António Costa: falta de “tracção” do PS e PSD permitiu crescimento do Chega

Para o socialista “continua a ser fundamental para a vitalidade da democracia que a polarização seja possível corporizar através dos dois grandes partidos do centro esquerda e do centro direita”.

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António Costa com Mariano Rajoy LUSA/JOÃO RELVAS
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O ex-primeiro-ministro António Costa afirmou esta terça-feira que as eleições legislativas realizaram-se em circunstâncias "estranhas", tendo como consequência uma falta de tracção dos partidos centrais, PSD e PS, e considerou que o resultado do Chega é um fenómeno passageiro.

Esta posição foi transmitida por António Costa na sua primeira intervenção no Fórum La Toja, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, num painel de debate em que também participaram os antigos primeiros-ministros Felipe González, Francisco Pinto Balsemão e Mariano Rajoy, que foi moderado pela jornalista Teresa de Sousa.

Interrogado sobre o crescimento de forças extremistas em Portugal e na União Europeia, o ex-líder do executivo começou por provocar risos na plateia ao agradecer a sua "aula prática" como ex-primeiro-ministro e referiu-se, depois, à forma como a anterior legislatura foi interrompida na sequência de um processo judicial, a chamada "Operação Influencer".

"Continua a ser fundamental para a vitalidade da democracia que a polarização seja possível corporizar através dos dois grandes partidos do centro esquerda e do centro direita. Acho que não devemos sobrevalorizar a interpretação das últimas eleições, já que ocorreram em circunstâncias particularmente estranhas", advertiu.

De acordo com António Costa, o que permitiu um maior crescimento "do partido populista de direita", o Chega, "foi sobretudo o facto de os cidadãos não terem sentido nem no PS nem no PSD tracção suficiente para a concentração necessária do voto". "Uma concentração para que pudessem ter votações acima dos 30%, como sempre tiveram quando ganharam", apontou.

No entanto, acentuou o ex-primeiro-ministro, "não vale a pena exagerar na interpretação dos resultados" das últimas eleições legislativas e "é preciso dar tempo para que as coisas retomem a normalidade".

Na sua segunda intervenção, António Costa falou globalmente sobre a crise na habitação em Portugal e em vários países do mundo, considerando que se está perante um problema que terá uma resolução demorada.

Na origem, na sua perspectiva, estiveram vários anos de taxas de juro negativas, o que levou os capitais a refugiarem-se no imobiliário, assim como alterações na estrutura social, com mais cidadãos a viverem sozinhos.

António Costa assinalou ainda fenómenos como a liberdade de circulação de pessoas, com "vários países a apostarem na captação de capitais estrangeiros", ou com o aparecimento de produtos como o Airbnb.

"Assistimos agora a um recuo e a uma maior regulação. Até o Governo conservador da Grécia decidiu acabar com os 'vistos gold'" no imobiliário, referiu, antes de se pronunciar sobre um factor mais global e que, na sua opinião, "alimenta os populismos". "Esse sentimento é a ideia da falta de futuro", acrescentou.