“Não iremos deixar que ninguém nos ameace”, garante Putin no Dia da Vitória
O Presidente russo fez um discurso em que acusou o Ocidente de querer esquecer o contributo da União Soviética para a derrota da Alemanha nazi e de hoje apoiar forças neonazis.
Durante um inesperado nevão primaveril em Moscovo, o Presidente russo, Vladimir Putin, utilizou o seu discurso no Dia da Vitória para atacar o que diz ser o revisionismo histórico feito pelo Ocidente em relação à II Guerra Mundial e para garantir que tudo fará para assegurar os seus objectivos.
Seguindo aquele que tem sido um dos temas predilectos dos seus discursos públicos, Putin acusou as elites ocidentais de “arrogância” na forma como diz terem posto de lado a contribuição da União Soviética para a derrota da Alemanha nazi na II Guerra Mundial. “Hoje vemos como tentam distorcer a verdade sobre a II Guerra Mundial, que interfere com aqueles que estão habituados a construir as suas políticas essencialmente coloniais tendo por base a hipocrisia e mentiras”, afirmou o Presidente russo.
O Dia da Vitória – assinalado na Rússia a 9 de Maio, e não a 8 como na Europa ocidental – é o mais importante feriado político russo e tem sido utilizado por Putin para mostrar as capacidades militares russas. Este ano, as celebrações acontecem dois dias depois da tomada de posse do Presidente para um quinto mandato e num momento em que as forças russas na Ucrânia têm conseguido tirar partido da escassez de munições dos seus adversários.
A vitória sobre a Alemanha nazi assume para Putin uma importância renovada no contexto da invasão da Ucrânia que, segundo o Kremlin, é governada por um regime neonazi com o beneplácito do Ocidente – as forças ultranacionalistas têm uma representação mínima no Parlamento ucraniano e não integram o Governo ou qualquer órgão governamental.
“O revanchismo, o abuso da História, e uma tentativa em justificar os actuais seguidores nazis são parte de uma política abrangente da parte das elites ocidentais para fomentar novos conflitos regionais”, acusou Putin.
A parada militar deste ano, para assinalar o 79.º aniversário da capitulação nazi, foi maior e mais participada do que nos dois anos anteriores, em que a imposição de medidas de segurança em Moscovo forçou a uma redução dos festejos. Cerca de 9000 militares e 61 exemplares de equipamento militar, incluindo um sistema balístico de mísseis intercontinentais, desfilaram na Praça Vermelha, segundo o Ministério da Defesa.
Sem qualquer presença de dirigentes ocidentais, ao lado de Putin estiveram os chefes de Estado da Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Turquemenistão, Tajiquistão e Usbequistão, assim como os de Cuba, Guiné-Bissau e Laos, segundo a Reuters.
Putin fez referências à “operação militar especial”, a designação oficial do Kremlin à invasão da Ucrânia, mas não anunciou qualquer novidade sobre potenciais novas acções do Exército russo.
“Inclinamos as nossas cabeças em memória dos civis mortos nos bombardeamentos bárbaros e actos terroristas dos neonazis e dos nossos companheiros de armas que morreram no combate justo contra o neonazismo”, declarou Putin.
Voltando-se para o auditório internacional, o Presidente russo voltou a acusar o Ocidente de querer pôr em causa a segurança mundial ao arriscar entrar num conflito directo com a Rússia. Putin respondia às sugestões de alguns líderes europeus sobre a possibilidade de se enviarem militares de países membros da NATO para a Ucrânia. Ainda esta semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, disse ser favorável ao envio de militares para dar formação aos soldados na Ucrânia.
“A Rússia fará tudo para impedir um conflito global, mas, ao mesmo tempo, não iremos deixar que ninguém nos ameace. As nossas forças estratégicas estão sempre alerta”, garantiu Putin.