Rúben Amorim quebrou uma maldição com 70 anos
Apenas três treinadores conseguiram ser campeões no Sporting mais do que uma vez. O último, Joseph Szabo, chegou ao “tri” em 1954.
Rúben Amorim é o 88.º treinador da história do Sporting, já é o segundo com mais jogos (210) e com mais vitórias (146), e já ninguém lhe tira um lugar na história dos “leões”. O segundo título de campeão reforça a sua posição entre os técnicos mais bem-sucedidos de sempre no clube porque não foram assim tantos os que conseguiram repetir. Antes dele, apenas três mais um (que não pode ser bem considerado um bicampeão), mas isso foi num tempo em que o Sporting era a equipa dominante do futebol português e é desta era que vêm muitos dos recordes “leoninos”, o tempo dos “Cinco Violinos”. Pondo as coisas nestes termos: há 70 anos que o Sporting não tinha um treinador bicampeão.
Joseph Szabo
Os 11 primeiros títulos de campeão no futebol português foram conquistados por treinadores húngaros. Joseph Szabo, que entrou no futebol português via Madeira (jogou no Nacional e no Marítimo), foi o primeiro treinador campeão, pelo FC Porto, em 1935, e repetiu a dose em 1941, com o Sporting, também conquistando o Campeonato de Lisboa e a Taça de Portugal. Essa era uma equipa que já tinha Fernando Peyroteo, o maior goleador da história do clube e do futebol português, mas ainda não tinha a companhia dos outros “violinos” – tinha outro goleador ao lado, Manuel Soeiro.
Szabo manteve-se no banco dos “leões” até 1944, ano em que conquistaria novo título de campeão, ainda com Peyroteo, mas já com Albano e um Jesus Correia a começar. O húngaro teve carreira longa e diversa no futebol português (treinou 12 equipas diferentes até 1964) e ainda regressou ao Sporting para mais um título em 1953-54, a fechar o ciclo mais vitorioso da história do clube, o tetracampeonato. Szabo ainda é o treinador recordista do Sporting em jogos disputados (270) e vitórias alcançadas (207).
Cândido de Oliveira
Cândido de Oliveira teve uma vida que merece vários livros e que é impossível de resumir em poucas linhas – dizemos apenas que poucos serão tão importantes na história do futebol português como ele. Também no Sporting foi importante, sendo o primeiro treinador dos “leões” a vencer dois títulos de forma consecutiva, em 1948 e 1949 – e terá sido também o primeiro benfiquista assumido a ser campeão no Sporting.
O Sporting vinha de uma época demolidora, com os “Cinco Violinos” bem afinados por Robert Kelly, e o Mestre Cândido apurou o trabalhou do britânico. O primeiro dos títulos ficou conhecido como o “Campeonato do Pirolito”, conquistado por apenas um golo e com os mesmos pontos do Benfica – derrota na primeira volta por 1-3 com os “encarnados”, triunfo por 1-4 na casa das “águias”, com quatro de Peyroteo. Antes desse jogo, um dirigente do Sporting insinuou que Cândido estava “feito” com o Benfica e o treinador, depois de ser campeão, despediu-se. O dito dirigente pediu-lhe desculpa e Cândido continuou para mais um título de campeão, o último que teve os “Cinco Violinos” todos – Peyroteo deixou de jogar no final dessa época.
Randolph Galloway
Foi Szabo que fechou o único tetracampeonato da história do Sporting, mas quem fez três quartos do caminho foi Randolph Galloway, campeão nas três épocas que esteve no banco “leonino”. Septimus Randolph Galloway, natural de Sunderland, foi soldado na I Guerra Mundial, chegou a fazer atletismo e a jogar râguebi antes de ser futebolista, primeiro como defesa, depois como avançado-centro.
Esteve em várias equipas inglesas (Tottenham e Nottingham Forest, entre outras), antes de se iniciar como treinador em Espanha. Voltou a Inglaterra, andou pelas Américas (Costa Rica, Uruguai e Argentina) e treinou o Young Boys da Suíça antes de chegar ao Sporting em 1950, onde se tornou no primeiro tricampeão do futebol “leonino”. Depois, foi-se embora por vontade própria e o Sporting continuou a ganhar.
Otto Glória (mais ou menos)
Formalmente, pode considerar-se que Otto Glória, outro nome maior do futebol português, também foi treinador bicampeão com o Sporting, mas não terá o mérito no primeiro dos dois títulos. O brasileiro nascido no Rio de Janeiro já tinha uma carreira longa no futebol português e sucesso no banco do Benfica (dois títulos) e do Belenenses (uma Taça de Portugal), antes de chegar ao Sporting em Abril de 1961 para fechar essa época. Na seguinte, só faz um jogo para o campeonato (empate 0-0 com o Lusitano de Évora) e despediu-se, soltando uma frase que ficaria famosa, “não posso fazer omeletes sem ovos”.
Quem encontrou ovos nessa equipa foi o seu substituto Juca, antigo médio “leonino” que levou o Sporting ao título nessa época – tinha apenas 33 anos e continua a ser o mais jovem treinador campeão em Portugal. Otto Glória voltaria ao Sporting em 1965 para ser campeão e, desta vez, desta vez ficou a época toda. Dessa equipa, saíram oito “leões” para a selecção portuguesa que iria ficar em terceiro lugar no Mundial de 1966 comandada pelo próprio Otto Glória.