“Vice” de Gaia acusado de traficar influência junto de líder da Metro do Porto

Pressões para beneficiar empreendimento Riverside não terão tido sucesso, aparecendo líder do metropolitano nortenho apenas como testemunha de acusação na Operação Babel.

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Uma nova linha de metro ligará a estação da Casa da Música, junto à rotunda, a Santo Ovídio, em Gaia Nelson Garrido
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O Ministério Público acusou o ex-vice-presidente de Vila Nova de Gaia, Patrocínio Azevedo, de traficar influência junto do presidente do conselho de administração da Metro do Porto, Tiago Braga, para que este compatibilizasse os interesses dos promotores de um grande projecto imobiliário perto da ponte da Arrábida com o traçado da nova linha do metro que deverá ligar a estação da Casa da Música, no Porto, a Santo Ovídio, em Gaia, evitando que o empreendimento perdesse capacidade de construção.

As pressões feitas por Patrocínio Azevedo para beneficiar o projecto Alive Riverside, um conjunto de edifício de habitação de luxo com vista para o rio Douro, com um investimento estimado de 110 milhões de euros, não terão tido sucesso, aparecendo Tiago Braga apenas como testemunha de acusação na Operação Babel.

A descrição dos crimes imputados a 16 arguidos – seis pessoas individuais e 10 colectivas – especifica seis reuniões entre os dois responsáveis, duas das quais foram vigiadas pela Polícia Judiciária, a cargo de quem esteve a investigação deste caso, e duas escutas telefónicas entre os dois socialistas que eram colegas na comissão politica concelhia de Vila Nova de Gaia, que foi liderada por Patrocínio Azevedo.

As relações entre os dois não se ficavam por aqui, afirmando os procuradores que Tiago Braga “é amigo do arguido Patrocínio Azevedo, com quem partilhou percurso político com início na Juventude Socialista”, sendo igualmente deputado da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia desde 2021, cargo que acumula com a presidência da administração Metro do Porto, uma posição que assumiu em Junho de 2019. O Ministério Público recorda que no passado Tiago Braga chegou a ser chefe de gabinete do então e actual presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, de quem Patrocínio foi número dois, e membro da administração da Empresa Municipal Águas e Parque Biológico de Gaia.

Segundo a acusação, os empresários Elad Dror e Paulo Malafaia, com a ajuda do advogado João Lopes, concertaram-se “para que o arguido Patrocínio Azevedo abusasse da influência adquirida, pela relação de amizade que mantinha junto de Tiago Braga, presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, para prosseguir no benefício ilegítimo dos restantes arguidos, e para que este conferisse tratamento privilegiado (…) na compatibilização dos referidos interesses imobiliários do projecto Riverside com o traçado das acessibilidades da linha do metro, mediante a entrega de contrapartidas em dinheiro ao arguido Patrocínio Azevedo, que aceitou e que efectivamente recebeu”.

A acusação refere que a 15 de Fevereiro de 2022, Patrocínio Azevedo ligou a Tiago Braga manifestando desagrado por a situação do traçado do metro ainda não estar resolvida na zona da Quinta de Santo António, tendo o líder da empresa tentado acalmar aquele arguido, solicitando-lhe o envio em formato digital do documento que aquele lhe havia entregue “para compatibilizar com a nossa obra". Há também referência a uma reunião ocorrida em Outubro de 2021, nas instalações da Metro do Porto, com o presidente da empresa, na qual estiveram também presentes Patrocínio Azevedo e João Lopes, além de um arquitecto que representava os promotores do Riverside.

Facto é que apesar de todas as diligências junto do presidente da Metro do Porto a empresa comunicou à Câmara de Gaia, em Abril de 2022, o seu parecer desfavorável (já antes assinalara potenciais problemas, numa fase em que o traçado estava por definir) quanto a três de sete lotes em que se dividia o empreendimento no âmbito de um pedido de informação prévia pedido à autarquia, relativo à operação de loteamento. O facto de um acesso projectado pela Metro do Porto passar pelo meio dos lotes 1 e 2 do Riverside e de os promotores não terem cedido a área fazia a empresa que gere o metropolitano, em Abril do ano passado, vésperas da operação que resultou na detenção de Patrocínio, colocar a hipótese de expropriar aquelas parcelas.

Contactada pelo PÚBLICO, a Câmara de Gaia esclareceu que os lotes 4 e 5 do projecto encontram-se "em fase de conclusão da respectiva estrutura dos prédios", estando “em apreciação o pedido de licenciamento da edificação” apresentado para o lote 7. O lote 1 e 2 ainda estão a ser apreciados no âmbito de um pedido de informação prévia.

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