Marcelo Rebelo de Sousa cortou relações com o filho depois do caso das gémeas
O Presidente da República classificou como “imperdoável” a conduta do filho, Nuno Rebelo de Sousa, no caso das gémeas, e desvalorizou o afastamento entre os dois.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que cortou relações com o filho, na sequência do caso das gémeas brasileiras. O Correio Braziliense avançou a notícia, com declarações do Presidente da República: “É imperdoável, porque ele sabe que eu tenho um cargo público e político, e pago por isso.” É inédito um Chefe de Estado comentar a vida privada, dizem politólogos, mas faz parte do "estilo" do actual Presidente.
A relação com Nuno Rebelo de Sousa já não estava boa há uns meses e o caso das gémeas só a veio piorar. O Presidente da República passou a noite de Natal em casa, longe de alguns netos. Em declarações a jornalistas estrangeiros, citado pelo Correio Braziliense, terá desvalorizado a quebra de relação com o filho. “Ele tem 51 anos, se fosse o meu neto mais velho e preferido, com 20 anos, sentir-me-ia co-responsável. Mas, com 51 anos, é maior e vacinado”, afirmou.
Marcelo contou aos jornalistas que, quando o filho o procurou para ajudar a acelerar o processo das gémeas brasileiras na toma do medicamento Zolgensma, estava perto de uma operação ao coração. Deixou o caso de lado, até porque a Casa Civil já tinha dito que não seria possível interferir. Mas algum tempo depois foi contactado por Nuno Rebelo de Sousa, que lhe disse que a Casa Civil estava contra o Presidente da República. Os anos passaram — este episódio aconteceu em 2019 — e já não se lembrava deste caso, alega.
O caso veio a público em Novembro, pouco depois da demissão de António Costa. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou, entre risos, que se confortavam um ao outro nessa altura. Foi um período “chato”, mas o pior terá sido a quebra na família.
No início de Abril, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) concluiu que “não foram cumpridos os requisitos de legalidade no acesso das duas crianças a consulta de neuropediatria”. Na base da polémica estão suspeitas de favorecimento que partiram de um email enviado por Nuno Rebelo de Sousa ao pai, Marcelo Rebelo de Sousa.
Falar sobre questões pessoais é o “estilo” do Presidente da República
“São comuns os problemas de Presidentes da República ou primeiros-ministros com familiares”, garante o politólogo António Costa Pinto, mas não em Portugal. A última vez que há memória de ter acontecido com ressonância em Portugal foi quando, em 2011, ficou provado que Oliveira Costa vendeu ao então Presidente da República, Cavaco Silva, e à sua filha acções da Sociedade Lusa de Negócios com prejuízo.
Mas comentar a vida privada é uma prática que o especialista em Ciência Política Adelino Maltez liga ao estilo “histriónico” do actual Presidente da República. “Eanes, Sampaio, Soares... Nenhum deles precisou deste modelo mental”, acrescenta, mas Marcelo Rebelo de Sousa “como figura pública, é assim” e “quem votou nele já sabia, não há surpresas nenhumas”.
Costa Pinto justifica estas declarações com “o facto de o Presidente da República ter sido perturbado por uma prática que é comum na sociedade portuguesa, o acesso aos serviços públicos”. Este caso é “muito excepcional, ele tinha que se demarcar”. Adelino Maltez sublinha que Marcelo Rebelo de Sousa é um político muito experiente e sabe que tem de ter uma conduta irrepreensível. “Nesse aspecto sempre cumpriu, mas de repente teve um conflito de interesses com o filho”: nesse momento há “os que ficam tristes” e “os que não se importam de falar” – Marcelo Rebelo de Sousa encaixa-se no segundo grupo.
Noutros países a prática é comum, desde o Brasil aos Estados Unidos, passando pela monarquia inglesa. Na maior parte dos casos, essas questões são relacionadas com a vida profissional dos filhos e da sua relação com a vida política dos pais.
O filho de Joe Biden foi notícia várias vezes por fuga ao fisco e posse de arma ilegal o que levou o Presidente a estar debaixo dos olhos atentos da opinião pública. No caso do Brasil, os filhos de Bolsonaro já estiverem envolvidos em várias polémicas: Flavio Bolsonaro foi suspeito de lavagem de dinheiro, em 2019, e em 2020 acusado de ter recebido indevidamente parte dos salários de funcionários do seu gabinete quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.