Quem ganhou e quem perdeu nas legislativas

Ainda com quatro mandatos por atribuir (dos círculos da emigração), a disputada noite eleitoral deste domingo teve uns vencedores mais indiscutíveis do que outros e derrotados que quase não o foram.

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A disputada noite eleitoral deste domingo teve uns vencedores mais indiscutíveis do que outros e derrotados que quase não o foram
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Vencedores

Luís Montenegro

Nove anos depois de ter vencido as eleições legislativas, a coligação PSD/CDS volta a ficar à frente do PS, embora com uma vitória tão curta que, aritmeticamente, ainda pode ser revertida com a eleição de quatro deputados pelos círculos da emigração. Mas desta vez não haverá uma maioria de esquerda no Parlamento, como aconteceu em 2015, pelo que será impossível haver uma "geringonça". Por outro lado, ainda que Luís Montenegro tenha colocado linhas vermelhas ao Chega, dizendo que não fará qualquer acordo com o partido de André Ventura, é muito pouco expectável que haja uma moção de rejeição a um Governo da AD. Até porque um “chumbo” do Governo criaria um vazio de governação. Montenegro será primeiro-ministro. Por quanto tempo?

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André Ventura

O Chega passou de 7% e de 12 deputados nas legislativas de 2022 para 18% e 48 parlamentares. Com o resultado agora conseguido, o Chega sobe de patamar e descola dos restantes partidos mais pequenos: passa a estar mais próximo da representação parlamentar de PSD e PS do que de partidos como IL, BE ou CDU. A direita radical populista passa a valer cerca de um quinto do Parlamento e o Chega supera mesmo o resultado do PRD em 1985 (e garante mais um deputado do que a APU de Álvaro Cunhal, que em 1979 elegeu 47 deputados em 250). Puxando pelos galões deste resultado, André Ventura reiterou querer integrar o próximo governo.

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Rui Tavares

O co-líder do Livre é um dos vencedores indiscutíveis da noite eleitoral. O Livre, que em 2019 e em 2022 elegeu sempre apenas um deputado, ficando aquém de um grupo parlamentar, elegeu quatro deputados (dois por Lisboa, um pelo Porto e outro por Setúbal) e irá ter uma bancada. Mas o bom resultado do Livre não se mede apenas pelo número de mandatos, mas também pelo crescimento percentual e em termos absolutos. Em 2022, no território nacional, o partido teve 1,28% e um total de 68.975 votos, passando agora para 3,26% e perto de 200 mil votos.

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Rui Rocha

O líder da IL enfrentou muita resistência interna, viu sair do partido alguns antigos dirigentes, incluindo a adversária nas eleições internas de 2023, Carla Castro. Mas Rui Rocha resistiu. Os liberais mantiveram intacto o grupo parlamentar de oito deputados – Rocha, no seu discurso, falou mesmo em nove deputados, mas não reforçou a bancada –, cresceram mais de 40 mil votos face às últimas legislativas e aumentarem a percentagem de votos. E estão prontos para "dançar o tango" com o PSD, que deverá formar governo e aceitar algumas das propostas da IL para garantir o seu voto, sobretudo em Orçamentos do Estado.

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Mariana Mortágua

A coordenadora do Bloco de Esquerda teve uma vitória com sabor agridoce. Depois de uma campanha mobilizadora, o Bloco esperava recuperar da derrota eleitoral de há dois anos e reforçar o grupo parlamentar. O partido acaba por ficar precisamente com os mesmos cinco deputados, no entanto cresceu mais de 30 mil votos para 274 mil. Perante a descida de PS e CDU, o facto de os bloquistas terem conseguido crescer acaba por ser um resultado favorável para Mariana Mortágua, que na hora de falar do resultado ficou longe de lançar foguetes, limitando-se a dizer que o BE “resistiu”.

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Vencidos

Pedro Nuno Santos

O secretário-geral do PS partia para esta eleição com a difícil missão de disputar a vitória após oito anos de governação socialista e depois da sucessão de trapalhadas que redundaram precisamente nestas legislativas. Apesar do resultado renhido, Pedro Nuno Santos figura entre os derrotados na medida em que é o rosto do PS que ficou abaixo dos 30%, depois de há dois anos ter tido mais de 41%. E, sobretudo, porque dada a vitória da AD e a maioria parlamentar do lado direito do Parlamento, o PS não terá margem para formar governo. Todavia, o resultado taco a taco com o vitorioso está longe de ser uma tragédia.

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Paulo Raimundo

Esta foi mais uma derrota eleitoral para a coligação entre o PCP e o PEV (que volta a ficar de fora do Parlamento). Na sua primeira eleição nacional, o líder dos comunistas tinha como desafio não só recuperar da debacle eleitoral de 2022, mas também inverter o trajecto de erosão eleitoral de um partido cuja base de apoio vive um processo de envelhecimento em curso. Mas mais do que falhar estes dois objectivos, a CDU perdeu representação parlamentar (passa de seis para quatro deputados) e vê evaporar-se o tradicional bastião eleitoral do Alentejo, região onde não obteve nenhum mandato.

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Inês Sousa Real

O PAN parece ter estagnado e, embora tenha crescido em percentagem de votos, foi o único partido parlamentar que não conseguiu formar uma bancada na Assembleia da República. A ambiguidade não ajudou. Depois de, em Setembro, o partido ter surpreendido ao apoiar a coligação PSD/CDS na Madeira, muitas têm sido as vozes internas discordantes da estratégia de Inês Sousa Real. Houve mesmo três desfiliações de autarcas eleitos. Durante a campanha eleitoral, a líder do PAN foi dizendo que não daria o apoio à AD, ao contrário do que fez na Madeira. Polémicas à parte, Inês Sousa Real não galvanizou as hostes e não conseguiu colocar na agenda política as suas causas.

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Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República, que já é recordista em dissoluções da Assembleia da República, tem agora que lidar com um dos piores cenários dos seus pesadelos. Marcelo Rebelo de Sousa deverá esperar pelo apuramento dos resultados dos círculos da Europa e Fora da Europa para ouvir os partidos e depois nomear o primeiro-ministro. Mas se dar posse a um governo da sua cor política, ao fim de oito anos de mandato, possa ser doce, o mais provável é que os próximos dois anos sejam amargos. Conseguirá Marcelo chegar ao fim do mandato, em 2026, sem novas eleições?

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Tribunal Constitucional

Os juízes do Palácio Ratton, ao permitirem que os diferentes partidos se registem de modo diverso aquando da respectiva inscrição junto do Tribunal Constitucional, possibilitam que, depois, nos boletins de voto as várias forças partidárias possam surgir ora com letras maiúsculas, ora com minúsculas. Uma ausência de uniformidade que gera confusões como as que foram observadas nestas legislativas de 10 de Março e que têm como efeito imediato o deturpar do resultado eleitoral. Sem a confusão gerada entre as siglas do ADN e da AD, o primeiro nunca teria passado de 11 mil votos em 2022 para cerca de 100 mil neste domingo.

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