O futuro de Rúben Amorim, “perdido” entre tantas possibilidades

A eventual saída do treinador interromperá um ciclo de invulgar estabilidade em Alvalade. E lançará mais incerteza sobre a equipa.

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ANTONIO PEDRO SANTOS / EPA
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E agora? O quadro que Rúben Amorim se propôs pintar em 2023-24 está praticamente pronto (ainda há umas pinceladas a dar na tela da Taça de Portugal) e a obra ficou concluída com corres vivas, de celebração e história. No desporto profissional, o amanhã prepara-se com a antecedência devida mas o dossier equipa técnica continua, até ver, a ser uma porta entreaberta no Sporting. Cabe ao treinador bicampeão e à direcção do clube decidirem se é para fechá-la definitivamente ou abri-la a um novo ciclo, com outro protagonista.

Há umas semanas, Rúben Amorim confessou em conferência de imprensa que o filho lhe tinha pedido que ficasse no Sporting, mesmo com o objectivo magno de conquistar o título nacional cumprido. “Até o meu filho me pede as duas coisas, mas o importante é o Sporting ser campeão”. Já foi. Agora, cabe ao treinador de 39 anos ponderar o que mais valoriza: a estabilidade do projecto que ajudou a relançar e a possibilidade de ir em busca de mais troféus, ou uma aventura de outra magnitude fora de portas, em palcos mais atractivos.

O capital que tem vindo a construir dentro e fora de portas fizeram com que o apelido Amorim começasse a circular ainda com mais velocidade pela Europa do futebol. Há colossos em fase de transição ainda com a vaga de treinador por preencher, há clubes com menos responsabilidade mas orçamentos muito generosos, há projectos em diferentes Ligas mas que oferecem uma possibilidade de alargar horizontes e uma margem de crescimento distintas.

Até ver, Rúben Amorim, fiel ao seu estilo de comunicação, tem tido o cuidado de deixar várias vias em aberto. Se, por um lado, já deixou no ar a ideia de que a continuidade em Alvalade é um cenário que preza, por outro não escondeu que vê com agrado a hipótese de saltar para outro patamar. E isso ficou bem claro aquando da viagem-relâmpago que fez a Londres, na semana que antecedeu o clássico com o FC Porto, para ouvir propostas para o futuro.

“Obviamente que foi um erro. Foi um erro a minha viagem, o timing foi completamente desajustado, ainda para mais quando eu sou tão exigente com os meus jogadores, sou sempre o primeiro a dizer que os problemas individuais não se podem sobrepor à equipa”, admitiu, dias depois do regresso a Lisboa.

Para o Sporting, como para qualquer outro clube com um rumo definido, um projeto desportivo estável e uma ideia de jogo consolidada, ser obrigado a mudar de timoneiro implicará navegar em águas relativamente desconhecidas. De resto, para encontrarmos uma aposta tão estável em Alvalade é necessário recuar até 2005, altura em que Paulo Bento tomou conta da casa, permanecendo no cargo durante quatro anos, precisamente o mesmo período que leva Rúben Amorim, que tem contrato até 2026. Entre os dois, o Sporting coleccionou 18 treinadores.

Para aqueles que se questionam sobre se as qualidades de Amorim estarão à altura das exigências de um desafio maior, José Mourinho deixa uma opinião: “O que posso dizer? Gosto dele como pessoa e como treinador. Tem condições para treinar em qualquer Liga e em qualquer clube”, afirmou, há dias, em Vila do Conde, o multititulado treinador português, com larguíssima experiência (e sucesso) na Premier League.

Não será, portanto, uma questão de preparação ou de oferta, mas sim de vontade. E nesse patamar o próprio Ruben Amorim já deixou fugir que o futuro está longe de ser uma imagem nítida na sua cabeça. “Eu estou mais perdido do que vocês [jornalistas]. Não sei o que fazer. O único objectivo agora é ser campeão e depois logo se vê”. O título está ganho, é tempo de ver o que fazer.

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