Porque mentem (n)os debates?

A confusão é una, a conclusão é clara: o modelo de debate promovido pelos principais canais de televisão falha em cumprir seu propósito.

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Nas últimas eleições legislativas, o protagonismo não se revelou apenas nos palcos políticos, mas também nos bastidores da comunicação. O resultado surpreendeu muitos quando descobrimos que as sondagens, longe de retratarem a realidade, moldaram uma narrativa distorcida. No pós-eleições, pouco tempo restou até descobrirmos o artífice da maioria absoluta – não um jurista, não um político, mas um consultor de comunicação. Foi Luís Paixão Martins que nos revelou, a todos, “como mentem as sondagens”.

Agora, voltamos a nossa atenção para outra arena de influência: os debates políticos. Decorridos apenas dois anos, acredito que há um novo “mentiroso” para o qual nos devemos preparar.

Estamos no meio dos confrontos televisivos que antecedem as próximas eleições legislativas. Após alguns desses embates, entre as acusações, os “factos alternativos” e a gritaria, é evidente que o grande derrotado não é nenhum candidato, mas a verdade e o dever de esclarecimento dos eleitores.

A confusão é una, a conclusão é clara: o modelo de debate promovido pelos principais canais de televisão falha em cumprir seu propósito. Em vez de esclarecer, promove um espectáculo vazio, baseado em soundbites e acusações mútuas. Este formato afasta-nos do que é realmente essencial, especialmente quando enfrentamos ameaças tão sérias em diferentes facetas do extremismo político.

Mais uma vez, o poder da comunicação entra em cena. Os debates televisivos exercem uma influência significativa na perceção pública sobre os candidatos e as propostas políticas. O formato privilegia o estilo sobre o conteúdo, favorecendo aqueles com habilidades retóricas mais afinadas em detrimento daqueles com propostas mais substanciais. No fundo, o modelo vigente condensa os oradores, comprime o pensamento e, tendo como objetivo informar, acaba por provocar o seu contrário a desinformação, a mentira, o engodo.

Além disso, a forma como os candidatos são retratados durante os debates, seja pela escolha das câmaras, pelas expressões faciais ou pela linguagem corporal pode influenciar a impressão dos eleitores. Este fenómeno conduz-nos a uma polarização da opinião pública, onde os candidatos são frequentemente reduzidos a estereótipos e caricaturas. Essa simplificação do discurso político pode obscurecer questões complexas e relevantes, prejudicando a capacidade dos eleitores de fazer escolhas informadas.

Esta falta de esclarecimento é evidente. Basta ler as caixas de comentários das redes sociais ou conversar com um colega de trabalho para perceber que os eleitores não estão satisfeitos com o atual modelo de debates. Chegamos, pois, à ironia de haver mais espaço dedicado para o comentário e para o rescaldo dos curtíssimos debates, em que se alega que as propostas foram parcamente explicadas. A ironia das ironias.

No entanto, a solução pode estar mais próxima do que pensamos. Quem quiser fazer alguma previsão não precisa de acreditar nas cartas de tarot. Nos jovens está a resposta. O comportamento destas camadas na forma como consomem notícias e participam na política sugere que precisamos de repensar urgentemente a maneira como são conduzidos os debates políticos.

É por isso que, em nome da verdade, me junto ao repto de Gaspar Macedo. Desafio Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, bem como outros candidatos dispostos, a um debate sem tempo definido, numa plataforma digital. Colocando a transparência e o esclarecimento no centro da mesa, veremos de que forma conseguem explicar aos portugueses o teor das propostas e o fundamento das contas. Vamos perceber como pensam o papel da literacia financeira, o futuro da família, a Europa, o potencial da Zona Económica Exclusiva para Portugal ou de que forma estaríamos preparados para um conflito militar em massa e que obrigações seriam impostas aos jovens.

Sem interrupções constantes de um moderador, sem a garantia de eficácia das frases fáceis, e junto das camadas jovens. Porque é principalmente o nosso futuro que está em causa.

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