Russo que ajudou centenas de refugiados ucranianos morre na prisão

Alexander Demidenko acolheu mais de 900 refugiados. Estava preso desde Outubro de 2023, sem direito a visitas de familiares nem a livros. A polícia russa alega que activista se suicidou.

Foto
O activista russo protestou, sozinho, no primeiro dia de guerra na Ucrânia ALEXANDER DEMIDENKO/VK
Ouça este artigo
00:00
02:46

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Alexander Demidenko ajudou mais de 900 refugiados ucranianos a voltar a casa desde o início da guerra, há dois anos. O voluntário de 61 anos morreu no dia 5 de Abril, mas a família só foi informada três dias depois – o advogado foi visitá-lo e a polícia alegou que Alexander se tinha suicidado.

Em Outubro de 2023, o activista russo foi preso perto da zona fronteiriça entre a Ucrânia e a Rússia, em Belgorod. Era lá – perto de um corredor humanitário difícil, mas legal – que ajudava refugiados ucranianos que pretendiam regressar a casa, a passar a fronteira. Nesse posto, quem quiser voltar à Ucrânia fica sujeito à boa vontade do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), que considera esse desejo altamente suspeito. Demidenko desapareceu e, passados três dias, foi acusado de consumo de álcool na via pública e preso preventivamente.

Dez dias depois, apareceu em casa com agentes do FSB – foi dessa busca que surgiu uma acusação de posse de explosivos. Segundo o Le Monde, esses explosivos não passavam de uma granada da Segunda Guerra Mundial que possuía. Ao ver que o marido mostrava claros sinais de espancamento as costas e as costelas pisadas , Natalia Vishenkova fotografou-o e partilhou as imagens num canal do Telegram.

O activista sempre foi avesso à “operação militar especial” de Vladimir Putin. A 24 de Fevereiro de 2022, o dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, Demidenko deslocou-se sozinho para o centro da cidade de Belgorod em protesto, segurando apenas uma folha de papel branca. Meia hora depois, foi detido, mas acabou por sair em liberdade sem acusação. Desde então, acolheu refugiados ucranianos em casa (se tivessem problemas com documentos ou se precisassem de dormir podiam ficar mais tempo) e encaminhou-os para o posto fronteiriço de Kolotilovka-Pokrovka. Em Outubro, foi preso nas redondezas do corredor humanitário, enquanto carregava uma maca para uma refugiada doente.

A família não voltou a vê-lo depois das buscas e nas poucas chamadas que conseguiram fazer, o activista relatou vários episódios de tortura. Em Março foi transferido para um hospital. Oleg, filho de Alexander, escreveu num canal do Telegram que não nega a possibilidade de o pai ter posto fim à própria vida porque para um homem tão livre, a ideia de estar preso era insuportável. Esta não é a primeira vez que um voluntário na fronteira de Belgorod é detido. No início de Fevereiro, Nadine Geisler foi acusada de atentar contra a segurança do Estado por, alegadamente, ter partilhado no Instagram informações sobre a recolha de ajuda humanitária para o exército ucraniano.

Segundo a Verstka, publicação russa independente, em 2023 registaram-se 50 casos de pessoas que morreram no momento da detenção pelas autoridades russas, na esquadra ou enquanto esperavam por julgamento.

Sugerir correcção
Ler 14 comentários