As mulheres não existem
No Dia da Mulher do meio século da democracia, celebremos o muito que ela nos trouxe: o voto, o divórcio, o aborto, as quotas. Reclamemos, igualmente, o que ainda nos deve.
Vivi parte da infância numa aldeia, com os meus avós maternos. A poucas casas de distância havia gritos femininos recorrentes, à hora a que o homem voltava da taberna. Em casa dos meus avós, gente do campo e pouco instruída, as cenas de violência eram sempre criticadas: a linha vermelha estava lá. Os meus avós pouco mais podiam fazer do que condenar a selvajaria daquele homem porque no final dos anos 70 o crime de violência doméstica não era público. Nem sei se o denunciariam; ainda hoje não se mete (que chegue) a colher entre marido e mulher.
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