Professores exigem que recuperação do tempo de serviço comece este ano
Sindicatos reiteram que recuperação do tempo de serviço tem de começar já este ano. Se isso não acontecer, admitem voltar aos protestos. Governo estima custo da devolução em 300 milhões de euros.
As negociações sobre a recuperação do tempo de serviço dos docentes arrancam esta sexta-feira com bastante expectativa, mas também preocupação, por parte dos professores, depois de, na semana passada, o ministro das Finanças ter colocado em cima da mesa a possibilidade de a devolução desse tempo se iniciar apenas em 2025. Depois de terem recebido do ministro da Educação abertura para que a recuperação se iniciasse já este ano, os sindicatos do sector exigem que essa devolução comece o mais rápido possível. Se tal não acontecer, admitem voltar aos protestos.
Este será um dos primeiros pontos a esclarecer nas reuniões negociais, que ocuparão toda a manhã desta sexta-feira.
Na semana passada, no Parlamento, o responsável pela pasta das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, afirmou que, com excepção da descida do IRS e do plano de emergência para a saúde, o resto das medidas previstas no Programa do Governo seria implementado apenas em 2025, incluindo o descongelamento do tempo de serviço dos docentes. Os sindicatos admitem que possa ter sido "um lapso", mas querem ver o assunto rapidamente esclarecido.
Avançar já este ano com parte da devolução é fundamental para que o Governo cumpra o compromisso assumido no seu programa, que prevê a recuperação integral do tempo de serviço "ao longo da legislatura, à razão de 20% ao ano" — começando em 2024 e terminando em 2028. Ao que o PÚBLICO apurou junto dos sindicatos do sector, o Ministério da Educação não enviou previamente nenhuma proposta aos sindicatos para que se preparassem para esta reunião negocial.
O custo que essa medida terá é, de resto, outra das questões que o Governo terá ainda de esclarecer. O montante apontado para a recuperação do tempo de serviço é de cerca de 300 milhões de euros, mas, tal como o PÚBLICO já noticiou, não está ainda concluído o estudo que, em Outubro passado, foi pedido por iniciativa do PSD à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) para medir o exacto impacto da medida.
Sindicatos com diferentes propostas
Em meados de Abril, sindicatos e Ministério da Educação reuniram-se pela primeira vez, tendo o ministro Fernando Alexandre admitido a disponibilidade para avançar já este ano com parte da devolução dos seis anos, seis meses e 23 dias de serviço, tempo que foi congelado durante o período de assistência financeira da troika. O governante disse, aliás, ter todo o interesse em que isso seja feito “o mais rápido possível” para que a “serenidade” volte às escolas já no próximo ano lectivo, dada a instabilidade que nelas tem causado.
O Governo sabe, desde já, que as reivindicações dos sindicatos são bem mais ambiciosas do que a proposta que poderá ter em cima da mesa. Esta quinta-feira, a Fenprof reafirmou, em comunicado, que pretende que a devolução do tempo de serviço seja feita em três anos — e não em cinco, como prevê o Governo —, iniciando-se ainda em 2024, e que "não admitirá um adiamento, que poderá ser o primeiro passo para o incumprimento".
A plataforma sindical disse ainda que reafirmará a proposta que apresentou na primeira reunião, que, além da recuperação do tempo de serviço, pede que sejam corrigidas as situações de professores que já se aposentaram e outros que estão em escalões em que já não podem recuperar o tempo todo. E que, depois da reunião, vai promover um plenário nacional de professores e educadores, "no qual será dada a conhecer a posição do ministério e discutidas, se tal se justificar, as primeiras formas de luta a desenvolver".
A Federação Nacional de Educação (FNE) pede que a primeira tranche a devolver aos professores seja de 30%, seguida de uma segunda em que deverão ser devolvidos mais 20% ou 30%, deixando para as últimas as percentagens mais pequenas. O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) vai mais além, pedindo que este ano seja já recuperada metade do tempo de serviço congelado.
Perante o receio de que estas diferentes propostas possam criar alguma entropia nas negociações, a Missão Escola Pública — um movimento cívico de professores criado no ano passado — apelou a todos os sindicatos para que apresentem uma proposta conjunta e única para a reposição do tempo de serviço. "Este tem de começar a ser restituído ainda este ano, sob pena de tudo não passar de uma manobra de diversão perante uma classe que tão maltratada tem sido pelos sucessivos governos; não dar prioridade a esta matéria é querer continuar a luta do último ano e meio", assinala este grupo num apelo enviado às estruturas sindicais. Caso a primeira tranche da devolução não aconteça ainda este ano, a Missão Escola Pública admite também partir para novos protestos.