Viúva de Navalny apela aos russos para que lutem contra Putin pela liberdade
“Quero viver numa Rússia livre, quero construir uma Rússia livre”, disse Yulia Navalnaya numa mensagem em vídeo em que acusou as autoridades russas de esconderem o cadáver de Alexei Navalny.
Yulia Navalnaya, a viúva do líder da oposição russa, Alexei Navalny, disse esta segunda-feira que vai continuar a luta do seu marido por uma Rússia livre, e apelou aos seus apoiantes para combaterem o Presidente russo, Vladimir Putin, com mais fúria do que nunca.
A morte de Navalny priva a díspar oposição russa do seu líder mais carismático e corajoso, numa altura em que Putin se prepara para uma eleição que o manterá no poder pelo menos até 2030.
Numa mensagem em vídeo, com uma duração de nove minutos, Navalnaya, de 47 anos, disse que Putin matou Navalny e que, ao fazê-lo, roubou-lhe o marido e o pai dos seus dois filhos.
A viúva de Navalny disse que a única resposta é continuar a luta do seu marido por uma Rússia livre e próspera. Os russos "querem viver de forma diferente, mesmo que pareça haver pouca esperança", disse.
"Quero viver numa Rússia livre, quero construir uma Rússia livre", disse Navalnaya na mensagem em vídeo, intitulada "Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny".
"Peço-vos que se coloquem ao meu lado", afirmou. "Peço-vos que partilhem a raiva comigo. Raiva, ira, ódio contra aqueles que se atreveram a matar o nosso futuro."
Navalnaya acusou as autoridades russas de esconderem o cadáver de Navalny e de esperarem que os vestígios do agente nervoso Novichok desaparecessem do corpo.
"Vladimir Putin matou o meu marido", disse Navalnaya. "Ao matar Alexei, Putin matou metade de mim, metade do meu coração e metade da minha alma."
"Mas ainda tenho a outra metade, e ela diz-me que não tenho o direito de desistir. Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny, continuar a lutar pelo nosso país."
O Kremlin negou o envolvimento na morte de Alexei Navalny e afirmou que as alegações ocidentais de que Putin foi responsável pela morte são inaceitáveis. O Presidente russo avisou que haverá uma resposta forte se potências estrangeiras tentarem interferir nas eleições marcadas para meados de Março.
Navalny ficou inconsciente e morreu subitamente na sexta-feira, depois de uma caminhada na colónia penal Lobo Polar, na Sibéria, onde cumpria uma pena de 30 anos de prisão, informou o serviço prisional. O Kremlin disse esta segunda-feira que a investigação sobre a morte está em curso.
Navalnaya sempre apoiou o marido nas suas batalhas com as autoridades russas, comparecendo nas audiências em tribunal, estando ao seu lado em comícios e aguardando a libertação das penas de prisão.
"A principal coisa que podemos fazer por Alexei e por nós próprios é continuar a lutar. Mais desesperadamente, mais ferozmente do que antes", disse na sua mensagem em vídeo.
"Eu sei, parece que já não é possível. Mas precisamos de mais, de nos juntarmos todos num só punho forte e bater com ele neste regime louco — em Putin, nos seus amigos, nos bandidos de uniforme, nos ladrões e nos assassinos que paralisaram o nosso país."
Navalny ganhou proeminência há mais de uma década ao documentar o que ele dizia ser a vasta corrupção e opulência dos "vigaristas e ladrões" que governam a Rússia de Putin.
"Sabemos exactamente porque é que Putin matou Alexei há três dias", disse Navalnaya. "Vamos contar-vos em breve. Vamos descobrir com certeza quem cometeu este crime e como o cometeu. Vamos dizer os nomes e mostrar as caras", prometeu.