A anatomia de uma “poeta torturada”: as 11 eras de Taylor Swift em 11 gráficos

Onze álbuns, seis digressões e quatro regravações – Taylor Swift está na estrada há mais de um ano com a Eras Tour e, na semana em que se estreia em Portugal, o PÚBLICO decide explorar as suas eras.

Foto
Taylor Swift actua esta sexta e sábado no Estádio da Luz, em Lisboa BUDA MENDES/GETTY IMAGES
Ouça este artigo
00:00
07:40

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Nunca as estrelas se alinharam como para Taylor Swift: desde os primeiros dias de adolescente sonhadora do country até se transformar numa das maiores estrelas pop do nosso tempo, a influência que a cantora agora tem faz a terra tremer. Dona de uma carreira de quase 20 anos, Swift tornou-se sinónimo de uma reinvenção artística sem precedentes. Esta sexta-feira e sábado, 24 e 25 de Maio, respectivamente, Taylor Swift sobe ao palco no Estádio da Luz, em Lisboa, para dois concertos esgotados há meses.

Da evolução das narrativas que explora em canção às escolhas artísticas e às pequenas tendências de vocabulário, a anatomia do extenso portefólio de Taylor Swift é posta em evidência em 11 gráficos, para acompanhar as suas 11 eras.

Em constante metamorfose, Taylor Swift começa aos 17 anos numa pequena gravadora de Nashville a escrever sobre tudo e todos que a atormentavam em adolescente. Muito mudou desde então, mas não a escrita “diarística”.

Os temas mais explorados vão mudando de acordo com marcos significativos. Músicas relacionadas com raiva e tristeza aumentam em Speak Now e Red devido às primeiras experiências da cantora com relacionamentos tóxicos amorosos e músicas introspectivas (40,9%) crescem com a mudança para Nova Iorque em 1989.

A excepção à regra são os álbuns que compôs durante a pandemia de covid-19: Folklore e Evermore. Considerados irmãos pela própria, 35,3% das canções destes exploram enredos com personagens fictícias em que, de acordo com a cantora, “as linhas entre fantasia e realidade se esbatem e as fronteiras entre a verdade e a ficção se tornam quase indiscerníveis”.

A honestidade de Taylor Swift na escrita, especialmente no que se refere a relacionamentos e como estes marcaram o crescimento da cantora dentro e fora do olhar público, é de destacar: afinal, o romance é dos temas mais predominantes na discografia.

Lover e Reputation – que retratam o momento em que a cantora entra num dos relacionamentos mais duradouros – são os discos com maior quantidade de músicas positivas neste género, compreendendo quase 20% do total do conjunto. Já álbuns como Fearless e The Tortured Poets Department (TTPD) são os que mais contribuem para as percentagens negativas e estão, normalmente, mais associados a sentimentos de raiva e mágoa.

Pode equiparar-se estes números às músicas introspectivas que compõe, já que quase metade (47,1%) das faixas se relacionam com emoções negativas.

Desde o início da carreira que Swift trabalha os álbuns e o marketing com pequenas surpresas e mensagens escondidas para os fãs (easter eggs): nos vídeos, nas letras, nas fotografias promocionais e mesmo numa instalação física em Los Angeles para promover o álbum TTPD. A quinta faixa dos discos é outro dos pequenos detalhes que a estrela pop criou para os swifties.

Desde o lançamento de Red — onde se inclui o tema All too well, uma das músicas mais reconhecidas pela crítica — que os fãs da cantora e compositora associam a quinta faixa dos álbuns à música mais emocionalmente devastadora. No entanto, este padrão estava presente mesmo antes, sendo ou não propositado.

Até 1989, todas as músicas retratavam ou um relacionamento ou o seu término e emoções como raiva, arrependimento e mágoa estão associadas a quatro de cinco destas faixas ímpares. As canções referentes às ansiedades começam a partir de Delicate, que é uma exploração sobre as consequências da fama na vida amorosa, e estendem-se para faixas como The Archer, my tears ricochet e, mais tarde, You’re on your own, kid.

É possível que, para o ouvinte pouco atento, as intenções da cantora possam ser mascaradas com um beat um pouco mais enérgico. Numa escala onde 0 é o valor mais negativo e 1000 o mais positivo, a maioria destas faixas têm um resultado abaixo de 300 tanto na energia como na positividade.

A única excepção é All you had to do was stay, que retrata uma relação que se desmorona devido à indecisão de uma das partes – sonoramente positiva em ambos os requisitos, porém, não tematicamente.

Músicas autobiográficas, letras autocentradas – Swift já se referiu a si mesma com o pronome “Eu” mais de 3000 vezes com 366 variantes diferentes de palavras a acompanhá-lo. E mesmo quando a cantora se refere directamente a outras pessoas através do “Tu”, grande parte das frases acabam por referir a cantora e os seus desejos e opiniões referentes ao indivíduo (64,4%).

Com uma forma diarística de escrita, Taylor Swift é conhecida entre os fãs por utilizar palavras únicas e, por vezes, complexas: 45.2% dos álbuns são constituídos por palavras únicas, sendo Folklore o álbum com maior predominância (63,2%).

Dessas palavras 6,2% são compostas por nove ou mais caracteres. A palavra mais comprida é miscommunications (falhas de comunicação), com 17 caracteres e seis sílabas, seguido por sanctimoniously (de maneira hipócrita) e disappointments (desilusões), ambas com 15 caracteres.

No outro espectro, Fearless é o disco com mais palavras repetidas (47,2%), seguido de 1989 (46,7%). Seis das dez palavras mais repetidas em 1989 estão, cada uma, concentradas numa só faixa, sendo esta uma constante pelo álbum. Em Shake It Off, um dos singles promocionais mais populares do álbum, quatro palavras-chave (shake, fake, play e break) são recorrentes e ocupam, juntas, 47% do vocabulário da música.

The Tortured Poets Department constitui um marco na discografia de Taylor Swift – é, de longe, o álbum mais negativo em termos sonoros e também o mais parado. Esta parece ser uma tendência desde a entrada da cantora na casa dos 30, que é acompanhada pelo lançamento de Folklore. Já os álbuns country Taylor Swift, Fearless e Speak Now são, em conjunto, os mais intensos e enérgicos do seu portefólio.

Com uma média de positividade mais baixa, Reputation é singular quando colocado a par com 1989 e Lover, também álbuns pop, equiparando-se mais facilmente à melancolia emocional do pop de Midnights.

Swift destaca, em comentário à Amazon Music, que The Tortured Poets Department é “um álbum muito fatalista” com “falas muito dramáticas sobre a vida ou a morte” – o que se comprova facilmente no conteúdo. Mais de metade das músicas do duplo lançamento de 19 de Abril de 2024 (54,8%) refere sentimentos ou pensamentos gerais sobre a morte.

Taylor Swift passa grande parte da discografia sem mencionar um único palavrão – jovem e com uma imagem inocente, a cantora utilizou um só palavrão (damn em Cold as you) nos três primeiros álbuns.

Os palavrões sofreram um aumento exponencial com TTPD, e 41,8% dos utilizados estão no novo álbum. Estes só começaram a ser mais predominantes a partir de Midnights (25,6%), com alguns indícios nos álbuns folk (12,4% em Evermore e 7,8% em Folklore).

Nas notas de lançamento de Red, Swift associa o vermelho a “[relações] que passaram de zero a 100 e depois bateram numa parede e explodiram”, algo “ridículo”, “desesperado” e “emocionante”. Mas o “amor verdadeiro brilha em dourado como as estrelas”.

Taylor Swift faz 283 referências a cores nas músicas e o vermelho é o dominante (32,9%). Surpreendentemente, este consta em mais músicas não no álbum com o mesmo nome mas em 1989, participando em seis faixas. Já o dourado é referido 23 vezes, sendo encontrado principalmente em Evermore.

O amarelo é a única cor primária nunca mencionada ao longo da discografia. Os dourados aproximam-se dele, mas o âmbar é o mais significativo – Taylor recorda a avó em marjorie no tempo frio de Outono, sublinhando os céus âmbar que com ele apareciam.

Texto editado por Ana Maria Henriques


Texto actualizado às 13h06: foi acrescentada a metodologia por detrás do trabalho

Sugerir correcção
Ler 2 comentários