Alexandre Homem Cristo será o “número 2” da Educação
Pedro Cunha e Ana Maria Paiva completam o elenco liderado por Fernando Alexandre no “superministério”.
Foi um dos porta-vozes da Aliança Democrática durante a campanha para a área da Educação e, também por isso, chegou a ser uma das hipóteses aventadas para ser ministro do sector. Chega mesmo ao Governo, mas como o secretário de Estado e da Educação. Alexandre Homem Cristo tem 39 anos (nasceu a 12 de Fevereiro de 1985) e será o "número 2" do novo "superministério".
A equipa do Ministério da Educação, Ciência e Inovação – liderado por Fernando Alexandre – fica completa com Pedro Cunha, que será secretário de Estado da Educação, e Ana Maria Paiva, secretária de Estado da Ciência.
Homem Cristo é licenciado em Ciência Política na Universidade Católica Portuguesa e mestre em Política Comparada pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, de acordo com a sua pequena biografia no site do Observador, jornal com o qual colaborou como cronista durante vários anos. Foi assessor parlamentar do CDS-PP entre 2012 e 2015, na última ocasião em que os “populares” estiveram aliados ao PSD no Governo.
É presidente e co-fundador da QIPP, uma organização sem fins lucrativos ligada ao desenvolvimento de políticas públicas. Foi conselheiro no Conselho Nacional de Educação e é vogal do conselho coordenador da Sedes – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social.
Há dois anos, enquanto coordenador do grupo de trabalho de Educação da Sedes, defendeu um “imprescindível alargamento da base de recrutamento de professores”. Homem Cristo dizia na altura ao PÚBLICO que via como “uma inevitabilidade recrutar pessoas vindas de outras áreas profissionais” para dar aulas.
“Não se trata de um problema, mas de uma oportunidade”, prosseguia o novo secretário de Estado. “Seria uma possibilidade de trazer para as escolas pessoas com formações muito ricas e que podem melhorar a oferta que as escolas têm para os seus alunos.”
A mesma proposta da Sedes defendia a criação de uma shortlist de cinco professores que reúnem condições para serem contratados por uma escola, uma espécie de “ponto intermédio” entre o actual modelo de contratação dos professores, baseado na sua graduação profissional, e um sistema aberto, em que são as próprias escolas a escolher quem vai integrar os seus quadros.
A possibilidade de dar maior autonomia às escolas na hora de escolher os seus professores foi uma das propostas do anterior Governo, que acabaria por cair face à contestação dos sindicatos de professores.
Não era algo muito diferente daquilo que Homem Cristo defendeu num artigo no Observador, em Março de 2022. “Reformar estruturalmente o recrutamento dos professores implica, por associação de ideias, extinguir o actual modelo de colocação centralizada e atribuir às escolas mais poder de decisão sobre que professores desejam nas suas escolas”, escreveu então.
“É a reforma com que todos os governantes concordam secretamente, mas que nenhum ousa implementar, sob ameaças de sindicatos e receios de favorecimentos nas escolhas dos directores escolares.” Agora estará nas suas mãos fazê-la, ainda que com uma maioria curta da AD no Parlamento como cenário político.
A outra escolha de Fernando Alexandre para o ministério é uma surpresa. Trata-se de Pedro Cunha, que em Fevereiro do ano passado foi nomeado pelo então ministro da Educação, o socialista João Costa, como Director-Geral da Educação.
Pedro Cunha é psicólogo educacional e foi director do Programa Gulbenkian Conhecimento. Quando foi nomeado para a DGE estava a concluir o doutoramento em Psicologia, na especialidade de Psicologia Educacional, Instituto Superior de Psicologia Aplicada, instituição onde também fez a sua licenciatura e mestrado.
Ciência fica com especialista em IA
Outra surpresa neste “superministério” é Ana Paiva. Há mais de 30 anos que a engenheira informática trabalha em inteligência artificial e robótica, assumindo agora um novo desafio: a secretaria de Estado da Ciência. Professora e cientista no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa desde 2013, tem focado a sua investigação nos mecanismos afectivos e sociais da robótica – as chamadas competências sociais.
A especialista em inteligência artificial defende que há um papel para os robôs em contexto lectivo, como no “apoio a professores” ou nas “actividades”, bem como na aprendizagem posterior em casa, como defendeu em entrevista à Revista Lusófona de Educação em 2019. “Portugal devia apostar alto e dizer assim: ‘Nós queremos ser os melhores da Europa em IA”, referiu em 2019, na Vodafone Business Conference, também em 2019.
Ana Paiva participou em vários agências e organizações da área da robótica e da inteligência artificial, incluindo no Fórum Económico Mundial, bem como no Comité de Aconselhamento Científico da Science Europe, uma associação dedicada ao financiamento da investigação. Nos próximos tempos, os desafios da nova secretária de Estado da Ciência terão sobretudo que ver com este tópico: dinheiro. A previsibilidade do financiamento, a situação dos cientistas precários e a renovação das parcerias com as universidades norte-americanas deverão ser dos primeiros dossiers a entrar no gabinete de Ana Paiva.