Educação, ciência e cultura, desaparecidas em campanha

Assistimos, como sempre, a uma campanha eleitoral focada em questões de estratégia e retórica política, sem qualquer rasgo mobilizador para o país.

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O nosso país só terá futuro se os agentes políticos que o propõem governar acreditarem que o mais importante factor diferenciador é a qualificação dos cidadãos e que por isso a educação, a ciência e a cultura têm que ser pilares fundamentais do seu discurso e praxis. De nada serve os partidos inscreverem estes temas nos seus programas, se esta discussão não passar para o primeiro plano dos compromissos públicos e para a visibilidade da campanha eleitoral, numa discussão que não pode ser de nicho, mas pública e aberta à sociedade civil.

O desinteresse por estes temas revela falta de preparação não só para compreenderem o futuro do país, como também a complexa teia internacional onde este se insere, e da qual, em grande medida, depende. Uma discussão que deve estar em plano de igualdade com a dos grandes temas que estruturam esta campanha, tais como a crise da habitação, da saúde, da justiça, o desemprego jovem, etc…

Numa sociedade de conhecimento, onde o aspecto diferenciador são as tomadas de decisões inteligentes, informadas e criativas, só com cidadãos preparados e cultos, habituados a um segundo olhar sobre a realidade, nos iremos desenvolver.

No entanto, continuamos apenas focados nos problemas e na sua solução, sem nos darmos conta da multiplicidade de oportunidades que estão à frente dos nossos olhos. O discurso é sempre reactivo e nunca prospectivo, O olhar é sempre para trás e nunca para o futuro. O enfoque é sempre nos problemas e nunca nas oportunidades.

Nem sequer nos apercebemos de que Portugal é um país com condições únicas para se desenvolver numa sociedade global, onde os nossos recursos naturais, a nossa identidade cultural, a nossa posição geoestratégica, o nosso clima, a nossa língua falada em inúmeras partes do mundo, a nossa invejável diversidade ambiental, o mar, entre tantos outros, são recursos extraordinários.

Temos tanto e nem disso nos apercebemos, pois a falta de qualificação que atravessa todos os sectores da sociedade é uma venda opaca que não nos deixa descobrir um sem fim de oportunidades.

Estamos no limiar da explosão de inteligência artificial algo que irá exponenciar ainda mais os desafios do futuro, afectando a muito curto prazo todos os sectores da sociedade com desafios inimagináveis, mas também criando oportunidades de uma dimensão incalculável.

E, no entanto, a nossa impreparação levará a que sejamos apenas espectadores e presas de um progresso que passará ao nosso lado, pois o debate sobre o perfil da educação das futuras gerações, bem como da adaptação da nossa economia, nem sequer é parte do discurso político. O mundo já deu uma volta sobre si próprio e nós nem notámos – não é bom andar pela vida desatento.

A própria postura competitiva dos agentes políticos e avessa a quaisquer compromissos, bem patente na campanha, não augura nada de positivo. Os problemas mais prementes, nacionais e internacionais, exigem consensos. Está na hora de abandonar os modelos competitivos do passado e abraçar os modelos colaborativos do futuro, sem os quais nunca resolveremos os grandes temas que nos afligem, de que são exemplo as alterações climáticas, nem aproveitaremos as grandes oportunidades que se nos apresentam.

A título de exemplo — alguém se preocupa com a questão da água, um imperativo nacional de sobrevivência, num país que a cada dia sofre os efeitos da desertificação, com a maioria das bacias hidrográficas a sul depauperadas? Alguém se questiona se um desenvolvimento baseado no turismo é frágil e não sustentável e debate as alternativas? Alguém se preocupa com as urgentes e difíceis reformas do Estado que obrigam a consensos alargados? Alguém tem trazido para a discussão a questão da guerra às portas da União Europeia? São temas que assustam e não trazem votos.

Assistimos, como sempre, a uma campanha eleitoral focada em questões de estratégia e retórica política, sem qualquer rasgo mobilizador para o país. Os pais costumam perguntar aos filhos “o queres ser quando fores grande?” Mas alguma vez os governantes do nosso país pensaram, formularam ou debateram com a sociedade civil, o futuro que queremos como nação?

Sim, precisamos de discutir o futuro, a sociedade em que gostaríamos de viver e o modelo de país que imaginamos. Ouvir e debater com os que pensam sem narrativas fixas, dentro e fora dos partidos. Devemos potenciar a sociedade civil, historicamente frágil no nosso país, para que possa criar novos discursos, promover a renovação e contaminar o poder político. Sem isso, a democracia ir-se-á reduzindo a serviços mínimos, afastando-se de padrões do desenvolvimento e até de padrões éticos, abrindo a porta a novos populismos.

Cara classe política, o papel da educação, da ciência e da cultura na futura governação é essencial! Temos que o repetir até à exaustão! Sem um povo qualificado continuaremos eternamente num ciclo de crises que nem entendemos, com soluções que nunca descobrimos, arredados das oportunidades que se nos oferecem, condenados a um desenvolvimento anémico e a um país sem equidade, com uma pobreza endémica inaceitável em democracia.

O maior activo de futuro é um povo culto, informado e capacitado para tomar as melhores decisões em sociedades cada vez mais complexas, aproveitando plenamente as oportunidades que estas lhe oferecem e inventando as que ainda não existem. Tal terá reflexos na qualidade das nossas vidas, da nossa democracia e, porque não dizê-lo, na nossa felicidade.

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