Produtos menstruais grátis: “Queremos combater a pobreza menstrual, mas de forma sustentável”
Filipe Pacheco é vereador da Câmara Municipal de Almada e fala da distribuição de produtos menstruais grátis a estudantes do concelho. Governo quer esta medida em todo o país.
O Governo anunciou esta quinta-feira que pretende que as escolas e centros de saúde do país disponibilizem produtos de higiene menstrual gratuitamente.
Desde Fevereiro que a Câmara Municipal (CM) de Almada entrega, gratuitamente, alguns kits de menstruação sustentáveis nas escolas. A autarquia, que começou por entregar um kit com dois pensos higiénicos reutilizáveis e um copo menstrual a 10% das alunas do 7º e 12º ano do concelho, pretende alargar a medida.
Filipe Pacheco, vereador do PS com pelouro do Desporto e Juventude, fala sobre a medida que, em Setembro, pode alcançar todo o país.
De onde partiu a iniciativa da distribuição de kits menstruais nas escolas do concelho?
Em Almada, no distrito de Setúbal, existe o Conselho Municipal da Juventude e esta proposta, de distribuir gratuitamente nas escolas produtos de higiene feminina, foi feita junto deste órgão e aprovada por unanimidade. Consequentemente, foi apresentada à Câmara Municipal.
A Câmara Municipal acolheu essa recomendação e pô-la em prática em articulação com o Conselho Municipal da Juventude. Mas tínhamos aqui um duplo objectivo. Por um lado combater o problema da pobreza menstrual. A menstruação não devia estar associada a custos tão avultados. Por outro, fazê-lo de forma ambientalmente sustentável.
Como funciona a distribuição dos kits?
A Câmara Municipal adquiriu kits compostos por dois pensos reutilizáveis e um copo menstrual.
Inicialmente, identificámos o número de alunas no concelho, do 7º ao 12º ano, e resolvemos adquirir produtos para 10% do número total. Escolhemos os 10% porque não tínhamos nenhuma expectativa sobre a dimensão da procura e também quisemos evitar o desperdício. Afinal, não faz sentido usar produtos sustentáveis se depois os íamos desperdiçar. Vamos usar a experiência deste ano para perceber se o número é suficiente. Caso não seja, evidentemente queremos alargá-lo.
A CM vai às escolas, entrega os kits e depois a distribuição é assegurada pelos docentes ou fica disponível num local na escola para que as alunas que tenham essa necessidade possam ir buscar os artigos de higiene. Essa dimensão foi deixada nas mãos das escolas, que melhor saberão como chegar às alunas que precisem.
A par da distribuição também fizemos acções de sensibilização para produtos de higiene feminina, nomeadamente reutilizáveis.
A recepção tem sido muito positiva, quer por parte dos professores quer por parte das alunas, mesmo nas acções de formação.
Quais foram as maiores dificuldades no processo de execução da medida?
Na verdade, não sentimos dificuldades. Como foi uma decisão unânime, tudo correu com relativa rapidez e facilidade. Talvez se mudarmos a palavra para “estranheza”, aí sim, sinto que houve alguma. Sentimos que algumas alunas nos receberam, e à ideia, com alguma estranheza e sensação de novidade. Algumas não conheciam estes produtos menstruais sustentáveis, provavelmente por estarem habituadas a outros.
Qual é o futuro desta medida?
Para além de avaliar a necessidade de aumentar ou diminuir a distribuição, no fundo, queremos continuar com a medida. Teremos sempre a intenção de distribuir produtos de higiene feminina, desde que sustentáveis.
O Governo lançou, na passada quinta-feira, a intenção de colocar os produtos menstruais gratuitamente em escolas e centros de saúde a partir de Setembro. Naturalmente vamos ver como conseguimos cruzar o que já temos com aquilo que se quer fazer.