Açores à procura de respostas para minimizar fecho do maior hospital da região

Hospital de Ponta Delgada encerrou devido a um incêndio e só ficará operacional dentro de dois anos. Nesta semana, vão ser retomados, de forma lenta, alguns serviços prioritários.

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O fogo só consumiu o edifício onde está localizado o posto de transformação eléctrica, mas os danos alastraram a toda a unidade hospitalar Rui Soares
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O Hospital de Ponta Delgada pretende começar a reactivar alguns serviços de forma lenta e gradual nesta semana, após o incêndio que deflagrou no sábado dia 4 de Maio, mas aquela unidade de saúde demorará pelo menos dois anos a voltar à plenitude de funções. A resposta, para já, passa pelo reforço dos centros de saúde e pela instalação de soluções provisórias – como um posto avançado de saúde ou um hospital de campanha –, na tentativa de minimizar o impacto do fecho do maior hospital do arquipélago.

“Foi o hospital principal dos Açores, que serve mais de metade da população, que serve não só São Miguel mas também outras ilhas e que tem serviços que não existem noutros locais da região, que simplesmente fechou de um dia para o outro”, contextualiza ao PÚBLICO André Frazão, responsável pelo Sindicato Independente dos Médicos.

O médico alerta para a “complexidade” da situação, elogiando o “enorme esforço de adaptação” dos profissionais de saúde e apelando à população para “pensar bem” antes de recorrer ao Serviço Regional de Saúde. “Temos de ter noção que é um hospital de fim de linha que está fechado. Isso é uma realidade que as pessoas têm de enfrentar...” Perante o cenário, não “existem soluções de um dia para outro”, apenas respostas “intermédias para minimizar” as consequências, realça André Frazão.

O Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) quer reactivar de forma faseada as unidades de oncologia e de hemodiálise nesta semana, tidas como “prioritárias”, tendo já iniciado tratamentos a alguns doentes nesta segunda-feira. Na ilha de São Miguel não existem outras unidades com serviço de hemodiálise, obrigando à transferência de doentes. Entre pacientes de hemodiálise, doentes de cuidados intensivos, grávidas e recém-nascidos, já foram deslocados de São Miguel mais de 140 pessoas. No dia do incêndio, 93 pacientes receberam alta e 240 foram transferidos para centros de saúde, clínicas e para o hospital da CUF.

“Em termos de reactivação, não será ainda esta semana. Provavelmente serão reactivadas as duas unidades de oncologia e hemodiálise, mas será feito muito lentamente”, adiantou a directora clínica do HDES, Paula Macedo, no final do dia da última quarta-feira, na primeira vez que a administração do hospital falou em público após o dia do incêndio.

Na sessão, sem direito a perguntas dos jornalistas, a presidente do conselho de administração revelou que foi aberto um processo de averiguações para apurar causas do fogo e garantiu que o quadro eléctrico (onde o incidente teve início) tinha as vistorias em dia.

“As últimas duas vistorias que foram realizadas ao quadro eléctrico geral e central do Divino Espírito Santo foram feitas em Novembro de 2023 e Março de 2024. Isso significa que as vistorias estavam em dia”, garantiu Manuela Gomes de Menezes. A Polícia Judiciária também está a investigar a origem do fogo.

Ainda está por apurar a extensão dos prejuízos, sabendo-se já que, além das consequências na rede eléctrica, o incêndio comprometeu, por exemplo, a qualidade da água e as zonas técnicas de controlo de ar. O fogo só consumiu o edifício onde está localizado o posto de transformação eléctrica, mas os danos alastraram a toda a unidade hospitalar. “O sistema está todo prejudicado. É preciso fazer ver às famílias e aos utentes que isto é mais grave do que aparenta face à zona sinistrada”, afirmou o presidente do governo regional, José Manuel Bolieiro, acrescentando que demorará pelo menos dois anos para voltar a ter o hospital totalmente operacional. “Isso vai demorar muito tempo.”

Até lá, os serviços de saúde da região procuram adaptar-se: os centros de saúde e clínicas receberam um reforço de meios do HDES e o hospital privado da CUF procura assistir os casos mais graves. André Frazão, médico no Centro de Saúde de Ponta Delgada, relata as mudanças no local de trabalho: “Teve de haver um grande reajuste porque o edifício-sede, onde estavam médicos de família e enfermeiros ligados aos cuidados de saúde primários, está neste momento ocupado por serviços do hospital”.

Os centros de saúde estão a funcionar com serviço de urgências, a Cruz Vermelha vai criar um posto médico avançado num pavilhão desportivo em Ponta Delgada e no local do HDES vai ser instalado (em data a anunciar) um hospital de campanha. Em caso de urgência, a recomendação é que a população contacte a linha de saúde antes de se deslocar a qualquer unidade.

Os Açores têm três hospitais públicos em diferentes ilhas: um em São Miguel, outro na Terceira e outro no Faial. Do HDES ao hospital mais próximo (o do Santo Espírito, na ilha Terceira) distam cerca de 190 quilómetros por via aérea.

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