Nuno Magalhães diz que polícias “não podem perder a razão pelos meios usados”
Paula Texeira da Cruz, antiga ministra da Justiça, admite que protesto no Capitólio foi um “cercear da liberdade”.
Nuno Magalhães, antigo secretário de Estado da Administração Interna, considera que as forças de segurança "não podem perder a razão" pelos meios usados e que a violação da lei num protesto de polícias “não é um quadro aceitável”. Em declarações ao PÚBLICO, o antigo dirigente centrista alinha com a posição do líder do CDS, que no dia seguinte ao protesto condenou, veementemente, a forma como decorreu a manifestação de elementos das forças de segurança frente ao teatro Capitólio, onde decorria o debate televisivo entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Também a social-democrata Paula Teixeira da Cruz discorda da forma como as polícias protestaram.
“Os polícias têm razão e não podem perder a razão pelos meios que usam, a violação da lei por parte das forças de segurança não é um quadro aceitável”, afirma o antigo secretário de Estado da Administração Interna (2002-2005), apesar de considerar que “não houve um sequestro”.
Apontando o dedo ao Governo em funções – “é incompreensível como é que criou este problema” –, Nuno Magalhães considera que “o que deve preocupar é o aparecimento de movimentos inorgânicos alimentados pelas redes sociais e que ultrapassam as estruturas sindicais”.
Depois de uma manifestação convocada por sindicatos para o Terreiro do Paço e comunicada nestes moldes à Câmara de Lisboa, centenas de elementos das forças de segurança caminharam até Parque Mayer na altura em que se ia iniciar o debate, tendo permanecido junto à única entrada do recinto até ao fim do frente-a-frente. As forças de segurança têm protestado por causa da atribuição de um suplemento de missão à Polícia Judiciária que não as abrangeu.
A manifestação de segunda-feira levou à abertura de um inquérito por parte da Inspecção-geral da Administração Interna (IGAI).
Forma de "pressão" e não de "coacção"
Já a antiga ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, lembra que “o direito à manifestação é livre dentro daquilo que a lei estabelece”. “Se não cumpriram o que está na lei, estamos a falar de um quadro fora da legalidade. Somos ainda um Estado com quadro de legalidade democrática”, afirma.
A antiga vereadora social-democrata em Lisboa considera que o que viu foi uma forma de pressão. “É evidente que não se tratou de uma manobra de coacção, mas houve uma manobra de pressão, que não é em si punível em termos legais”, afirma ao PÚBLICO, reconhecendo, no entanto, que, tendo em conta a zona onde se situa o teatro Capitólio, a concentração deu origem a um “cercear da liberdade”.
No arranque do debate, ambos os candidatos foram questionados sobre o protesto, com Montenegro a reiterar a intenção de abrir um processo negocial com os representantes das forças de segurança, se vier a formar governo. À sua frente, Pedro Nuno Santos foi peremptório: “Não se negoceia sob coacção.”
No dia seguinte, numa arruada em Lisboa, Luís Montenegro mostrou desconhecer em que moldes ocorreu a alteração do percurso do protesto, mas garantiu não se ter sentido intimidado. Na mesma acção de campanha, o líder do CDS, Nuno Melo, teve outra posição e foi directo na condenação: o protesto “não respeitou a lei e a ordem”.
Dois dias depois, na quarta-feira, questionado pelos jornalistas, o líder da AD concordou com a abertura do inquérito por parte da IGAI, mas não quis dar por certa a violação da lei. "Se houve, não sei se houve, um exorbitar daquilo que é a perspectiva e legalidade que estava prevista, deve ser naturalmente indagado. Acho muito bem que se abra um inquérito a esse propósito", disse.