Bancos israelitas executam sanções dos EUA contra colonos que atacaram palestinianos na Cisjordânia
Autoridades norte-americanas já identificaram quatro colonos que terão atacados palestinianos na Cisjordânia. Há a registar pelo menos uma vítima mortal.
Os bancos israelitas confirmaram na segunda-feira que estavam a cumprir as sanções impostas pelos Estados Unidos contra quatro colonos da Cisjordânia acusados de violência contra palestinianos, apesar dos apelos do ministro das Finanças e de outro membro do Governo, próximo da extrema-direita, para que as sanções não fossem executadas.
Num sinal do crescente descontentamento de Washington com a conduta israelita nos territórios ocupados da Cisjordânia – mesmo quando os aliados cooperam na guerra de Gaza – o Presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu uma ordem executiva na quinta-feira proibindo as transacções financeiras de quatro homens.
O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que “não havia necessidade” de tais medidas, enquanto os seus aliados de coligação ultranacionalista, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, emitiram condenações mais fortes.
“Não somos a república das bananas dos Estados Unidos nesta matéria e não permitiremos que os nossos cidadãos sejam prejudicados”, declarou Smotrich aos jornalistas no domingo, descrevendo as acusações contra os colonos como “totalmente irreais”. O governante disse que utilizaria ainda “todos os instrumentos disponíveis” para impedir que os bancos israelitas aplicassem as sanções. Tanto Smotrich como Ben-Gvir têm um apoio significativo entre os colonos judeus da Cisjordânia.
Referindo-se aos colonos da Cisjordânia na segunda-feira, Smotrich disse que as sanções visavam meio milhão de israelitas que lutavam contra o “terrorismo” e eram agora considerados inimigos e não aliados. “Não é possível que um cidadão israelita com dinheiro israelita num banco israelita seja privado de direitos e bens devido a uma ordem americana”, disse, acrescentando que estava em discussões com o regulador bancário sobre as opções legais.
No entanto, o próprio Banco de Israel afirmou que os bancos israelitas devem cumprir a decisão da Administração Biden.
“Evitar esses regimes de sanções pode expor os bancos a riscos significativos, incluindo riscos de conformidade, lavagem de dinheiro e combate ao financiamento de riscos de terrorismo, riscos legais e riscos de reputação”, explicou a autoridade bancária israelita num comunicado a que agência Reuters teve acesso. “Assegurar a conduta adequada e a actividade regular dos bancos em Israel é essencial para manter a actividade regular da economia.”
Banco cumprirá ordem legal
O Hapoalim, um dos dois maiores bancos de Israel, afirmou que respeita as sanções internacionais e que cumprirá qualquer ordem legal, embora se tenha recusado a discutir casos específicos.
O seu principal concorrente, o Leumi, não quis comentar. Mas Yinon Levi, um dos colonos sob sanções americanas, disse à rádio israelita Kan que o Leumi tinha congelado as suas contas privadas e comerciais, e anulado a sua tentativa de transferir dinheiro. Levi, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA, liderou um grupo de colonos de extrema-direita que agrediu civis palestinianos, queimou os seus campos e destruiu propriedades – acusações que o homem negou.
David Chai Chasdai, outro dos colonos sob sanções, disse a um jornal israelita que a sua conta no Postal Bank tinha sido congelada. O banco recusou-se a abordar qualquer caso específico, mas disse que é “obrigado a respeitar e cumprir as sanções legais internacionais e as ordens exigidas no sistema financeiro internacional”.
“Não estou envolvido em quaisquer acções violentas”, afirmou Chasdai, acrescentando que nunca foi investigado pelas autoridades israelitas, nem teve qualquer interacção legal com as autoridades americanas. De acordo com o Departamento de Estado, Chasdai liderou um motim em que foram incendiados veículos e edifícios e danificados bens na aldeia de Huwara, na Cisjordânia, o que resultou na morte de um civil palestiniano. A Reuters não conseguiu contactar Chasdai ou os seus advogados para obter uma resposta a esta acusação.
Numa declaração transmitida pela Rádio do Exército de Israel, Chasdai condenou as sanções como “uma desgraça nacional da mais alta ordem (...), ocorrendo sob um governo de direita, logo após o maior massacre na história do país” – uma referência aos ataques de 7 de Outubro.
As sanções seguem-se à imposição pelos EUA, em Dezembro, de proibições de vistos de viagem a pessoas envolvidas em actos de violência na Cisjordânia.