O lugar das mulheres no comentário político

Carta Aberta às Equipas Editoriais dos Meios de Comunicação Social. Neste Dia da Mulher, as signatárias reivindicam mais voz, mais espaço, mais tempo para o comentário político no feminino.

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SEBASTIAO ALMEIDA
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As mulheres continuam sub-representadas no espaço mediático do comentário político em Portugal e essa sub-representação é cada vez menos compreensível numa sociedade democrática, aberta e plural, 50 anos depois do 25 de abril. Esta carta aberta é um apelo às direções e coordenações editoriais dos meios de comunicação social para que integrem a paridade de género nos painéis de comentário. O lugar das mulheres também é na política e no comentário político. Aumentar a percentagem de comentadoras trará novos pontos de vista e enriquecerá, certamente, a análise que é feita da realidade.

Foi divulgado ontem, dia 7 de março de 2024, um relatório do MediaLab sobre o “Comentário político nos media” que se centra nos comentadores políticos residentes, com espaço semanal de comentário político fixo na televisão, como já fez em edições passadas, mas acrescenta também algumas rádios e meios online. Os dados são de maio de 2023. Uma das variáveis que são analisadas é o género dos comentadores e as conclusões são preocupantes em relação à representação de mulheres no comentário político em Portugal.

Foram analisados 214 espaços de comentário (78 em nove canais de televisão, 90 em quatro estações de rádio e 46 em três meios online), e conclui-se que pouco mais de um quarto (28%) desses espaços de comentário são ocupados por mulheres. Dependendo do meio e da marca, há mais ou menos igualdade de género, por exemplo, há mais igualdade na rádio (34,4%) e menos na imprensa online (19,6%). Na televisão é possível comparar com anos anteriores e em 2023 há uma redução da percentagem de mulheres no comentário político televisivo, de 28% em 2022 para 24% em 2023.

Em relação à análise por marca, torna-se claro que há marcas com muito maior equilíbrio de género como a RTP2 e RTP3 na televisão, a TSF e Antena 1 na rádio, e o PÚBLICO na imprensa online do que outras que têm um comentário político “masculinizado” como a SIC, a TVI e a CMTV na televisão, a Rádio Renascença e Rádio Observador, e o Expresso e o Observador online. Podemos dizer que há uma escolha editorial, que pode já ter mudado desde a recolha de dados, ou que pode vir a mudar, e esse é o nosso apelo! Que haja uma mudança com vista a incluir mais mulheres, quer nos programas com painéis, quer em programas de assinatura.

Ao contrário do que se passa nos cargos políticos, não há nenhuma “Lei das Quotas” para estes espaços de comentário nos meios de comunicação social, mas, de certa forma, vários dos argumentos que justificam essa paridade na política poder-se-iam aplicar também a estes espaços nos media. Pode-se simplificar e dizer que o comentário político é “apenas” uma opinião individual, mas, quando é feito em meios de comunicação social com impacto de grande escala, torna-se também um instrumento que molda a opinião pública.

Um aumento de mulheres nos espaços de comentário político iria não só melhorar a representatividade (de experiências, vivências, opiniões, etc.), mas também alterar a visão de que a política é um lugar “de homens”, o que, por si só, pode inibir e desmobilizar a participação de mais mulheres em diferentes formas de ação política e cívica.

Não há nenhum motivo para haver uma menor representatividade da mulher. Há mulheres com trabalho reconhecido na política, na academia, no jornalismo, na investigação científica, em áreas como a Sociologia ou a Ciência Política, entre outras, que têm a capacidade e, em muitos casos, já a visibilidade para ocuparem esses espaços de comentário. Neste Dia Internacional da Mulher, as signatárias desta carta aberta, reivindicam mais voz, mais espaço, mais tempo para o comentário político no feminino.

Sofia Ferro Santos, investigadora; Carla Castelo, vereadora da Câmara Municipal de Oeiras, ex-jornalista; Adriana Cardoso, farmacêutica e analista política; Amanda Lima, jornalista e comentadora; Ana Gomes, política e comentadora; Ana Paula Martins, ex-bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e candidata a deputada da Assembleia da República; Assunção Cristas, professora da Nova School of Law; Beatriz Gomes Dias, vereadora na Câmara Municipal de Lisboa; Berta Nunes, deputada da Assembleia da República; Carla Castro, economista e gestora; Carmo Afonso, advogada, colunista e comentadora; Catarina Martins, política e comentadora; Catarina Carvalho, jornalista e fundadora da Mensagem de Lisboa; Catarina Neves, jornalista; Cecília Carmo, empresária e ex-jornalista; Edite Estrela, deputada da Assembleia da República; Eva Brás Pinho, advogada estagiária e candidata a deputada da Assembleia da República; Fernanda Câncio, jornalista; Filipa Roseta, arquitecta, professora universitária e vereadora da Câmara Municipal de Lisboa; Guadalupe Amaro, médica-veterinária e cronista; Isabel Mendes Lopes, deputada municipal em Lisboa e candidata a deputada da Assembleia da República; Isabel Moreira, deputada da Assembleia da República; Joana Filipe, assessora política e candidata a deputada da Assembleia da República; Joana Mortágua, deputada da Assembleia da República; Leonor Caldeira, advogada e cronista; Maria Luísa Aldim, consultora em Fintech e candidata a deputada da Assembleia da República; Maria João Amorim, jornalista; Marina Gonçalves, ministra, jurista e candidata a deputada da Assembleia da República; Marisa Matias, deputada no Parlamento Europeu e candidata a deputada da Assembleia da República; Marisa Torres da Silva, professora universitária; Patrícia Gonçalves, professora universitária e candidata a deputada da Assembleia da República; Patrícia Robalo, arquitecta e candidata a deputada da Assembleia da República; Paula Cardoso, fundadora do Afrolink, militante anti-racista; Regina Ramos Bastos, ex-eurodeputada e candidata a deputada da Assembleia da República; Safaa Dib, editora e assessora política; Susana André, jornalista; Susana Gaudêncio, artista, investigadora e professora universitária; Susana Peralta, economista e professora universitária; ​Teresa Fragoso, especialista em igualdade de género; Teresa Mota, investigadora e candidata a deputada da Assembleia da República

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