Luís Carrilho: um homem que conhece os corredores do poder
Com vasto currículo em missões internacionais em áreas de conflito, novo director nacional da PSP tem espírito de missão. Resta saber se ficará ao lado dos seus homens quando chegar a hora da verdade.
Não é uma surpresa a nomeação do superintendente Luís Carrilho, de 58 anos, para o cargo de director nacional da PSP, graças ao seu vasto currículo quer em missões internacionais em áreas de conflito quer nos corredores do poder. Foi chefe da segurança pessoal do Presidente da República, tendo trabalhado com Cavaco Silva e, mais recentemente, com Marcelo Rebelo de Sousa, entre outras personalidades da política nacional.
Apesar de não ter as qualificações habitualmente exigidas para o cargo, o nome de Luís Carrilho era um dos falados para director nacional há escassos oito meses, quando o executivo liderado por António Costa acabou por optar por alguém com um perfil que havia de se revelar algo incómodo para o Ministério da Administração Interna: Barros Correia, o director nacional que, de forma quase inédita, se pôs do lado dos seus homens quando estes começaram a sair à rua em protesto para reivindicarem um suplemento salarial igual ao dos colegas da Polícia Judiciária.
Quem lida há muito com Luís Carrilho reconhece-lhe o perfil humanista que o seu antecessor, agora exonerado pelo executivo sem grandes explicações, também tinha. Mas com algumas diferenças: mais alinhado à direita do que à esquerda e, sobretudo, imbuído de um espírito de missão que pode fazer com que, quando chegar a hora da verdade, tenda a colocar-se mais do lado de quem manda do que do de quem tem de obedecer.
À frente da Unidade Especial de Polícia desde Outubro passado, deixou clara a sua forma de pensar nesta matéria quando extinguiu o grupo do corpo de intervenção que pôs baixa médica antes de um jogo do Benfica com o Gil Vicente como forma de protesto por melhores salários e condições de trabalho, distribuindo os seus efectivos por outras unidades.
Há quem diga que, quando o fez, se limitou a obedecer a ordens superiores, mas o facto de aceitar suceder a Barros Correia num cenário de descontentamento da classe, dizem alguns, significa que poderá ser menos tolerante com os protestos que antevê que possam voltar às esquadras e às ruas. Até porque as negociações da nova ministra da Administração Interna com os sindicatos não começaram bem.
O currículo de Luís Carrilho fora de portas inclui os principais cenários de conflito mundiais. Esteve na Bósnia nos anos 1990 e liderou uma missão em Timor, sempre sob a égide das Nações Unidas. Casado e com duas filhas, uma das quais é jornalista, serviu como comandante da Polícia das Nações Unidas em operações de manutenção da paz na República Centro-Africana, de 2014 a 2016, e no Haiti, de 2013 a 2014.
Nomeado conselheiro de polícia das Nações Unidas e director da divisão de polícia no Departamento de Operações de Paz da ONU em 2017, coordenou em 2018 e 2022 as reuniões do UNCOPS – United Nations Chiefs of Police Summit. Constam ainda do seu currículo diversas condecorações nacionais e estrangeiras (Brasil, Espanha, França, Timor Leste, Peru, Polónia, Áustria, etc.), incluindo a de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída pelo Presidente da República de Portugal em 2009, Grande Oficial da Ordem do Mérito, atribuída já em 2023, e o Outstanding Role Model Award pelo secretário-geral da ONU em 2015.
Aquando da entrega deste último galardão, deu uma entrevista ao Diário de Notícias na qual explicava que a dureza e a perigosidade de muitas destas missões nunca permitiram que a família o acompanhasse, embora o tivesse visitado de quando em vez. Questionado sobre se alguma vez tentou convencer as filhas a irem para a PSP, respondeu: “Gosto demasiado delas para isso.”
Nesta e noutras entrevistas defendeu o aumento do contingente feminino nestas missões, com o argumento de que as mulheres-polícias “têm melhor capacidade de dar protecção aos civis, nomeadamente às crianças, às mulheres, aos idosos e mutilados”.
Um jornal dedicado à comunidade lusófona, o Luso-Americano, contava em 2020 que o agora comandante nacional da PSP é filho de um polícia e nasceu por acaso do destino na ilha açoriana de Santa Maria, apesar de os progenitores serem da Beira Baixa. Aos cinco anos vai para Praia, em Cabo Verde, e dois anos mais tarde muda-se com a família para Campo de Ourique, frequentando o liceu Pedro Nunes. “Ainda entra para Engenharia Civil, mas o chamamento para a lei e ordem fala mais alto e acaba na Escola Superior de Polícia. Só cinco anos depois começa carreira policial no terreno, já com a patente de subcomissário, com a responsabilidade de comando na área de formação em Torres Novas e Santarém”, refere a mesma publicação.