Cineasta iraniano condenado a uma pena de oito anos de prisão e a flagelação

Mohammad Rasoulof está seleccionado para o Festival de Cannes, onde será apresentado — até ver... — o seu último filme, The Seed of the Sacred Fig.

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Mohammad Rasoulof quando ainda podia viajar: Cannes 2013 Andreas Rentz/Getty Images
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O iraniano Mohammad Rasoulof, 52 anos, realizador de O Mal não Existe, Urso de Ouro em Berlim em 2020, foi condenado por um tribunal revolucionário a uma pena de oito anos de prisão e a ser flagelado. Será submetido também a uma multa e a confiscação do seu património. O delito de que é acusado: "conluio com a intenção de cometer crimes contra a segurança do país".

“O motivo principal desta sentença é a subscrição de comunicados e a realização de filmes e documentários, que de acordo com o tribunal são exemplos de conluio com a intenção de cometer crimes contra a segurança do país”, informou ontem o advogado do cineasta, Babak Paknia, num comunicado citado por vários órgãos da imprensa internacional. Rasoulof está para já em liberdade. “Neste momento, o caso foi remetido para a execução de sentenças", explicou Paknia.

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O Mal não Existe, Urso de Ouro em Berlim, um filme sobre a pena de morte

A imprensa internacional noticia a pesada condenação, que acontece a poucos dias do início do Festival de Cannes (de 14 a 25 de Maio) onde o último filme de Rasoulof, The Seed of the Sacred Fig, vai ser exibido em competição, interpretando-a como pressão do governo iraniano para que a obra seja retirada do festival. Cannes, até agora, não reagiu.

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Um membro da equipa de O Mal não Existe recebe o Urso de Ouro em nome de Mohammad Rasoulof em 2020 CLEMENS BILAN/EPA-EFE/POOL/GETTY IMAGES

Segundo Paknia, vários actores e membros da equipa técnica do filme terão mesmo sido interrogados. Segundo o site IndieWire, o filme conta a história de um juiz do Tribunal Revolucionário em Teerão que lida com os efeitos dos protestos que têm varrido o país nos últimos anos — e é particularmente tomado pela paranóia quando a sua arma desaparece.

Rasoulof, que faz filmes desde 2002, teve já vários problemas com as autoridades iranianas. Preso pela primeira vez em 2010, juntamente com outro dissidente do regime, o cineasta Jafar Panahi, por alegadamente estar a filmar sem autorização, foi condenado a seis anos de prisão, sentença depois reduzida a um ano.

Em 2017, após uma viagem ao estrangeiro, as autoridades confiscaram-lhe o passaporte e ficou desde então proibido de sair do país.

Foi preso pela última vez em 2022, por criticar a violência usada pelas autoridades do Irão, que usaram bastonadas e gás lacrimogéneo contra manifestantes em Maio de 2022 quando protestavam contra o desmoronamento de um edifício em que pelo menos 41 pessoas morreram.

Realizou em segredo O Mal não Existe, filme em capítulos sobre a pena de morte que foi distribuído em Portugal pela Leopardo — por isso o Urso de Ouro, que não pôde receber pessoalmente porque estava proibido de sair do país, enfureceu as autoridades.

Já em 2017, não pôde deslocar-se a Cannes para receber o prémio máximo da secção Un Certain Regard por A Man of Integrity, filme que integrou a competição do Leffest em 2017.

E de nada valeu também uma petição conjunta de realizadores, endereçada ao governo iraniano, para que Rasoulof pudesse deslocar-se ao Festival de Cannes no ano passado para aí participar como jurado da secção Un Certain Regard.

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