Vice de Gaia terá recebido 120 mil euros em luvas através de intermediário

Presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, é um dos 12 arguidos neste caso de corrupção centrado no urbanismo de Gaia. Terão sido favorecidos vários projectos imobiliários no valor de 300 milhões.

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Patrocínio Azevedo, vice da Câmara de Gaia, à esquerda e Eduardo Vítor Rodrigues à direita, na assinatura de um protocolo. Joana Goncalves
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O vice-presidente da Câmara Municipal de Gaia, Patrocínio Azevedo, terá recebido mais de 120 mil euros de “luvas” em dinheiro vivo pagas pelos dois empresários da construção civil detidos esta terça-feira no âmbito da Operação Babel. Dois pagamentos, um feito em Janeiro e outro em Junho de 2021, terão sido realizados através de um advogado que possui escritório em Gaia e que a Polícia Judiciária e o Ministério Público acreditam fazer a ponte entre os investidores e o autarca.

Os dois encontros terão sido presenciados pelos investigadores que registaram ao pormenor como é que na véspera de São João de 2021 o empresário Paulo Malafaia entregou numa casa de banho do Norteshopping uma bolsa contendo 99.600 euros em dinheiro ao advogado que fazia a ligação a Patrocínio Azevedo. No fim da transacção, Malafaia, parceiro de negócios de Elad Dror, fundador do grupo israelita Fortera - de quem tinha recebido as notas pouco antes – ainda se desloca a uma loja para comprar umas colunas de 400 euros para dar ao advogado.

As entregas acontecem enquanto na Câmara de Gaia se discutia a viabilidade do empreendimento Alive Riverside, um conjunto de apartamentos com vista para o Douro, perto da ponte da Arrábida, que implica um investimento de 110 milhões e cuja conclusão está prevista para o Verão de 2025. “Ficará também a 200 metros da futura linha de metro Rubi, que deverá ligar o Porto a Santo Ovídio em 2025”, lê-se no site do empreendimento do grupo Fortera.

A Polícia Judiciária confirmou esta terça-feira ter feito sete detenções no âmbito da chamada Operação Babel, referindo-se a “um titular de cargo político [Patrocínio Azevedo], dois funcionários de serviços autárquicos, um funcionário de Direcção Regional de Cultura do Norte, dois empresários e um profissional liberal”. Dá conta ainda que foram constituídos 12 arguidos, sem indicar que do rol fazia parte o presidente da câmara gaiense, Eduardo Vítor Rodrigues.

Adiantava ainda que o caso se centrava “na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projectos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”.

Não dizia era que em causa estavam três inquéritos independentes, um processo mãe (no âmbito do qual está detido o vice da câmara de Gaia e mais quatro pessoas) e dois filhos, um em que os detidos são dois funcionários que trabalharam no urbanismo do município do Porto e outro sem presos.

O que liga os dois casos com detidos são os empresários Paulo Malafaia e Elad Dror, que mantinham negócios imobiliários nas duas cidades. Se num caso o suspeito de corrupção passiva é o vice-presidente gaiense, no outro são os tais funcionários que trabalhavam no urbanismo, um que ainda está na Câmara do Porto e outro que já saiu. O facto de a PJ ter apreendido o telemóvel do vereador do urbanismo, Pedro Baganha, e a um dirigente poderão fazer escalar as suspeitas, mas para já não existem indícios contra estes responsáveis.

Enquanto uns inspectores estavam na Gaiurb, outros encontravam-se no Departamento de Urbanismo do Porto e outros ainda deslocavam-se à Metro do Porto. Aqui recolheram informações sobre a nova Linha Rubi, cujo traçado chegou a originar um parecer negativo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte no âmbito do projecto do Alive Riverside. Esta linha, cujo projecto implica um investimento de 435 milhões de euros financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência, irá ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, em Gaia.

Torre de 28 andares

Criada em 2015 para actuar no segmento imobiliário de luxo, a Fortera tem em curso a construção da torre mais alta do país no futuro Centro de Congressos de Gaia, com 28 andares e cem metros de altura, um dos empreendimentos que também terá sido favorecido.

Situado na Rua do General Torres, nas traseiras da Câmara de Gaia, o edifício terá 160 quartos de hotel e 111 apartamentos com serviço, um terraço, uma piscina infinita, um clube de bem-estar, bar, dois restaurantes e vista panorâmica.“Temos mais de 700 milhões de euros de projectos em curso para os próximos cinco anos”, refere o site da Fortera.

Paulo Malafaia tinha sido detido em Janeiro passado no âmbito do inquérito que envolveu o então presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, que entretanto renunciou ao cargo. Miguel Reis ficou a aguardar o desenrolar do caso com o nome Operação Vórtex em prisão preventiva, enquanto a Malafaia foi aplicada uma caução de 60 mil euros, que pagou sem recorrer. Não é por coincidência que o empresário está envolvido nos dois inquéritos. É que o Vórtex também teve na sua origem uma certidão do caso que envolve o vice da Câmara de Gaia. com Ana Henriques e Margarida Gomes

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