Regresso de André usado para questionar padrões morais da realeza
Grupo antimonárquico Republic criticou o facto de o príncipe André se ter juntado à família real no serviço religioso do Domingo de Páscoa. Imprensa lembra passado de “sua alteza bufão”.
A presença do príncipe André na cerimónia real da Páscoa foi considerada uma vergonha por vários quadrantes da sociedade britânica, nomeadamente pelos que clamam pelo fim da monarquia constitucional que existe no país.
“André não tem lugar na vida pública enquanto não cooperar com a polícia e não responder aos seus acusadores. As acusações contra ele dificilmente poderiam ser mais graves e o seu comportamento para evitar a responsabilização tem sido vergonhoso”, declarou Graham Smith, em nome do grupo de campanha Republic.
Numa nota de humor, a cronista do Guardian Marina Hyde sugere, nesta segunda-feira, que “alguém substitua urgentemente o príncipe André ou venda-o aos sauditas na janela de transferências”.
O duque de Iorque continua a ser acusado de graves crimes sexuais no Reino Unido e no estrangeiro e documentos divulgados, no início do ano, por um tribunal da Florida, EUA, sugerem que participou em encontros sexuais com raparigas menores de idade. Há dois anos, pagou a Virginia Guiffre para evitar um processo judicial em que era acusado de abuso sexual. O valor do acordo não foi divulgado, mas o grupo Republic fala em cerca de 12 milhões de libras (mais de 14 milhões de euros).
Uma sondagem realizada em Janeiro mostrou que uma grande maioria quer que André seja devidamente investigado pela polícia, enquanto metade do público quer que Carlos III fale e aborde estas graves alegações contra o seu irmão.
Mas, a recente aparição de André com a família, observou Graham Smith, vai ao encontro do que “muitos suspeitavam”, de que “a retirada de André de muitos aspectos da vida pública tem a ver com relações públicas e não com normas ou responsabilidade”.
“André não estaria lá sem a bênção do seu irmão mais velho. Carlos claramente não está interessado nas acusações e quer continuar como se nada tivesse acontecido. Apenas ajudou a proteger o seu irmão dos seus acusadores, não ajudou os acusadores nem fez nada para acalmar os receios de outras vítimas de abusos perpetrados por homens poderosos”.
Para Smith, este comportamento de Carlos III prova que “a realeza não representa os valores e padrões que a maioria das pessoas espera de quem ocupa um alto cargo”. E conclui: “Um chefe de Estado eleito enfrentaria um escrutínio muito mais forte e seria responsabilizado em tais circunstâncias.”
“Sua alteza bufão”
A presença de André num momento público da família real veio reacender o interesse sobre o príncipe, com os tablóides a recordarem o seu passado pouco digno ou mesmo real.
Por exemplo, “sua alteza bufão” era como André era conhecido nos corredores do Ministério dos Negócios Estrangeiros, quando vestiu a pele de representante especial do Reino Unido para o comércio e investimento internacionais. Algo que em nada contribuiu para melhorar a sua reputação, mas que “lhe permitia andar a nadar pelo mundo, às custas do Governo, a jogar golfe”, escreve Tina Brown em The Palace Papers, considerando que o príncipe era “uma máquina de enganar”.
O Daily Mail recupera o livro de Brown para expor como André era o desespero do Ministério dos Negócios Estrangeiros e recordar os seus “contactos com a ralé estrangeira repreensível, que iam muito além do que era explicável ou aceitável”. Entre eles, Sakher El Materi, genro de Ben Ali, Presidente da Tunísia entre 1987 e 2011, que mais tarde foi condenado a 16 anos de prisão por corrupção e fraude, ou Saif Kadhafi, filho do antigo líder líbio Muammar Kadhafi, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.
Mas foi a amizade com Jeffrey Epstein, um financeiro que acabaria por se suicidar na sua cela, em 2019, acusado de tráfico sexual de menores, que conduziu à queda de André, que se afastou dos deveres reais após várias empresas e instituições lhe terem retirado apoio. Mais tarde, no início de 2022, foram-lhe retirados os títulos e as patentes militares, nomeadamente de vice-almirante da Marinha Real, como resposta a uma carta aberta de mais de 150 veteranos, que exortavam a Isabel II por um pulso mais forte. Pouco depois, André chegou a acordo com Virginia Giuffre, evitando o confronto em tribunal. Mas a história não ficou esquecida.
Num documentário de 2023 (Secrets of Prince Andrew, da A&E), André e Epstein são descritos como melhores amigos, recordando uma visita do príncipe à ilha privada de Epstein, em 2000, onde o magnata instruiu uma jovem a ter sexo com o monarca, segundo o testemunho da modelo Lisa Phillips, que estava no local.
Paralelamente, Epstein e Ghislaine Maxwell eram presenças constantes nas propriedades da família real (e até em eventos privados da família). O biógrafo real Andrew Lownie avalia no documentário que “Epstein e Ghislaine foram convidados para o coração da monarquia britânica”.