A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) suspendeu a negociação de acções da SAD do FC Porto. A decisão foi comunicada na manhã desta terça-feira, com o regulador a aguardar agora "informação relevante ao mercado". O PÚBLICO apurou que esta decisão foi tomada após várias declarações proferidas na entrevista ao dirigente transmitida na SIC esta segunda-feira sobre operações financeiras, afirmações estas que carecem da devida confirmação aos mercados.

Pouco depois de ser conhecida a suspensão das acções portistas, a SAD do FC Porto emitiu um comunicado em que esclareceu que está a ser negociada "uma reformulação" da dívida de médio e longo prazo "num montante estimado de 250 milhões de euros". Os "dragões" garantem que esta operação tem "uma taxa de juro competitiva em termos de mercado".

Neste mesmo comunicado, os "azuis e brancos" falam ainda da assinatura de um contrato com uma "reputada empresa internacional", negócio que passará pela injecção de capital num montante estimado "entre os 60 e os 70 milhões de euros". Isto permitirá elevar os capitais próprios em igual montante e traduzir-se-á na participação minoritária desta entidade internacional numa das empresas com direitos comerciais do grupo FC Porto.

Quando questionado sobre as operações financeiras em curso, Pinto da Costa "passou a bola" a Fernando Gomes, vice-presidente com o pelouro das finanças, dizendo desconhecer os detalhes dos negócios e reiterando a confiança no administrador financeiro.

Tal como revelou na apresentação dos planos para a nova academia do clube, Fernando Gomes está a dias de abandonar o FC Porto, com o presidente portista a propor para a gestão financeira do clube o empresário João Rafael Koehler, um dos fundadores da empresa de gestão de capital de risco Quadrantis. Esta entidade foi mencionada durante a entrevista ao dirigente, dada a ligação à antecipação de receitas que permitiram cumprir obrigações de tesouraria. Os juros que o FC Porto paga, contudo, não foram revelados, mas Pinto da Costa garantiu que o clube não ficará refém de fundos.

Pinto da Costa investigado

A CMVM está actualmente a investigar a compra de acções da SAD por parte de Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente dos "dragões". O dirigente comprou acções a 1 de Fevereiro, menos de 30 dias antes da apresentação das contas, prática proibida por lei. Numa entrevista à SIC transmitida esta segunda-feira, Pinto da Costa desvalorizou a investigação do regulador.

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"Acho um caso ridículo. Sou accionista do FC Porto desde o primeiro dia e tenho vindo a comprar, conforme as minhas disponibilidades, acções do FC Porto. Um dia antes de fazer um mês da Assembleia-Geral [de apresentação de contas], comprei duas ou três mil acções do FC Porto. Isso é um crime enorme", ironizou.

Na passada quinta-feira, as acções da FCP SAD fecharam a negociar nos 1,15 euros. A informação da CMVM foi comunicada já depois das 10h, não tendo sido feita qualquer transacção das acções portistas esta terça-feira.

Esta é já a segunda vez em 2024 que a CMVM pede explicações à SAD portista. Na apresentação da recandidatura à presidência, Pinto da Costa prometeu aos sócios capitais próprios positivos, algo que contradizia as informações detidas pelo regulador que apontavam um valor negativo nesta rubrica. Dias depois, a SAD do FC Porto emitiu um comunicado em que corrigiu as declarações do dirigente, afirmando que os capitais próprios ficariam "próximos de um montante positivo".

A informação prestada pela SAD viria a confirmar-se meros dias depois, com os portistas a apresentarem no relatório e contas 8,5 milhões de euros em capitais próprios negativos.

Notícia actualizada às 11h29: acrescentado esclarecimento da FC Porto SAD