Biden recorda Dia D com os olhos postos em Putin e Trump

Nas comemorações dos 80 anos do Desembarque na Normandia, o Presidente dos Estados Unidos disse que a democracia “não está garantida” e incitou as novas gerações a combaterem por ela.

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O Presidente dos EUA voltou a criticar o isolacionismo defendido por Donald Trump Benoit Tessier / REUTERS
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Num discurso emotivo, onde traçou um paralelo entre o combate de há 80 anos contra o nazismo e o apoio à defesa da Ucrânia na invasão lançada pela Rússia em 2022, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta quinta-feira, no 80.º aniversário do Desembarque na Normandia, que "a luta entre a ditadura e a liberdade não tem fim".

Pouco antes do seu discurso, proferido no Cemitério Americano da Normandia, na localidade francesa de Colleville-sur-Mer, Biden, de 81 anos — provavelmente o último Presidente dos EUA nascido antes da operação na costa francesa —, encontrou-se com veteranos norte-americanos que combateram no Dia D, muitos deles com mais de 100 anos.

"Não estamos muito distantes do momento em que as últimas vozes dos que combateram e sangraram no Dia D vão deixar de estar entre nós. Não podemos deixar que o silêncio faça esquecer aquilo que aconteceu aqui", disse Biden. "O facto de eles terem sido heróis naquele dia não nos absolve daquilo que temos de fazer hoje. A democracia não está garantida. Cada geração tem de a defender, preservar e combater por ela."

A inevitabilidade da passagem do tempo e a inquietação com a primeira invasão militar de um país europeu — a Ucrânia — desde a Segunda Guerra Mundial dão às cerimónias dos 80 anos do Desembarque na Normandia, em França, um clima de passagem de testemunho que se traduziu nos alertas lançados por Biden e por outros líderes mundiais nos discursos desta quinta-feira.

"Os ucranianos estão a combater com uma coragem extraordinária e com grande sacrifício", disse o Presidente dos EUA, ao evocar os 160 mil soldados de vários países — a maioria do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Canadá — que estiveram envolvidos no Dia D, um dia marcante para a reviravolta militar que levaria os Aliados a derrotarem a Alemanha nazi menos de um ano depois.

"Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a democracia nunca esteve tão em risco como agora", disse Biden. "Na hora decisiva, as forças aliadas do Dia D cumpriram o seu dever. Agora, na nossa hora decisiva, cumpriremos nós o nosso?"

Numa cerimónia para a qual a organização francesa não convidou o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, por causa da invasão da Ucrânia — e apesar do papel determinante da União Soviética na rendição das tropas de Adolf Hitler —, o Presidente dos EUA incitou as novas gerações a defenderem a democracia.

Os apelos do Presidente norte-americano ao combate pela democracia nos dias de hoje, com o Desembarque na Normandia e a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo, surgem também numa altura em que os EUA estão a meio de uma campanha eleitoral que pode fazer regressar Donald Trump à Casa Branca.

Numa referência indirecta ao seu principal adversário na eleição presidencial deste ano, Biden salientou "a capacidade única da América de unir países", que disse ser "uma indiscutível fonte do poder" dos EUA no mundo. "O isolacionismo não foi a resposta há 80 anos e também não é a resposta hoje", afirmou, numa referência às críticas de Trump a acordos e organizações internacionais, incluindo a NATO.

"Os Estados Unidos e a NATO e uma coligação com mais de 50 países estão ao lado da Ucrânia", disse Biden. "Não vamos arredar pé, porque se o fizermos, a Ucrânia será subjugada e a história não acabará aí. Os vizinhos da Ucrânia serão ameaçados e toda a Europa será ameaçada."

"A rendição perante ditadores é algo impensável", afirmou o Presidente dos EUA, acrescentando que um eventual corte do apoio à Ucrânia seria visto com um sinal de fraqueza "pelos autocratas do mundo".

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