PRR para a Cultura soma 319 milhões mas mais de 80% do montante está por executar
Os números vêm do mais recente Relatório Semanal de Monitorização, que indica estarem aprovados 225 milhões de euros, com 35 milhões pagos e 22 milhões em trânsito para os beneficiários finais.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na área da Cultura chega ao final do ano com uma dotação total de 319 milhões de euros, mas mais de 80% do montante está por executar.
Os números vêm do mais recente Relatório Semanal de Monitorização do PRR, datado de 13 de Dezembro, que indica estarem aprovados 225 milhões de euros em projectos na área da Cultura, com 35 milhões pagos, o que corresponde a 11% da dotação total, havendo 7% (22 milhões) em trânsito para os beneficiários finais.
Estes valores incluem os reforços feitos este ano de dez milhões de euros na componente de transição digital, que assim ascendeu aos 103 milhões de euros, e de 66 milhões de euros na área do património cultural, que subiu aos 216 milhões.
O PRR para cultura começou por ter, em 2021, uma dotação total de 243 milhões de euros: 150 milhões para intervenções em 46 museus, palácios, monumentos e nos teatros São Carlos, D. Maria II e Camões, na área do património; e 93 milhões de euros para a transição digital de equipamentos culturais públicos.
O reforço de 66 milhões de euros (65,730 milhões), anunciado em Novembro pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), reserva perto de 61 milhões para acções de "requalificação e conservação de museus, monumentos e palácios públicos", e os restantes 4,8 milhões para os teatros nacionais.
Ainda de acordo com a DGPC, o reforço restante responde ao aumento dos custos, tendo em conta que as estimativas foram feitas sobre preços de 2019.
O reforço na área do património cultural alarga os investimentos, inicialmente concentrados em Lisboa e nos museus, palácios e monumentos sob gestão da DGPC, a diferentes regiões do país. As 30 novas intervenções previstas estendem-se de Norte a Sul, aos Açores e à Madeira, e têm no Alentejo, onde passam dos 3,5 milhões de euros para os 12,7 milhões, um dos maiores crescimentos.
Em Maio, quando foi anunciada a reprogramação financeira, a directora regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, disse à Lusa que o reforço da verba de sete milhões de euros para essa região, no entanto, só resolveria uma pequena, embora relevante, parte dos problemas, defendendo que o próximo Quadro Plurianual de Investimentos deveria "acautelar várias frentes de intervenção", já sinalizadas.
Na área da transição digital, o calendário do PRR Cultura inicial apontava já para a concretização a partir do final de 2024. A gestão do investimento nesta área passa pelo Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliações Culturais (GEPAC) e a programação financeira inicial previa valores mais altos para 2023 (42,9 milhões de euros) e 2024 (24,6 milhões), com o "grosso" da aplicação a concretizar-se a partir do último trimestre do próximo ano.
Entre os projectos previstos está a renovação tecnológica das 239 bibliotecas públicas da Rede Nacional e de 155 cineteatros e centros de arte contemporânea, incluindo capacitação para a projecção digital.
A digitalização do património cinematográfico português à guarda da Cinemateca, e de mais de 40 milhões de documentos dos Arquivos e da Biblioteca Nacional também estão no programa, assim como a cobertura wifi de museus, palácios e monumentos.
O apoio à transição digital das livrarias e a edição de livros electrónicos e audiolivros estão entre os projectos a concretizar a partir de 2024, assim como o apoio à tradução de obras literárias, para o qual foi aberto um concurso em Novembro.
No início de Abril, numa audição parlamentar sobre a execução do PRR, o director-geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos, e a directora-geral do GEPAC, Fernanda Heitor, identificavam concursos desertos, aumentos de preços na ordem dos 30% a 40% sobre 2019, e um processo de litigância no concurso da plataforma de empréstimo de livros electrónicos como as maiores dificuldades na execução do PRR Cultura.
A "especificidade da mão-de-obra", sobretudo na área de "conservação e restauro", era um dos principais motivos para a inexistência de proponentes aos concursos, como disse então João Carlos dos Santos, dando como exemplo os casos do Convento de Cristo, em Tomar, do Museu Nacional de Arte Antiga e do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
De acordo com a lista inicial de intervenções na área do património, o Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) e o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) seriam os equipamentos que beneficiariam de maior investimento do PRR: 27,9 milhões de euros para o primeiro, 24,5 milhões para o segundo, mobilizando mais de um terço da componente.
O MNA encerrou em Abril de 2022, prevendo-se que reabra em 2025. No passado dia 14, o director do museu, António Carvalho, disse à Lusa que as obras estruturais só terão início em 2025, com o valor final ainda dependente de projectos não fechados de arquitectura e especialidades.
O TNSC, por seu lado, deverá encerrar depois da estreia da opereta A Viúva Alegre, a 2 de Janeiro, estimando um período de dois anos para obras.
Quanto ao Teatro Nacional D. Maria II, em obras desde Janeiro, adiou a reabertura por um ano, para o início de 2025, mantendo até lá o projecto Odisseia Nacional, de digressão pelo país. O Teatro Camões, sede da Companhia Nacional de Bailado, que encerrou em Julho, deverá reabrir em Abril de 2024.
O Teatro Nacional São João, no Porto, que fechou para obras grande parte do ano de 2021 e não foi abrangido pelo PRR da Cultura, obteve aprovação de três candidaturas ao Fundo Ambiental do programa, no valor de 3,5 milhões de euros, para melhoria de eficiência energética do edifício da Praça da Batalha, do Mosteiro de São Bento da Vitória (que encerra no segundo semestre de 2024) e do Atelier de Guarda-Roupa.
Alheio ao PRR, o Museu do Design e da Moda (MUDE) prevê reabrir no segundo trimestre de 2024, sete anos depois do início das obras de requalificação do edifício na Baixa de Lisboa.
O MUDE encerrou em Maio de 2016, mas as obras pararam de 2018 a 2021, por insolvência da construtora que ganhara o primeiro concurso, tendo o processo voltado à "estaca zero".