Juliette Pavy venceu os prémios de fotografia Sony com um projecto sobre contracepção forçada
A fotógrafa francesa documentou o controlo involuntário da natalidade de milhares de mulheres inuítes, na Gronelândia. É a Fotógrafa do Ano dos Sony World Photography Awards.
Foi com um projecto sobre o controlo involuntário da natalidade de milhares de mulheres inuítes, algumas com apenas 12 anos, na Gronelândia, que Juliette Pavy venceu o concurso Sony World Photography Awards, na noite de 18 de Abril, em Londres.
Spiralkampagnen: Forced Contraception and Unintended Sterilisation of Greenlandic Women é um projecto documental da fotógrafa francesa, que aborda as campanhas de contracepção forçada e esterilização involuntária do estado dinamarquês, nas décadas de 1960 e 70, através da implementação de dispositivos intra-uterinos (DIU) em mulheres inuítes, sem o seu consentimento.
Pavy criou uma estrutura narrativa do ponto de vista das vítimas, reflecte sobre o trauma colectivo e descreve o programa de controlo de natalidade desde a sua origem até à actualidade, incluindo a investigação em curso iniciada pelo governo dinamarquês. A série inclui imagens totalmente diferentes entre si. Pavy utiliza imagens de arquivo de jovens mulheres que foram alvo da campanha, imagens de raios X que mostram os dispositivos intra-uterinos, fotografa vítimas e médicos que trabalharam na Gronelândia durante e após o programa, deputados que investigam o que aconteceu e acrescenta planos de enquadramento da cidade de Nuuk e dos seus espaços clínicos.
A escolha daquele que é o maior concurso mundial de fotografia, no qual participam autores de mais de 220 países, baseia-se numa palavra: empatia. Monica Allende, presidente do júri, elogiou a forma elegante e íntima como Juliette Pavy desenvolveu o tema com as vítimas, “expondo as realidades cruas enfrentadas pelas comunidades marginalizadas”.
Pavy, na verdade, não venceu apenas o prémio principal da 17.ª edição dos Sony Awards, o de fotógrafa do ano, uma vez que a francesa foi também a eleita na categoria de Projectos Documentais, uma das 10 a concurso.
A edição do ano anterior foi vencida pelo artista e fotógrafo português Edgar Martins, com o projecto Our War, inspirado pela procura dos restos mortais de um amigo morto na Líbia, em 2011. Anton Hammerl era um fotojornalista sul-africano que se encontrava na Líbia a documentar a guerra civil que ainda ali persiste.
Edgar Martins já tinha sido distinguido na edição de 2018, na categoria Natureza Morta, com um projecto denominado Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros interlúdios.
Parte do projecto sobre a Líbia faz parte da habitual exposição na Somerset House, onde os trabalhos premiados podem ser vistos a partir desta sexta-feira e até 6 de Maio, apesar de alguns deles ali terem sido exibidos no ano anterior. A repetição e regresso de Edgar Martins tem uma razão de ser: o português vai apresentar na Somerset House, e com o enquadramento da exposição e do concurso dos Sony Awards, o novo livro, precisamente inspirado no projecto Our War. Na prática, trata-se de uma sequela óbvia do projecto que o levou a seguir os passos do amigo Anton. A edição original, em inglês, será distribuída em Portugal a partir de Setembro próximo.
Nesta mesma exposição é possível ver alguns dos melhores trabalhos de Sebastião Salgado, o fotógrafo homenageado nesta edição. O Sony Awards distingue, todos os anos, um fotógrafo pelo seu contributo extraordinário para a fotografia, como já o fez anteriormente com Martin Parr ou Nadav Kander, só para citar dois exemplos bem diferentes.
Ao todo, são mais de 40 as imagens do fotógrafo brasileiro apresentadas na Somerset, todas escolhidas pelo próprio, que remetem para alguns dos projectos mais famosos, como Gold (1986), Workers (1993), dos mais antigos, e Genesis (2011) e Amazónia (2019), dos mais recentes.
O P3 viajou a convite da Sony World Photography Awards