Três dias numa casa cheia de grandes vinhos e grandes encontros
Nos dias 17, 18 e 19 de Maio, na La Distillerie, em Lisboa, 20 consagrados produtores juntam-se no Vinho da Casa. Um convívio intimista com música, festa, gastronomia e 100 vinhos de grande classe.
Não, o Vinho da Casa não é uma feira onde se vão provar os vinhos da estação, apesar de contar com muitos vinhos. Também não é uma agenda de concertos, apesar de ter músicos. Nem é sequer uma festa privada onde se experimenta, prova, convive e se conhece de perto quem são e o que fazem muitos dos maiores criadores de vinhos de Portugal, ainda que haja vários momentos de festa. O Vinho da Casa é tudo isso. Mas é ainda muito mais.
Assim, num fôlego, o que é, afinal? É um encontro numa casa solene no centro histórico de Lisboa, La Distillerie, onde estarão 20 dos mais consagrados produtores de vinho de Portugal, onde haverá três masterclasses em que participam três masters of wine internacionais, 100 referências de vinhos que em muitos casos estão fora do mercado, convidados especiais, os consagrados Sérgio Godinho e Mário Laginha, e onde serão servidos jantares criados pelo chef Alexandre Silva, do restaurante Loco, com uma estrela Michelin.
No mundo do vinho, o perfil dos criadores conta. Num ambiente reservado, será possível provar vinhos raros ou únicos com os seus criadores e saber pelas suas palavras o que significam, como foram feitos ou como se explicam. Por detrás de um grande vinho, bem se sabe, há sempre uma grande história e a oportunidade de a conhecer por quem a viveu ou quem a construiu confere outro significado à arte da prova. Do Douro ao Alentejo, os enólogos ou os donos das empresas criteriosamente seleccionadas que exprimem o que se faz de melhor no país serão as estrelas maiores da Casa. Não haverá stands, mas apenas os quartos, as salas ou a cozinha onde eles nos vão receber ao longo três dias.
Por serem as estrelas, ser-lhes-á dada a oportunidade de mostrarem facetas mais pessoais. Pedro Baptista, da Fundação Eugénio de Almeida, e Luís Sottomayor, da Casa Ferreirinha, por exemplo, mostrarão as suas artes como chefs, assim como Luís Cabral de Almeida, da Herdade do Peso, e Mário Sérgio, da Quinta das Bágeiras. Carlos Agrellos, da Quinta do Noval, tornará pública a sua habilidade para a música. Adrian Bridge, da Taylor’s, levará consigo parte da sua colecção de copos com história. No Vinho da Casa, pretende-se criar o ambiente de proximidade e de convivência que por regra o vinho estabelece entre amigos. O número de entradas é por isso reservado, de modo a permitir que os enólogos conheçam as pessoas que apreciam os seus vinhos e vice-versa.
Haverá ainda dois momentos especiais para os quais o Vinho da Casa convidou músicos de primeiro plano. Sérgio Godinho, um “escritor de canções”, é uma referência da música portuguesa dos últimos 50 anos; Mário Laginha, pianista, tem um longo e diversificado lastro na música contemporânea do país. Do jazz à clássica, passando pela música portuguesa, a solo ou com outros músicos, Laginha é uma referência de talento e eclectismo.
Falta, é claro, o agente mobilizador de toda a Casa: o vinho. Como se disse, a passagem pelo evento permite a prova de 100 vinhos raros ou únicos dos produtores escolhidos. A saber: Adega do Mouchão (Iain Richardson), Anselmo Mendes, Barbeito (Ricardo Diogo), Casa da Passarella (Paulo Nunes), Reynolds Wine Growers (Julian Reynolds), Fundação Eugénio de Almeida (Pedro Baptista), Júlio Bastos, Luís Pato, Quinta das Bágeiras (Mário Sérgio), Niepoort (Daniel Niepoort), Quinta do Crasto (Manuel Lobo), Quinta do Noval (Carlos Agrellos), Quinta do Vallado (Francisco Ferreira, João Ferreira Álvares Ribeiro), Quinta do Vale Meão (Francisco Olazabal), Ramos Pinto (Thomas Rogerson), Sogrape (Luís Sottomayor e Luís Cabral de Almeida), Susana Esteban, Symington (Harry e Charlotte Symington, Celso Pereira), Taylor's (Adrian Bridge), Wine &Soul (Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges).
Cada uma das empresas ou produtores foram convidados a levar à Casa vinhos que fossem capazes de surpreender. Vinhos para memória futura dos que os experimentam. E eles não se pouparam a esforços. Veja alguns exemplos do que poderá ter oportunidade de provar e conhecer ao detalhe.
Adega do Mouchão – Este produtor apresentará alguns dos milagres que o terroir da propriedade, com solos aluviais que propiciam condições únicas para a casta Alicante Bouschet, como o Mouchão 2011, um ano incrível, e o raro e sempre clássico Mouchão Tonel N.º 3-4, de 2013
Anselmo Mendes – O “Senhor Alvarinho”, um inconformado sempre disposto a estudar e a inovar, apresentará alguns dos testemunhos dessa irreverência, como o Curtimenta 2011 ou um Parcela Única, ambas em double-magnum. Os grandes Alvarinho com idade ficam ainda maiores.
Barbeito – Ricardo Diogo levará ao evento a oportunidade de se conhecer a riqueza e a diversidade dos Madeira. Como um Tinta Negra de 2008, um Verdelho de 1994 ou um Três Amigos Meio Doce com 50 anos. Não faltará, obviamente, um Sercial de 2015, produzido com curtimenta.
Casa da Passarella – O Dão no seu melhor: a frescura da altitude e a arte de Paulo Nunes aparecerão sob a marca de topo da casa, a Villa Oliveira, nas versões Encruzado (de 2016), Vinha das Pedras Altas (2014) ou no blend especial do Villa Oliveira 125 Anos.
Reynolds Wine Growers – Um Alentejo diferente, fora das rotas tradicionais, mas com um perfil único de classe e classicismo que a família de Julian Reynolds trata de garantir. Oportunidade para experimentar os Gloria Reynolds Art & Tradition de 2009, 2011 ou 2013.
Fundação Eugénio de Almeida – O Alentejo da planície e das faldas da serra de São Mamede revelados pelo saber do enólogo Pedro Baptista em vinhos como o Tapada do Chaves Vinhas Velhas Branco de 2008 ou o raro Cartuxa Alicante Bouschet e Syrah de 2011.
Júlio Bastos – O portefólio do produtor de Estremoz, Alentejo, é muito rico e variado, mas para a Casa foram escolhidas três edições do topo de gama Júlio B. Bastos, de 2014, 2015 e 2018 que vai valer a pena conhecer em jeito de prova vertical. É consensual: estes tintos estão entre o que se faz de melhor no país.
Luís Pato – Recorrendo aos pergaminhos da casa que, à boleia do potencial da Bairrada, produz espumantes tintos e brancos, o icónico Luís Pato levará um fantástico Quinta do Ribeirinho de 2021 (branco), o Special One de 2010 ou o Pé Franco da Quinta do Ribeirinho de 2015 ou o espumante Pé Franco 2021.
Quinta das Bágeiras - Mário Sérgio vê-se como vigneron e o que é e faz justificam a preferência. Vinhos com assinatura, de brancos a tintos (oportunidade para provar o Aldeia da Figueira de 2012) e espumantes (Grande Reserva Rosé de 2018).
Niepoort – Entre o vinho do Porto, o Dão e a Bairrada, a Niepoort é incontornável. Na Casa teremos um Vinhas Velhas branco da Bairrada, um Quinta da Lomba 2016 do Dão, um Turris de 2018 do Douro e, como não podia deixar de ser, um Porto Colheita de 2003.
Quinta do Crasto – Já provou o Crasto Vinha Maria Teresa, de 2019, que levou críticos reconhecidos do país a atribuir-lhe uma pontuação de 20 pontos numa escala de 20? O vinho estará na casa, ao lado de outras jóias, como um Touriga Franca de 2016 ou um Porto de 40 anos.
Quinta do Noval - Carlos Agrellos vai levar um branco, um tinto e três Porto. Mas poderia fazer ao contrário, dado o nível que os tintos e brancos da Noval atingiram. Teremos assim um Noval tinto de 2012 e, entre outros, um Porto Colheita de 1997 e um Vintage fantástico de 2017.
Quinta do Vallado – Como descendentes de D. Antónia (uma figura histórica do Douro do século XIX), Francisco Ferreira e João Ferreira Álvares Ribeiro tinham de levar um Porto (de 50 anos). Mas não podiam dispensar os seus clássicos Vinha da Coroa, de 2017, e vinha da Granja, de 2016
Quinta do Vale Meão – Para lá de um Colheita Porto de 1999 (um ano raro), Francisco Olazabal leva consigo para a Casa interpretações da diversidade do Monte Meão – o Vale Meão clássico de um ano grandioso, 2017, ou o Vinha dos Novos de 2012, ambos em versão magnum.
Ramos Pinto – Neste canto da Casa, o mais difícil vai ser saber por onde começar. Por um Ervamoira 2021 ou um Duas Quintas Reserva 2011? Por um Porto Ervamoira Vintage do ano clássico de 1994 ou por um Ramos Pinto Vintage de 2000? Há dilemas felizes.
Sogrape – Luís Sottomayor e Luís Cabral de Almeida vão levar à Casa algumas estrelas que a companhia produz no Douro ou no Alentejo. Vai ser interessante provar um Callabriga de 2000, mas o brilho maior virá do Casa Ferreirinha Reserva Especial de 1984. Irrecusável será também saber como está o Herdade do Peso Ícone de 2014, que será apresentado em garrafas de cinco litros.
Susana Esteban – A enóloga de origem galega que o Portugal vinícola nacionalizou com muito gosto faz vinhos como se faz filigrana. Provar os seus Procura (branco ou tinto) ou o Sem Vergonha obriga a detectar detalhes e subtilezas que fazem a graça do vinho. A região de Portalegre ajuda, mas Susana ainda mais.
Symington – A casa clássica de vinho do Porto vai mostrar a sua nova face. A do espumante, com um Vértice Gouveio de 2015, que está numa forma extraordinária. Mas, para felicidade da Casa, não faltarão um Chryseia 2014 em magnum, um Colheita Graham’s de 1974 (para celebrar o 25 de Abril) ou um Dow’s de um ano grandioso, 1994. Mais um espaço para os bons dilemas.
Taylor's - Adrian Bridge, o CEO da Fladgate Partnership tem agora condições para apresentar vinhos tintos ou brancos de grande classe, ao lado dos sempre irrecusáveis Porto. Teremos assim um Eminência Loureiro de 2015 (sim, estes Verdes evoluem muito bem), um Principal Grande Reserva de 2012 da Bairrada e, como não podia deixar de ser, um Vintage, de 2003.
Wine & Soul - Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges vão mostrar as últimas edições dos seus vinhos mais consagrados, com destaque para o Pintas, o Guru (branco) e o Quinta da Manoella. Sendo uma empresa jovem, a Wine & Soul tem história, que na Casa será revelada por um Pintas Character de 2013.
O Vinho da Casa, organizado pelo PÚBLICO e pela Out of Paper, decorre de 17 a 19 de Maio, no La Distillerie, em Lisboa. As entradas, limitadas, podem ser adquiridas aqui e dão acesso a todos os espaços dos produtores, aos shows de produtores e momentos de animação e convívio. Dão igualmente acesso ao jantar volante que será confeccionado pelo chef Alexandre Silva. Esta é a segunda edição do Vinho da Casa, que tem o patrocínio da Haier, DIAM e Saverglass e o apoio da ViniPortugal. O copo oficial é Riedel, o hotel é o Torel Palace Lisboa e a produção é da H2N. A loja oficial do evento é a Garrafeira Imperial, na qual, durante o evento, poderá ser comprado vinho com 10% de desconto, com entrega em casa.
Três masterclasses para recordar
Para lá dos 100 vinhos que os produtores levarão à Casa, o evento conta ainda com três momentos especiais – para os quais é necessário um bilhete especial, que pode ser comprado aqui. Dirceu Vianna Júnior, um master of wine, vai dirigir uma prova com “Vinhos para acelerar o coração”, no dia 17. O casal de masters of wine Susie Barrie e Peter Richards, que farão pela primeira vez, juntos, uma prova em Portugal, terão a seu cargo a prova “A Taste of History: Portugal’s fine White Wines”, dia 18. E, no dia 19, o jornalista do PÚBLICO Manuel Carvalho ficará a cargo da masterclass “Porto, as Seduções de um Vinho Clássico”.
Percebe-se a escolha do nome que Dirceu Vianna Júnior fez para a sua prova. Em causa estarão vinhos do quilate do Quinta do Crasto Vinha da Ponte 2016, o Casa Ferreirinha Reserva Especial 2014, o Adega do Mouchão Tonel 3-4 de 2011, o Júlio B. Bastos de 2012, o Scala Coeli 2008 Alicante Bouschet, o Vale Meão 2008 ou o Bágeiras Colheita de 2000.
Já na prova de brancos, os masters of wine britânicos escolheram uma série de vinhos que permitirão uma viagem pelo tempo – e servirão como atestado do enorme potencial que os brancos portugueses têm para envelhecer com nobreza. Estarão em prova o Luís Pato Vinhas Velhas 1990, o Gloria Reynolds Art & Tradition 2007, o Colheita 2013 de Anselmo Mendes, o Villa Oliveira Vinha do Províncio 2012, o Guru Vinha da Calçada 2020 e o Sidecar, de Susana Esteban, de 2022. A prova será em inglês.
A última masterclass, dedicada ao vinho do Porto, começará com um Porto Branco de 1940 das caves da Quinta do Vallado. A prova continua com um Garrafeira da Niepoort de 1948 e logo a seguir com um Colheita da Quinta do Noval de 1968. O capítulo dos Porto envelhecidos em casco encerrará com um Taylor’s Very, Very Old Port. Para rematar, dois Vintage de grande porte: um consagrado Dow’s de 1980, certamente o melhor deste ano, e um surpreendente Ramos Pinto de 1982.