Montenegro e Rocha assumem que há caminho para um acordo pós-eleitoral

Líder da AD e presidente da Iniciativa Liberal mostraram diferenças nas propostas sobre impostos e saúde. Rui Rocha admitiu futuro entendimento entre os dois: “A solução está nesta mesa”

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Luís Montenegro e Rui Rocha tiveram um debate de possíveis parceiros José Alves
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Se dúvidas houvesse, o frente-a-frente entre Luís Montenegro e Rui Rocha confirmou, com clareza, que há terreno para um entendimento pós-eleitoral, apesar de algumas diferenças nos impostos, na saúde até uma divergência sobre a natureza do capital da Caixa Geral de Depósitos. No debate deste domingo, na SIC Notícias, o presidente da Iniciativa Liberal lançou um repto em directo: entregou dez desafios ao líder da Aliança Democrática (AD). Ficou feito o convite para um acordo depois de 10 de Março.

“A solução para o país está nesta mesa. E mais do que isso: qualquer voto que não está representado nesta mesa atrasa a solução, é um voto que bloqueia a solução e que pode ser manter o PS no Governo”, afirmou Rocha, tentando segurar o voto nos liberais ao apontar que a “proposta do PSD não é suficiente para a mudança” de que o país precisa.

Luís Montenegro aceitou a folha entregue pela moderadora do debate, Clara de Sousa, leu as propostas dos liberais, e acabaria por assumir algum alívio por não constar a privatização da Caixa Geral de Depósitos. “É de princípio, não é negociável. Ainda bem que não está aqui nos dez desafios”, disse, sorrindo. O líder social-democrata defendeu a necessidade de o país ter um banco público como “válvula de segurança” para qualquer situação externa inesperada e para dar uma “garantia aos depósitos” dos portugueses.

Já Rui Rocha sustentou que o banco “não deve ser público” por poder estar “sujeito a uma intervenção política” como a que defende a líder do Bloco, por exemplo. Sobre a TAP, ambos os líderes concordaram com a privatização.

De resto, Montenegro e Rocha mostraram estar disponíveis para aproximar posições, como nas propostas de impostos. O líder dos liberais deu um exemplo: o PSD propõe que um trabalhador a ganhar 1500 euros, em média, por mês, tenha um desgravamento fiscal "de cinco euros por mês face à proposta do PS", enquanto a proposta da IL baixa em 109 euros.

Montenegro contrapôs com outras medidas complementares à redução das taxas marginais do IRS como a medida do IRS Jovem (taxa máxima de 15%) e a isenção fiscal aos prémios dos trabalhadores até ao valor de um salário como estímulo à fixação dos mais novos em Portugal e à produtividade.

Mas estas medidas, notou Rocha, destinam-se a uma faixa da população “muito estreita”. Desta vez, foi Montenegro a conciliar: “Temos condições para aproximar posições porque o objectivo é baixar a carga fiscal”. Momentos depois, a propósito da necessidade de estimular a produtividade mesmo na função pública, o líder da IL completou: “O Luís tem razão, são visões compatíveis”. A AD e a IL são a face da mesma moeda com diferenças? “São uma moeda com valor com duas faces importantes”, respondeu o líder dos liberais.

Na saúde, foi novamente visível a proximidade de posições embora com uma “divergência”. Foi o próprio Montenegro a expô-la: “Nós entendemos que a base do sistema é o SNS. (…) Depois como não tem uma capacidade ilimitada, não consegue garantir esse acesso, o sector social e a iniciativa privada devem colaborar. A base da IL tem uma visão concorrencial, é diferente. (…) o país não está capacitado para dar essa liberdade completa”. Foi a vez de Rocha atenuar a divergência: “Há terreno comum. Os dois somos bem capazes de nos entender sobre as PPP”.

Foi igualmente idêntica a posição sobre a necessidade de envolver todos os partidos numa futura reforma da justiça. Montenegro incluiu os contributos do Chega mas também os dos agentes judiciários.

Sobre a situação política na Madeira, as posições distanciaram-se. O líder da AD manteve-se prudente e remeteu para a decisão do Presidente da República de dissolver a assembleia regional, embora dando uma palavra de confiança a Miguel Albuquerque. Já Rui Rocha reiterou que o presidente do Governo regional demissionário “não tinha condições” para continuar e defendeu só as eleições resolvem a crise. Lá, a IL não está disposta a ficar ao lado do PSD regional. Mas Montenegro já tinha salvaguardado a necessidade de respeitar a autonomia regional nos órgãos de governo próprio e igualmente nos partidos.

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