As trapalhadas da AD e o erro na escolha de Bugalho

A escolha de Sebastião Bugalho revelou-se uma segunda opção para dirimir a contestação interna ao nome noticiado ao longo de vários dias, mas foi uma má opção.

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No início da atual legislatura, foi bem percetível a incapacidade negocial da AD no processo da eleição do presidente da Assembleia da República que gerou tanto ruído desnecessário e acabou por ter um desfecho que beneficiou claramente Pedro Nuno Santos.

Também fomos surpreendidos pela escolha de Patrícia Dantas para Adjunta do Ministro e Estado e das Finanças que acabou por não assumir funções após ter saído na comunicação social a notícia de que enfrenta uma acusação por fraude para obtenção de fundos europeus. É obvio que há o princípio da presunção de inocência, mas também é logico que não passa pela cabeça de ninguém com um pingo de sensatez convidar uma pessoa que se encontra nessa circunstância para o cargo de adjunta de um Ministro. Já bastavam as notícias que surgiram acerca do Ministro das Infraestruturas e da Habitação relativas ao tempo em que foi Vice-Presidente da Camara Municipal de Cascais.

Agora, sucedeu mais um episódio desnecessário. A AD fomentou, intencionalmente, a informação de que Rui Moreira seria o seu cabeça de lista às próximas eleições europeias e no dia da aprovação da lista de candidatos no Conselho Nacional do PSD, anuncia o jornalista Sebastião Bugalho como cabeça de lista da coligação.

Foi de facto um nome completamente inesperado, mas pior do que a surpresa anúncio foi Rui Moreira ter vindo a público desmentir o PSD, referindo que foi abordado por pessoas próximas de Montenegro para ser cabeça de lista e só no domingo à noite, em cima da hora, é que foi convidado pelo líder do PSD para ser candidato pela AD em segundo lugar, a seguir a Bugalho. Também o alegado telefonema do Presidente da República a Moreira não nos deve passar despercebido, pois pode indiciar alguma interferência de Marcelo em questões internas do PSD.

Não passa pela cabeça de ninguém com um pingo de lucidez formalizar um convite a Rui Moreira para ser número dois de quem quer que seja no próximo ato eleitoral, é um desrespeito pelo próprio e pelos portuenses. Já para não falar do timing, convites desta natureza não se fazem em cima da hora.

Se Luís Montenegro optou por ceder às pressões internas no PSD, resolvia o problema de forma simples, não fazia qualquer convite a Rui Moreira e evitava demonstrar este desrespeito por Rui Moreira e acima de tudo pelo Porto.

A escolha de Sebastião Bugalho para cabeça de lista da AD revelou-se uma segunda opção para dirimir a contestação interna ao nome noticiado ao longo de vários dias, mas foi uma má opção.

Em 2019, Sebastião Bugalho foi candidato nas listas do CDS à Assembleia da República num lugar não elegível e não lhe é reconhecida qualquer experiência política. É um jovem jornalista que ganhou visibilidade devido ao tempo de antena que lhe foi dado nos últimos tempos para fazer comentário político e à popularidade que alcançou nas redes sociais. Tem o seu valor, é jovem, mas falta-lhe experiência de vida e política para ser cabeça de lista nas próximas eleições europeias.

Se os 28 anos de Sebastião Bugalho não devem ser o principal motivo para se colocar em causa se é ou não uma boa opção, o seu recente percurso é um fator que merece ser discutido. Não nos podemos esquecer que ele não é apenas analista político, é um jornalista que tem um código deontológico que deve cumprir e torna-se difícil compreender que alguém que há poucas semanas comentava os debates políticos e no final atribuía uma nota de avaliação aos candidatos às eleições legislativas apareça agora como candidato às eleições europeias, prestes a participar em debates, ser comentado e avaliado no final por ex-colegas seus no painel televisivo.

Parece-me óbvio que a credibilidade de Sebastião Bugalho enquanto jornalista sai beliscada e a sua candidatura parece ser fruto do serviço que prestou à AD, mesmo que não seja. Tenho pena, porque considerava Sebastião Bugalho um jovem inteligente.

Por fim, julgo ser consensual que há várias pessoas na área política da AD com melhor perfil para cabeça de lista e, acima de tudo, começa a ser preocupante a forma “trapalhona” como o líder do PSD e primeiro-ministro gere alguns dossiers importantes.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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