Com Yulia Navalnaya na sala, ministros da UE prometem “todo o apoio” à oposição russa

Regime de sanções da UE para a defesa dos direitos humanos terá o nome do activista russo que morreu numa prisão da Sibéria na sexta-feira. A viúva de Navalny veio a Bruxelas pedir justiça.

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Yulia Navalnaya, viúva de Alexey Navalny, com Josep Borrell em Bruxelas EPA/ALESSANDRO DI MEO
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Assumindo o legado e o combate político do marido contra o regime do Kremlin, Yulia Navalnaya, a viúva de Alexei Navalny, o activista e adversário político de Vladimir Putin que morreu na passada sexta-feira em circunstâncias ainda por apurar numa prisão na Sibéria, veio a Bruxelas pedir justiça — e apelar aos líderes europeus para se manterem ao seu lado, e de todos aqueles que aspiram a viver numa “Rússia livre”, contra o Presidente russo, e “os seus amigos, os bandidos de uniforme, os vigaristas, os ladrões e os assassinos” que paralisaram o país.

“A principal coisa que podemos fazer por Alexei e por nós é continuar a lutar, mais ferozmente do que nunca, com toda a raiva, ira e ódio contra aqueles que se atreveram a matar o nosso futuro”, afirmou Yulia Navalnaya, numa mensagem em vídeo que foi divulgada pouco antes de entrar no edifício Europa para reuniões consecutivas com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e com o alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, e os 27 ministros dos Negócios Estrangeiros do bloco.

Como justificou o chefe da diplomacia europeia, para além da homenagem à memória de Alexei Navalny, o Conselho da UE quis “enviar uma forte mensagem política” e expressar “todo o seu apoio à oposição russa que luta para ter um sistema democrático”, tal como pedira a sua viúva. “Continuaremos a apoiar o povo russo que quer viver em liberdade, da mesma maneira que continuaremos a apoiar o povo da Ucrânia” a combater a agressão de Moscovo, garantiu Borrell.

Uma proposta para dar o nome de Navalny ao regime jurídico de sanções da UE em defesa dos direitos humanos foi aceite pelos ministros, que nos próximos dias explorarão outras medidas políticas em resposta a mais este “desafio” do Presidente da Rússia.

Borrell antecipou sanções contra todos os indivíduos que estiveram directamente envolvidos na morte do activista russo de 47 anos. Yulia Navalnaya prometeu divulgar “os nomes e as caras de quem cometeu este crime”; o alto representante garantiu que a UE “olhará para toda a estrutura institucional e do sistema penitenciário da Rússia”. “Mas não nos devemos esquecer que o verdadeiro responsável por esta morte é o próprio Vladimir Putin”, declarou.

Essa foi a convicção expressa por todos os participantes na reunião, depois de ouvirem a “voz muito poderosa e corajosa” de Yulia Navalnaya, confirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho. “Não temos dúvidas nenhumas de que Navalny morre porque o regime que Putin criou na Rússia levou à sua morte, da mesma maneira que Humberto Delgado morre por causa do regime liderado por Salazar em Portugal”, comparou. O desaparecimento de Navalny “é mais uma demonstração da natureza do regime”, apontou Gomes Cravinho, que aconselhou as pessoas que ainda tinham dúvidas sobre as responsabilidades do Kremlin a “reconsiderarem as suas posições”.

A menos de uma semana do segundo aniversário da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, o Conselho de Ministros de Negócios Estrangeiros da UE esteve a discutir, mais uma vez, o que pode e deve ser feito para garantir o fornecimento de munições e outro material militar às forças de Kiev, com Josep Borrell a confirmar, no final, que a sua mensagem para os 27 foi para avançarem mais encomendas no âmbito dos 60 contratos-quadro para a aquisição conjunta de munições que já foram abertos pela Agência Europeia de Defesa. Portugal já avançou com uma primeira encomenda para a compra de munições de 155 milímetros no valor de um milhão de euros, informou a ministra da Defesa, Helena Carreiras, na última quinta-feira.

A UE vai falhar a sua meta de entregar um milhão de munições à Ucrânia até ao final de Março, mas Josep Borrell não desiste do objectivo e até garante que os Estados-membros poderão reclamar o reembolso, por via do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, das munições que comprarem fora da União Europeia para entregar à Ucrânia. “Se houver uma melhor oferta de fora da Europa, que seja mais barata, mais rápida e mais conveniente, o financiamento estará disponível”, assegurou.

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