Consumidores mais optimistas ajudam economia no arranque do ano
Indicadores económicos do início do ano, com destaque para a confiança dos consumidores, reforçam expectativa de que a economia portuguesa manteve ritmo registado no final de 2023.
A recuperação da confiança dos consumidores, que regressou já aos níveis em que se encontrava antes do início da guerra na Ucrânia, é um dos motivos para acreditar que a economia portuguesa estará a conseguir, no arranque de 2024, manter o ritmo de crescimento mais forte registado no final do ano passado, passando ao lado da estagnação a que se assiste na média da zona euro.
Os dados publicados nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmaram a manutenção de uma tendência desde Novembro do ano passado. Depois de ter caído para um valor abaixo de -30 pontos em Novembro, o mês em que António Costa se demitiu de primeiro-ministro e que Portugal caiu numa situação de maior instabilidade política, o indicador de confiança dos consumidores portugueses tem vindo, mês após mês, a registar subidas, tendo atingido em Abril -17,4 pontos.
O resultado é o mais alto desde Fevereiro de 2022, o último em que não se fez sentir ainda o impacto do início da guerra na Ucrânia, e espelha a melhoria progressiva das expectativas dos portugueses quer em relação à sua situação financeira particular, quer no que diz respeito à evolução da economia portuguesa e de indicadores como o desemprego ou a inflação.
A confiança dos consumidores portugueses, numa tendência semelhante à das dos outros países da zona euro, atingiu um mínimo no início da guerra, recuperou progressivamente nos meses seguintes, mas registou uma nova quebra na segunda metade de 2023, altura em que aumentaram os receios de que a política restritiva do Banco Central Europeu (BCE) viesse a lançar a economia europeia numa recessão.
A partir de Dezembro, contudo, depois de o BCE ter dado por finalizado o ciclo de subidas de taxas de juro, o ambiente desanuviou-se entre os agentes económicos, tanto na zona euro como em Portugal.
Além da subida da confiança dos consumidores, também o indicador de clima económico, que inclui as expectativas dos empresários, registou uma tendência de subida entre Setembro e Março, interrompida em Abril, com uma ligeira descida do indicador.
Reforçam-se assim as expectativas de que a economia portuguesa, depois de, nos últimos três meses do ano, ter interrompido a tendência de estagnação dos dois trimestres anteriores e de ter acelerado com um crescimento em cadeia do PIB de 0,8% (e de 2,4% face ao período homólogo), possa continuar no arranque de 2024 ao mesmo ritmo.
A primeira estimativa do INE para a variação do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano será divulgada nesta terça-feira e indicadores como o da confiança dos consumidores ou o indicador diário de actividade económica do Banco de Portugal (que apresentou também uma melhoria nos primeiros meses de 2024) fazem com que, neste momento, a maior parte das estimativas aponte para um resultado mais positivo em Portugal do que no resto da Europa.
Enquanto para a zona euro a previsão do BCE é a de que, no primeiro trimestre deste ano, a economia não consiga crescer mais do que 0,1% em cadeia, no caso de Portugal, as estimativas publicadas por diversas entidades apontam para valores sempre iguais ou acima de 0,5%.
Nas suas previsões de Março, o Banco de Portugal previa um crescimento em cadeia no primeiro trimestre de 0,7%.
Mais optimistas estão os economistas que contribuem para o Barómetro CIP/ISEG, onde se estima um crescimento do PIB em cadeia situado entre 1,1% a 1,5%. Enquanto o NECEP – Católica Lisbon Forecasting Lab não vai além de uma previsão de crescimento de 0,5%.
Todos estes números são compatíveis com uma variação do PIB no total do ano de 2024 que chegue aos 2%, numa altura em que, para o total da zona euro, as expectativas de crescimento ficam próximas dos 0,5%.
Quem neste momento cresce mais na zona euro são as economias, como a portuguesa, que, com um peso grande dos serviços, têm vindo a beneficiar de uma retoma forte desse sector, em particular do turismo, assistindo igualmente a um aumento dos níveis do consumo à medida que a confiança dos agentes económicos recupera.
No pólo oposto estão economias com um peso maior da indústria, como a Alemanha, que, num cenário de taxas de juro altas, preços da energia elevados, abrandamento da economia chinesa e aplicação de políticas proteccionistas, estão com maiores dificuldades em regressar a taxas de crescimento mais elevadas.