Olhos novamente na tragédia em Gaza após ataque em Rafah e descoberta de vala comum em Khan Yunis

Mais de 34 mil palestinianos já morreram desde o início da guerra, em Outubro de 2023.

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Rescaldo do ataque a Rafah neste domingo Mohammed Salem/Reuters
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Depois de estar aparentemente mitigado o cenário de um conflito regional, na sequência dos confrontos das últimas semanas entre Israel e o Irão, a atenção volta a centrar-se sobre a tragédia humanitária na Faixa de Gaza, que já fez mais de 30 mil mortos, muitos deles crianças. A possibilidade do avanço das forças militares de Israel sobre Rafah volta a estar em cima da mesa, apesar da pressão internacional para que tal não aconteça. Um conjunto de ataques nocturnos, na madrugada deste domingo, fez mais de 20 mortos em Rafah, no Sul de Gaza. De acordo com as autoridades de saúde locais, citadas pelo jornal britânico The Guardian, 14 das vítimas serão crianças. Num complexo hospitalar em Khan Yunis, foi também descoberta uma vala comum com dezenas de cadáveres.

Um primeiro ataque, em Rafah, matou um homem, a sua mulher e o filho de três anos, de acordo com o Hospital do Kuwait, que recebeu os corpos das vítimas. A mulher estaria grávida, e os médicos conseguiram mesmo salvar o bebé, confirmou o hospital. Um segundo ataque matou 13 crianças, todas da mesma família, mostram registos do hospital a que a Associated Press teve acesso.

"Foi como um terramoto", disse Mohammad al-Masri, um contabilista de 31 anos que está abrigado com a família numa tenda num dos vários acampamentos que foram montados em Rafah nos últimos meses, citado pelo jornal The New York Times.

O primeiro ataque ocorreu pouco depois da meia-noite, "abanando a terra e iluminando o céu nocturno", e o segundo veio pouco depois, disse. "Quando ouvimos estes abalos, ficámos sem saber o que fazer", explicou. Toda a gente repete a mesma pergunta: "Para onde podemos ir?"

“Choque” dos aliados

Desde Outubro, a guerra já matou pelo menos 34.049 palestinianos só em Gaza e feriu outros 76.901, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Pelo menos dois terços das vítimas são crianças e mulheres.

A situação é particularmente dramática em Rafah, anteriormente considerada uma zona segura pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) — e onde se encontram mais de 1,5 milhões de refugiados , mas que agora aguarda por uma intervenção militar já anunciada pelos responsáveis israelitas.

Apesar do apoio dos aliados de Israel no que toca ao conflito com o Irão, diferente tem sido a posição sobre a resposta em relação a Gaza, e de forma particular no que diz respeito a um eventual avanço militar contra Rafah.

"Completamente chocado com o ataque israelita a um apartamento residencial na densamente povoada Rafah, em Gaza, que resultou na morte de mais crianças. Temos de pôr imediatamente termo a estes combates e pôr fim a este conflito", declarou o secretário de Estado britânico para a Commonwealth, Tariq Ahmad, numa publicação no X, já neste domingo.

A publicação do britânico é posterior às declarações do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que na sexta-feira já tinha avisado o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de que não iria apoiar “uma operação militar de grande envergadura em Rafah”. Segundo Blinken, “Israel pode conseguir alcançar os objectivos militares deste conflito sem a ofensiva”.

Apesar dos avisos das autoridades norte-americanas, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou, ainda no sábado, um novo pacote de ajuda destinado a Israel com uma dotação de 26,4 mil milhões de dólares (24,7 mil milhões de euros). Este pacote tem como destino sistemas de defesa antimísseis, assim como a aquisição de sistemas avançados de armas de defesa.

"O Congresso dos Estados Unidos acaba de aprovar de forma esmagadora um projecto de lei de assistência muito bem-vinda que demonstra um forte apoio bipartidário a Israel e defende a civilização ocidental. Obrigado aos nossos amigos, obrigado à América", escreveu Benjamin Netanyahu na rede X, pouco depois da aprovação.

Por seu lado, através de um comunicado, o Hamas disse que o financiamento aprovado pelos EUA “viola o direito internacional, [e] é uma licença e uma luz verde para o governo sionista e extremista continuar a agressão brutal contra o nosso povo”.

Vala comum descoberta em Khan Yunis

Nas últimas horas foi descoberta na cidade de Khan Yunis, também no Sul do enclave palestiniano, uma vala comum com pelo menos 180 corpos no Hospital Nasser. "As nossas equipas continuam as operações de busca e recuperação dos restantes mártires nos próximos dias, uma vez que ainda há um número significativo deles", disse fonte do hospital, citada pela Al-Jazeera.

O hospital, o segundo maior da Faixa de Gaza, foi alvo de um intenso cerco por parte das IDF durante o mês de Fevereiro que o deixou completamente inoperacional. Muitos palestinianos têm regressado nas últimas semanas a Khan Yunis depois de Israel ter retirado a 98.ª Divisão das IDF na primeira semana de Abril, sendo confrontados com um rasto de destruição fruto da prolongada presença militar israelita.

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