Lucros da Inditex, dona da Zara, aumentam 30% para 5,4 mil milhões de euros em 2023

Os resultados do ano devem-se à aposta na moda de uma gama mais elevada na Zara ou na Massimo Dutti, em simultâneo com o crescimento de um segmento mais económico noutras etiquetas, como a Lefties.

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A Inditex tem 286 lojas em Portugal Reuters/Vincent West

A Inditex, proprietária da Zara, anunciou nesta quarta-feira que o lucro líquido de 2023 subiu 30% para 5,4 mil milhões de euros. O crescimento é resultado de uma aposta da gigante têxtil espanhola em clientes de luxo, ao mesmo tempo que conseguiu competir em preço com a rival H&M.

O lucro da empresa para o último ano fiscal esteve em linha com as expectativas dos analistas numa sondagem da Bolsa de Valores de Londres.

A Inditex alargou a vantagem sobre a H&M durante o ano transacto graças à capacidade de corresponder de forma mais eficaz às tendências da moda a partir de fornecedores próximos e, simultaneamente, crescer no segmento de vestuário a preços mais elevados destinado a compradores de gama alta. Esta última estratégia visou também isolar a empresa liderada por Marta Ortega do rápido crescimento da Shein, fundada na China.

As vendas em loja e online cresceram 10% e atingiram um recorde de 35,9 mil milhões de euros, entre Fevereiro de 2023 e Janeiro de 2024. Ainda assim, as vendas estão a crescer a um ritmo mais lento do que o aumento de 17,5% registado no ano passado.

O mercado espanhol representa 14,8% das vendas, além dos 48,7% que totaliza a Europa. Seguem-se os países da América do Norte, com 19,6%, e a Ásia, com 16.9%. Não se especifica o caso português, com a Inditex a referir apenas que tem 286 lojas em todo o território nacional — por comparação, Espanha tem 1157 lojas, Itália tem 334 e o México 399, ficando Portugal em quarto lugar na tabela.

A marca estrela do grupo, a Zara, começou a aumentar os preços mais cedo do que a H&M, em resposta à subida da inflação e como parte de uma mudança para oferecer peças especiais a um mercado mais sofisticado, enquanto outras marcas da empresa, como a Lefties, crescem na gama económica.

Todavia, ao longo de dois anos, a Zara aumentou menos os preços médios das colecções de estação para estação do que a H&M e outros concorrentes, de acordo com a empresa de informação especializada em retalho Edited.

O preço médio do vestuário na Zara para a colecção Primavera 2024 no mercado dos EUA é 11% superior ao de há dois anos, enquanto o valor das peças na H&M e na Mango é superior em 20% em relação a 2022, detalha a analista Krista Corrigan.

Os investidores esperam que a empresa continue a ter um desempenho superior ao da sua arqui-rival H&M. O preço das acções está cotado a 21,8 vezes os lucros esperados para os próximos 12 meses, enquanto o rácio preço/lucros da H&M é de 16,1.

“A Inditex conseguiu o mais difícil, que era ser capaz de crescer e fazer passar a inflação em 2023. Conseguiu-o porque tem uma melhor proposta de valor do que concorrentes como a H&M”, declara José Ramon Iturriaga, gestor de fundos da Abante Advisors, que detém acções da Inditex. E prevê: “Não creio que este ano seja mais difícil para a Inditex.”

No relatório completo enviado às redacções, o grupo da Corunha avança que a colecção Primavera/Verão, que chegou recentemente às lojas, já está a ter bom desempenho e, entre 1 de Fevereiro e 11 de Março, as vendas aumentaram 11% face ao mesmo período de 2023.

Para os próximos dois anos, prevêem investir 900 milhões de euros “para aumentar as capacidades logísticas”, bem como 1,8 mil milhões de euros em 2024 só para “optimizar o espaço comercial”, com foco na “integração tecnológica” nos 213 mercados onde a Inditex opera. E exemplificam com a aposta num novo centro de distribuição para a Zara em Saragoça com 286 mil metros quadrados, bem como outra estrutura semelhante para a mesma etiqueta nos Países Baixos com 123 mil metros quadrados.

Nesta terça-feira, a concorrente espanhola Mango anunciou um lucro líquido de 172,1 milhões de euros, em 2023, mais do que duplicando os 81 milhões de euros de 2022. Os relatórios financeiros das duas empresas surgem na mesma semana em que a Inditex foi pressionada a tornar pública a lista completa de fornecedores, para que se possam avaliar os riscos da sua cadeia de abastecimento.