Secretário da Defesa dos EUA alertou ministro chinês para as “actividades provocadoras” em Taiwan

Lloyd Austin e Dong Jun, ministro da Defesa da China, reuniram-se em Singapura. Falaram sobre Taiwan, a Ucrânia, o mar do Sul da China e Gaza e concordaram em manter as linhas de comunicação abertas.

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Encontro entre Lloyd e Dong foi o primeiro frente-a-frente entre responsáveis pela Defesa dos EUA e da China em quase dois anos Chad J. McNeeley / US Department of Defense (DoD) HANDOUT / EPA
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O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa da República Popular da China, Dong Jun, reuniram-se esta sexta-feira em Singapura para o primeiro encontro frente a frente em quase dois anos, tendo concordado com a importância de manterem as linhas de comunicação abertas.

Numa reunião que durou cerca de 75 minutos, Austin e Dong conversaram sobre a tensão em redor de Taiwan, as disputas territoriais no mar do Sul da China, os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza e os mais recentes desenvolvimentos de ambos os países em temas relacionados com a energia nuclear, a cibersegurança e o espaço.

Num comunicado publicado pouco depois do encontro, realizado à margem da 21.ª edição da cimeira de segurança Diálogo de Shangri-La, organizada pelo think tank International Institute for Strategic Studies, o major-general da Força Aérea norte-americana Patrick Ryder deu conta das críticas e avisos que Austin endereçou ao seu homólogo chinês sobre as “actividades provocadoras” do Exército de Libertação do Povo chinês (ELP) perto do território taiwanês, que Pequim reivindica como uma província chinesa.

“O secretário manifestou preocupação com as recentes actividades provocadoras do ELP perto do estreito de Taiwan e reiterou que a RPC [China] não deve usar a transição política em Taiwan – que faz parte de um processo democrático normal e rotineiro – como pretexto para medidas coercivas”, informou Ryder.

Em causa estão os exercícios militares levados a cabo na semana passada pelo Exército, pela Força Aérea, pela Força de Rockets e pela Marinha do ELP, simulando um bloqueio militar ao território, poucos dias depois da tomada de posse do novo Presidente taiwanês, Lai Ching-te (eleito em Janeiro), descrito pelas autoridades chinesas como um “desordeiro” e um “separatista”.

Pequim e as “forças separatistas”

Sob o nome oficial de República da China, Taiwan é governada de forma autónoma desde 1949, tem um sistema democrático desde inícios da década de 1990, conta hoje com mais de 23 milhões de habitantes e é uma potência económica no campo dos semicondutores. Ainda assim, só é reconhecida diplomaticamente por 12 países.

Apesar de não serem um deles e de reconhecerem o princípio “uma só China”, que trata Taiwan e a China continental como parte da mesma entidade soberana, os EUA estão obrigados, por lei, a fornecer meios à ilha para esta se defender militarmente, e têm adoptado uma linha de actuação e de comunicação sobre o território asiático conhecida como política de “ambiguidade estratégica”.

Citado pela Reuters, Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa da China, disse que o ministro Dong respondeu a Austin insistindo que as questões relacionadas com Taiwan fazem parte dos “assuntos internos” chineses e afirmando que a forma como os EUA se relacionam com o território envia um sinal errado às “forças separatistas” taiwanesas. Acrescentou, ainda assim, que o diálogo entre os dois dirigentes políticos foi “positivo, prático e construtivo”.

Em Taipé, o novo ministro da Defesa Nacional taiwanês, Koo Li-hsiung, reagiu ao encontro sublinhando que, “se a China parar com as provocações e a intimidação, é possível manter a paz e a estabilidade” no estreito de Taiwan. As autoridades políticas e militares de Taiwan dizem estar a preparar-se para uma invasão chinesa do território durante a próxima década.

No primeiro encontro cara a cara com um ministro da Defesa chinês desde Novembro de 2022 – quando se reuniu com Wei Fenghe, que ocupava a pasta na altura –, Lloyd Austin também conversou com Dong Jun sobre a “importância do respeito pela liberdade de navegação em alto-mar, garantida pelo direito internacional, particularmente no mar do Sul da China”, onde Pequim reivindica uma área com cerca de 3,5 milhões de quilómetros quadrados, que choca com reivindicações das Filipinas, da Malásia, do Brunei e do Vietname.

Segundo Ryder, o secretário da Defesa norte-americano alertou ainda para “a guerra não provocada da Rússia contra a Ucrânia e para o papel [da China] no apoio à base industrial da defesa da Rússia”.

Em declarações ao South China Morning Post, à margem da cimeira de Singapura, o tenente-general chinês He Lei sublinhou a importância de Dong ter podido “reiterar a posição da China sobre os seus interesses fundamentais” e defendeu que um regresso a uma normalidade comunicacional com Austin “terá um efeito positivo” no “controlo dos riscos e das divergências entre as Forças Armadas” da China e dos EUA.

Dong Jun assumiu a pasta da Defesa chinesa há apenas seis meses, tendo substituído Li Shangfu, afastado em condições pouco claras depois de ter desaparecido do espaço público no Verão do ano passado.

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