Assédio: actual direcção do CES pede desculpa às vítimas

Em carta aberta, publicada na sequência do relatório da comissão independente, instituição também promete agir contra “acções individuais” que resultaram nas situações confirmadas.

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CES reconhece assédio e abuso na instituição e promete agir Sérgio Azenha (arquivo)
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A direcção do Centro de Estudos Sociais (CES) publicou um pedido de desculpa, em forma de carta aberta, a todas as pessoas que foram vítimas de assédio ou abuso moral e sexual no contexto daquela instituição científica. E promete agir sobre as “acções individuais” que foram validadas no contexto do trabalho da comissão independente, que esta quarta-feira divulgou as suas conclusões.

O texto dos dirigentes do CES é divulgado na sequência da publicação do relatório da comissão independente nomeada para esclarecer as denúncias que surgiram no último ano contra dirigentes da instituição, nomeadamente o seu fundador e antigo presidente, Boaventura de Sousa Santos.

“Face ao relatório agora conhecido”, a direcção do centro de investigação “declara o seu repúdio e indignação pelas práticas de assédio e abuso moral e sexual e de abuso de poder cometidas por investigadores/as do CES”, conforme denunciado perante a comissão independente, começam por escrever os dirigentes.

Na carta aberta, que é assinada pela direcção e pela presidência do conselho científico do CES, os responsáveis dirigem-se “às pessoas que se consideram vítimas de comportamentos de assédio ou abuso no contexto de actividades do CES”, para apresentar um “pedido de desculpas público” face à “experiência pela qual passaram, pelo sofrimento pessoal que daí terá resultado, e pelo silêncio que tiveram de enfrentar no seio do CES”.

O CES “deixa claro” estar “disponível para uma escuta activa”, para quem quiser “ser ouvido e/ou procurar formas de reparação”, sem precisar se essa pode ter a forma de indemnização pecuniária como tem sido defendido, por exemplo, no contexto dos casos de abuso sexual na Igreja Católica.

Os dirigentes do centro de estudos admitem que o relatório da comissão independente “indica muito claramente que a “documentação apresentada e as audições realizadas, tanto de pessoas denunciantes como de pessoas denunciadas, não permitiram esclarecer indubitavelmente a existência ou não da ocorrência de todas as situações comunicadas à comissão independente”.

Agir contra “acções individuais”

O CES promete também “agir” sobre as “acções individuais” que resultaram nas situações reportadas à comissão. Também não é esclarecido se isso implica comunicar os factos apurados e as conclusões do relatório conhecido esta quarta-feira às autoridades judiciais.

É a própria direcção do CES quem lembra que “a protecção da confidencialidade e do anonimato” que presidiu à metodologia de trabalho da comissão “condicionou a disponibilização de informação concreta”. “Não estamos, assim, certos de tudo o que terá ocorrido, quando e como, mas sabemos que os testemunhos foram validados pela comissão independente”, sublinham.

O CES reconhece também a necessidade de agir sobre as “falhas institucionais” detectadas pela comissão, nomeadamente “a ausência de mecanismos adequados para a prevenção do assédio”, que “permitiram condições para formas de abuso de poder”.

“Estamos decididos a tomar todas as iniciativas para que haja consequências destas denúncias e para que as más práticas que foram identificadas não se voltem a repetir no CES”, prometem ainda os dirigentes.

O CES é liderado por Tiago Santos Pereira, que foi eleito director em Junho do ano passado. Sucedeu no cargo a António Sousa Ribeiro, depois de terem sido realizadas eleições antecipadas para todos os órgãos, na sequência das denúncias de abusos na instituição. O conselho científico é agora presidido por Ana Cordeiro Santos.

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