explicará a sua descida nas intenções de voto, mas também entre os do PAN. Um quarto dos eleitores do Bloco em Março continua sem saber em quem vai agora votar. A subida do PS também se explicará pelo voto útil vindo dos partidos à esquerda: 17% dos eleitores do Bloco vão agora votar no PS, e o mesmo dizem 7% dos votantes da CDU e do Livre, e 20% do PAN. Há ainda 6% de votantes da AD que agora se mudam para o PS.

Sem surpresa, a CDU é quem mais segura o seu eleitorado (82% vão repetir o voto na coligação que junta PCP e PEV), seguida pelo PS (72%), AD (65%) e IL e Livre (ambos a conseguirem manter dois terços dos eleitores). Um partido que está a sofrer da “desistência” do seu eleitorado é o Bloco, com apenas 39% a manterem-se fiéis, 17% a preferirem o PS e um quarto a responder que não sabe em quem vai votar. Embora em menor escala, também o Chega está a deixar fugir eleitores – numa altura em que o partido, nestes dois meses de legislatura, se aproximou do PS, além de ter apostado num cabeça de lista, Tânger Corrêa, pouco conhecido. Só metade (52%) dos seus eleitores de Março diz repetir o voto no partido, um quinto não sabe em quem vai votar e 15% dizem que tencionam mudar o voto para a AD.

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Outra curiosidade é que se há três semanas apenas 1% dos eleitores da AD admitiam votar PS nas europeias, agora são 6%. E realce também para a IL, cuja prestação de Cotrim Figueiredo na campanha parece ter agarrado o eleitorado liberal: se na sondagem anterior só 48% diziam voltar a votar na IL, agora são 63% a manterem-se fiéis, e a fuga para a AD baixou de 20 para 13%.

Embora os números do PAN tenham muito pouca expressão, valem pela tendência de queda do partido: além de perder um quinto dos eleitores para o PS, apenas 15% dizem ir repetir o voto no partido de Inês Sousa Real e há 55% dos que dizem ter votado PAN em Março que ainda não sabem em quem votar agora.

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