Vice-chefe do Estado-Maior do Exército russo detido por corrupção
Vadim Shamarin, acusado de receber um suborno, é o quarto alto responsável militar russo a ser detido no espaço de um mês.
O vice-chefe do Estado-Maior do Exército russo foi detido depois de ter sido acusado de aceitar um suborno avultado, noticiaram esta quinta-feira os meios de comunicação social russos, o último de uma série de casos de corrupção de alto nível que abalaram as altas patentes militares.
A detenção do tenente-general Vadim Shamarin, confirmada às agências noticiosas russas por um tribunal militar, é a quarta de um alto responsável da defesa no espaço de um mês desde 23 de Abril, quando o vice-ministro da Defesa, Timur Ivanov, foi colocado em prisão preventiva por suspeita de ter aceitado subornos.
Desde então, foram também detidos o tenente-general Yuri Kuznetsov, chefe do pessoal do Ministério da Defesa, e o major-general Ivan Popov, antigo comandante do 58.º Exército russo.
Shamarin é responsável desde 2020 pela supervisão do Corpo de Sinais do Exército, que tem a cargo as comunicações militares. A sua casa terá sido alvo de buscas no âmbito da investigação e foi colocado em prisão preventiva durante dois meses.
Esta série de detenções, o maior escândalo a atingir o Exército russo nos últimos anos, ocorre numa altura em que a Rússia recuperou a iniciativa no campo de batalha na Ucrânia e tem um novo ministro da Defesa, o economista Andrei Belousov, ao seu comando.
A nomeação de Belousov, que não tem experiência militar, foi amplamente vista como uma medida para eliminar o desperdício e a corrupção nas despesas com a defesa. Serguei Shoigu, o anterior ministro, foi transferido para o cargo de secretário do Conselho de Segurança da Rússia.
Sem um fim óbvio à vista para a guerra, que já vai no seu terceiro ano, as detenções parecem estar na base de um grande esforço para acabar com a corrupção em torno da adjudicação de lucrativos contratos militares, para tentar garantir que o complexo militar-industrial está a produzir o máximo possível pelo preço certo.
O Kremlin, que afirmou não estar autorizado a revelar pormenores sobre o caso, minimizou a detenção de Shamarin e disse que estava a ser levado a cabo um trabalho anti-corrupção semelhante em várias agências estatais russas.
“A luta contra a corrupção é um trabalho consistente”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “Não se trata de uma campanha, é um trabalho constante e contínuo”.
Outros casos noutras agências estão a ser investigados. Na quinta-feira, os investigadores pediram a um tribunal de Moscovo que colocasse o vice-chefe dos serviços prisionais da região de Moscovo em prisão preventiva num caso de suborno.
Serguei Markov, um antigo conselheiro do Kremlin, disse à Reuters que a detenção de Shamarin era a continuação de uma grande remodelação nos generais de topo do Exército.
“A detenção de Shamarin, vice-chefe do Estado-Maior, não é apenas uma detenção, mas também uma auditoria em grande escala do trabalho da Direcção Principal de Comunicações pela Câmara de Auditoria”, disse Markov, para quem um dos objectivos da investigação é “aumentar o moral do Exército e equipá-lo com equipamento moderno de comunicações e sistemas de orientação de mísseis e artilharia”.
Um influente blogger militar próximo do Ministério da Defesa, conhecido pelo nome de “Rybar” e com mais de um milhão de seguidores, disse que a detenção e outras semelhantes eram lógicas, mas que os investigadores provavelmente tinham ficado muito tempo à espera das alegadas irregularidades antes de actuarem.
“E o resultado é uma situação ideal para todos”, escreveu Rybar na aplicação Telegram. “Os combatentes na frente recebem uma mensagem positiva, a equipa do novo ministro da Defesa começa bem, os problemas começam a ser imediatamente resolvidos e a população festeja”, afirmou.
Shamarin é adjunto de Valery Guerasimov, chefe do Estado-Maior General, que não foi acusado de qualquer irregularidade, embora tenha por vezes enfrentado duras críticas sobre o desempenho das Forças Armadas russas desde a invasão da Ucrânia em Fevereiro de 2022, que Moscovo classifica oficialmente como "operação militar especial".
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse na semana passada que não planeava mudanças no Estado-Maior porque o “trabalho de combate” estava a ser bem-sucedido.