Uma amiga disse-me recentemente que estava preocupada com o facto de o cão se poder sentir sozinho. É o único cão da casa e não há nenhum parque por perto onde possa interagir com outros animais. “O meu cão precisa de amigos? Será que o deveria pôr a brincar, arranjar-lhe um encontro com outros cães, por exemplo?”, perguntou-me.
Tive de admitir que não tinha muita experiência com esta inquietação. Actualmente, vivo numa casa com dois cães, mas antes de viver com o meu marido e o cão dele, o meu parecia não se incomodar com a sua solidão canina — e até se alegrava com ela. Era o tipo de cão que preferia farejar a zona exterior do parque em vez de brincar no interior.
A interacção social é claramente importante para a saúde física e mental do ser humano. Será que também é relevante para os cães? Deveria ter-me preocupado mais?
Segundo Noah Snyder-Mackler, que é professor na Universidade de Ciências da Vida do Arizona, “há muitas variações nas necessidades dos cães”. “Nem todos os domésticos são necessariamente melhores ou mais felizes com outros animais da mesma espécie.” Ainda assim, os resultados de uma investigação liderada por Snyder-Mackler no ano passado concluem que a companhia (tanto canina como humana) tem um grande impacto na saúde e no tempo de vida de um cão.
O estudo, que foi publicado na revista Evolution, Medicine, and Public Health, questionou tutores de mais de 21 mil cães sobre vários aspectos da vida do animal de companhia, incluindo se tinham outro cão, qual a actividade física e saúde do animal, entre outros aspectos. Os donos também facultaram informações sobre si próprios.
Os investigadores utilizaram estes dados para determinar cinco factores-chave que influenciam o ambiente social de um cão: estabilidade da zona onde vivem, rendimento total do agregado familiar, tempo de convívio com adultos e crianças, tempo de convívio com animais e idade dos tutores dos cães. Destes, a companhia de adultos e de outros cães foi considerado o motivo que tem o maior impacto positivo na saúde de um cão à medida que envelhece. Na verdade, foi cinco vezes superior a qualquer outro factor.
“Os cães são animais sociais. É um pouco frustrante, e não é bom para a saúde e bem-estar deles, não terem parceiros sociais próximos", destaca o autor do estudo.
Noah Snyder-Mackler diz ainda que os resultados do estudo não significam necessariamente que a adopção de um segundo cão torna a vida do primeiro cão melhor ou mais longa. (No entanto, revelou que a mulher, uma professora de Psicologia, utilizou os resultados como desculpa para arranjar um segundo cão.)
Além disto, constatou que os humanos podem ser igualmente bons (e, para alguns cães, melhores) parceiros sociais para os animais de companhia — cada animal é único e nem todos os cães gostam da companhia dos seus pares. Contudo, o que os resultados mostram claramente é que uma companhia social forte tem um efeito positivo na saúde e no bem-estar do animal.
Posto isto, como podes saber se estás a dar ao teu cão a companhia necessária de que ele precisa?
“Quando há alguma coisa que falta na rotina de um cão vemos isso manifestar-se em termos de ‘mau comportamento’ ou respostas relacionadas com ansiedade”, destaca Zachary Silver, professor de Psicologia na Occidental College, em Los Angeles, que vai abrir um laboratório para estudar o comportamento canino. “E nem sempre é óbvio qual pode ser a origem”, acrescenta.
Apesar de ser melhor consultares o veterinário do teu cão se estiveres preocupado com o comportamento dele, uma das razões que pode explicar as acções é a falta de companhia social. Zachary Silver compara-a à falta de exercício adequado.
Tal como Noah Snyder-Mackler, o professor de Psicologia salienta que as necessidades sociais de um cão podem muitas vezes ser satisfeitas pelo dono, especialmente se este estiver a passar uma boa quantidade de tempo com ele.
Para os animais que se dão bem com outros cães, Zachary adianta que é como uma criança que só convive com os pais em vez de brincar com outras crianças da mesma idade.
Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post