Uma carteira da Dior está a fazer tremer a popularidade de Yoon Suk-yeol como Presidente da Coreia do Sul, sobretudo após a derrota legislativa do seu partido, em Abril. A primeira-dama, Kim Keon Hee, terá aceitado o objecto de luxo, no valor de dois mil euros, como um presente, numa situação que suscitou dúvidas, obrigando o chefe de Estado a pedir desculpas publicamente.
A lei anti-suborno da Coreia do Sul proíbe os funcionários públicos, assim como os seus familiares directos, de receberem presentes de valor superior a 700 euros.
Durante a sua primeira entrevista em cerca de dois anos, Yoon, do conservador e neoliberal Partido do Poder Popular, sublinhou o empenho da sua administração em melhorar as condições de vida dos sul-coreanos, tendo anunciado um novo ministério que terá como objectivo lidar com o problema da baixa taxa de natalidade (0,81 em 2023, a mais baixa de todo o mundo há seis anos consecutivos).
O Presidente da Coreia do Sul aproveitou o momento para, finalmente, tentar sanar o debate que atingiu a nação nos últimos meses, depois de, em Novembro, ter surgido um vídeo, gravado sem conhecimento da primeira-dama, que mostra a mulher do chefe de Estado a aceitar uma mala de luxo.
No vídeo, vê-se Kim a receber uma Lady Dior Pouch de um pastor coreano-americano, Choi Jae-young. “Porque é que continuam a trazer isto? Por favor, não precisa de fazer isto”, ouve-se a primeira-dama dizer. No vídeo, a carteira fica poisada na mesa, não sendo claro se a mulher ficou com ela ou não.
A cena foi captada pelo próprio Choi, que recorreu a uma câmara secreta no seu relógio de pulso, que lhe foi fornecida pelo Voice of Seul, um canal do YouTube associado à esquerda e crítico do Presidente Yoon, e, segundo o pastor, ocorreu no gabinete pessoal de Kim, na sua empresa de exposições de arte, em Setembro de 2022.
Agora, Yoon pediu desculpas, mas não deixou de apontar o dedo à forma como o vídeo foi captado e à altura em que foi revelado: “Tratou-se claramente de uma manobra política, envolvendo imagens de câmaras ocultas captadas há um ano e divulgadas antes das eleições”, declarou durante a entrevista à emissora pública KBS. O Presidente, que não esclareceu se a mulher tinha ficado com a carteira, considerou ainda que a primeira-dama devia ter sido mais directa na recusa: “Daqui para a frente, a minha mulher e eu temos de ser mais claros e firmes quando lidamos com as pessoas, para que o público não se preocupe.”
Uma primeira-dama fashionista
O ataque da oposição a Kim Keon Hee parece ter servido os interesses do Partido Democrático, que venceu as legislativas de Abril. Mas também pode ter dado munições aos opositores de Yoon dentro do seu próprio partido, de cariz conservadora, que não vêem com bons olhos uma primeira-dama que, ao contrário das suas antecessoras, reclama por protagonismo.
Aos 51 anos, Kim não se limita a ser a mulher do Presidente, ao ter uma carreira de sucesso como curadora de exposições de arte e uma voz activa: é uma crítica do comércio de carne de cão e não perde uma oportunidade para promover a cultura do seu país. E, como fashionista que é, destaca-se constantemente ao exibir ao resto do mundo o glamour de algumas etiquetas nacionais. Além disso, o casal não protagoniza o ideal conservador de família, ao não ter filhos, mas uma série de gatos e cães.
Kim ainda não abordou o tema, mesmo depois de o marido ter pedido desculpas pela carteira Dior.